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SÃO PAULO
Programa "Começar de Novo", para desempregados com mais de 40 anos, não
tem financiamento definido; desempregados na faixa etária são 19,6% do total
Projeto de Marta omite fonte de receita
FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL
O "Começar de Novo", uma das
propostas de Marta Suplicy (PT)
que mais têm recebido destaque
em seu programa de TV, não possui fonte de financiamento definida e esbarra nas dificuldades que
pessoas com mais de 40 anos têm
em arrumar emprego, comprovadas por estatísticas.
A candidata admite que não sabe em que ritmo poderá implantar o programa, por desconhecer
a situação financeira que eventualmente herdará.
O projeto consiste em dar a pessoas com mais de 40 anos oportunidades de obtenção de um emprego, oferecendo cursos profissionalizantes, de gestão empresarial e de atualização.
A candidata afirma que conta
com a colaboração de empresas e
centrais sindicais, além de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador, sem dar maiores detalhes. Nada disso está garantido no
momento, no entanto.
De acordo com dados da Fundação Seade, há hoje, na região
metropolitana de São Paulo, 326
mil desempregados com mais de
40 anos (19,6% do total).
O problema está se agravando.
No período 1989-99, cresceu
86,2% a participação dos que têm
mais de 40 anos no total de desempregados. Para quem tem de
25 a 39 anos, houve um aumento
bem menor -9% (veja gráfico).
"A crise recessiva dos últimos
anos teve um efeito mais forte sobre os desempregados com mais
de 40 anos, tornando ainda mais
difícil a eles obter trabalho", afirma a economista Paula Montagner, do Seade.
A proposta de Marta para o
"Começar de Novo" não detalha
como tratar das dificuldades específicas da faixa etária.
O programa de governo petista
afirma apenas que vai "coordenar
ações esparsas existentes para auxiliar a reintegração ao mercado
de trabalho de homens e mulheres acima de 40 anos, desempregados e com experiência profissional, ligando as demandas da cidade com as capacidades disponíveis".
Em média, desempregados nesta faixa etária passam 67 semanas
à procura de trabalho. Esse período equivale a um ano, três meses e
quase 14 dias.
Já os que têm menos de 40 anos
procuram trabalho em média por
44 semanas (dez meses e quase
cinco dias), ainda de acordo com
o Seade.
Como consequência da dificuldade, muitos desempregados
com mais de 40 anos acabam desistindo de procurar trabalho e
engrossam o que o Seade chama
de "desemprego oculto pelo desalento".
Segundo a fundação, 13,5% dos
desempregados com mais de 40
anos estão na rubrica "desalento".
Há cinco anos, o índice era de
10,2%. Entre os menores de 40
anos, há 10,7% desempregados
por desalento (eram 5,6% há cinco anos).
Outra dificuldade que a petista
terá de enfrentar se eleita é a baixa
escolaridade média dos maiores
de 40 anos.
Dados do Centro de Solidariedade ao Trabalhador da Força
Sindical, fundado há dois anos
com o objetivo de oferecer cursos
profissionalizantes, atestam que
78,16% dos profissionais que conseguiram emprego, em todas as
faixas etárias, tinham pelo menos
o primeiro grau completo.
Segundo o Seade, apenas 36,3%
dos desempregados com mais de
40 anos têm esse nível de instrução.
Mais uma vez, Marta não diz como vai fechar esta lacuna -se vai
dar cursos supletivos, por exemplo. Limita-se a informar que pretende oferecer aulas "de matérias
como português e matemática".
Obstáculo
O Centro de Solidariedade da
Força Sindical emprega proporcionalmente menos pessoas acima dos 40 anos (11,4% dos que
procuram sua ajuda). No total,
16,7% dos desempregados que
buscam o serviço conseguem colocação.
"Um obstáculo que o prefeito
vai ter de superar é o fato de não
haver tradição de cursos profissionalizantes específicos para
maiores de 40 anos no Brasil. É
bem diferente ensinar informática, por exemplo, para faixas etárias diferentes", declara Montagner.
O programa de Marta cita o
Centro de Solidariedade da Força
Sindical como um dos possíveis
parceiros para a realização de cursos de requalificação.
O centro já está saturado. Para
este ano estão previstas 180 mil
vagas em 120 cursos, que vão de
informática avançada a hotelaria.
Atualmente, há uma fila de espera de 300 mil pessoas, o que pode resultar em até seis meses
aguardando vaga. Cada curso da
Força Sindical custa em média R$
205.
Tomando como base este valor
médio e multiplicando pelo número de desempregados maiores
de 40 anos em São Paulo, conclui-se que a prefeitura teria de gastar
cerca de R$ 66,8 milhões para requalificar todas as pessoas nesta
faixa.
A campanha petista não informa de onde virão estes recursos
-consideráveis, levando em
conta a difícil situação financeira
da prefeitura.
A verba é pouco menor que a
alocada pelo prefeito Celso Pitta
(PTN) no Orçamento deste ano
para o programa de renda mínima (R$ 74 milhões), que não saiu
do papel.
Pitta acabou tendo de utilizar
praticamente todo o dinheiro do
programa para saldar contratos
com fornecedores.
Essa mesma situação deve também ser enfrentada por Marta,
apesar de ela dizer que vai mudar
seu relacionamento com fornecedores.
"Na relação com os fornecedores, a prefeitura adotará uma política de pontualidade no pagamento dos compromissos assumidos por nós. Isso representará
uma economia substancial de recursos", afirma.
A candidata declara que vai se
servir das "capacidades disponíveis" (como o Centro de Solidariedade ao Trabalhador da Força
Sindical) e "coordenar os instrumentos de crédito" já existentes,
como FAT (Fundo de Amparo ao
Trabalhador).
O FAT custeia 80% dos cursos
do Centro da Força -foram cerca de R$ 34 milhões liberados este
ano para a central sindical.
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