|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELEIÇÕES 2008 / PRESTAÇÃO DE CONTAS
Campanha está 83% mais rica que em 2004
Candidatos a prefeito nas capitais, em menor número que há quatro anos, recebem juntos R$ 17,9 mi no primeiro mês
Tesoureiros de partidos apontam, como explicação para o aumento da receita,
a maior fiscalização sobre
as contas após o mensalão
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os tesoureiros reclamam de
portas fechadas e telefonemas
não respondidos por potenciais
doadores, mas os números
mostram que a campanha de
2008, pelo menos nas 26 capitais estaduais, começou muito
mais rica do que a de quatro
anos atrás -naturalmente, no
caixa um, na doação legal.
É o que mostra a prestação de
contas do primeiro mês de
campanha, divulgada pelo Tribunal Superior Eleitoral. Segundo levantamento feito pela
Folha, entraram R$ 17,97 milhões nas contas de campanha
dos 156 candidatos a prefeito
nas capitais, um valor 83,5%
maior do que o total das doações nos primeiros 30 dias da
campanha de 2004, já descontada a inflação do período. Isso
ocorre apesar de naquele ano
ter havido mais candidatos a
prefeito nas capitais -173.
Em contabilidade separada, a
que registra as doações para comitês financeiros de prefeitos e
comitês financeiros únicos (incluindo vereadores), o aumento da arrecadação se repete. Foram R$ 13,47 milhões declarados em 2008 contra R$ 8,23
milhões de 2004 (valor atualizado), um salto de 63,6%.
Tradicionalmente, o primeiro mês de campanha, quando
ainda não há propaganda na
TV, é o mais fraco na receita.
Partidos
O crescimento ocorreu de
forma mais expressiva nos
maiores partidos. Os candidatos a prefeito do DEM somados
arrecadaram agora R$ 4,7 milhões no primeiro mês de campanha, 176% a mais do que no
mesmo intervalo em 2004. O
PT, na primeira eleição municipal depois do escândalo do
mensalão, viu a receita conjunta nas capitais mais do que dobrar, enquanto no PMDB ela
cresceu 35,8% em termos reais.
O PSDB teve crescimento na
conta em nome dos candidatos,
mas não na contabilidade dos
comitês (os dois dados não podem ser somados, pois há duplicidade de informações).
Entre os partidos médios, PP
e PTB tiveram aumentos substanciais, mas houve queda no
PDT, PSB, PC do B, PR e PPS.
Esta é a primeira campanha
municipal desde a mudança na
legislação, que foi uma resposta
ao mensalão. Além de tornar
obrigatória a divulgação mensal das contas das campanhas
(mas não dos doadores e fornecedores), a lei restringiu bastante a utilização de material
publicitário. Mas o objetivo de
reduzir os custos de campanha
não está sendo alcançado.
Tesoureiros de partidos consultados pela Folha atribuíram
o aumento na arrecadação ao
medo da fiscalização sobre o
caixa dois, depois do escândalo
de 2005. Em menor grau, também apontam o aquecimento
da economia. "Uma cultura da
formalização das doações está
ganhando espaço", diz Paulo
Ferreira, tesoureiro do PT, partido que gerou o valerioduto.
Para ele, a necessidade de
publicar balanços mensais agora incentiva a antecipação de
doações. "Mas eu continuo
com dificuldade. Peço 300 aos
doadores e recebo 30."
Saulo Queiroz, do DEM, vê
os doadores mais receptivos.
"Estamos arrecadando mais
porque temos candidatos competitivos em várias capitais
agora, como São Paulo, Rio de
Janeiro, Salvador e Fortaleza."
Segundo Queiroz, há um entendimento entre os candidatos de que é preciso tomar mais
cuidado com o caixa dois. "Até
a eleição municipal passada, os
candidatos e as empresas preferiam o caixa dois. As empresas não queriam ficar carimbadas como doadoras. Agora, é
imperativo doar dentro da lei."
No PSDB, o tesoureiro Márcio Fortes diz que a campanha
ficou mais cara após a mudança
na lei, principalmente para os
prefeitos. "Os vereadores antes
carregavam muito da campanha do prefeito em seus materiais de campanha. Mas agora
esses materiais estão proibidos, e o prefeito tem de gastar
mais para divulgar o número."
O que ainda é permitido, como as placas exibidas em semáforos por uma ou mais pessoas
de pé, é bem mais caro, diz ele.
"Muitos candidatos estão precisando de mais dinheiro no
começo da campanha e propõem ao doador que antecipe
sua contribuição, ainda que
num valor menor", diz Fortes.
Para Leodegar Tiscoski, tesoureiro do PP, esta eleição
"está diferente". "A mudança
na regra está favorecendo a
prestação de contas real." Segundo ele, muitos doadores estão prometendo abrir o cofre
mais próximo da eleição. Procurados, os tesoureiros de PTB
e PMDB não ligaram de volta.
Texto Anterior: Sem recursos, tucano ataca os visitadores Próximo Texto: Kassab espera converter popularidade em votos Índice
|