São Paulo, segunda-feira, 25 de setembro de 2000

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SÃO PAULO
Programa "Começar de Novo", para desempregados com mais de 40 anos, não tem financiamento definido; desempregados na faixa etária são 19,6% do total
Projeto de Marta omite fonte de receita

FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL

O "Começar de Novo", uma das propostas de Marta Suplicy (PT) que mais têm recebido destaque em seu programa de TV, não possui fonte de financiamento definida e esbarra nas dificuldades que pessoas com mais de 40 anos têm em arrumar emprego, comprovadas por estatísticas.
A candidata admite que não sabe em que ritmo poderá implantar o programa, por desconhecer a situação financeira que eventualmente herdará.
O projeto consiste em dar a pessoas com mais de 40 anos oportunidades de obtenção de um emprego, oferecendo cursos profissionalizantes, de gestão empresarial e de atualização.
A candidata afirma que conta com a colaboração de empresas e centrais sindicais, além de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador, sem dar maiores detalhes. Nada disso está garantido no momento, no entanto.
De acordo com dados da Fundação Seade, há hoje, na região metropolitana de São Paulo, 326 mil desempregados com mais de 40 anos (19,6% do total).
O problema está se agravando. No período 1989-99, cresceu 86,2% a participação dos que têm mais de 40 anos no total de desempregados. Para quem tem de 25 a 39 anos, houve um aumento bem menor -9% (veja gráfico).
"A crise recessiva dos últimos anos teve um efeito mais forte sobre os desempregados com mais de 40 anos, tornando ainda mais difícil a eles obter trabalho", afirma a economista Paula Montagner, do Seade.
A proposta de Marta para o "Começar de Novo" não detalha como tratar das dificuldades específicas da faixa etária.
O programa de governo petista afirma apenas que vai "coordenar ações esparsas existentes para auxiliar a reintegração ao mercado de trabalho de homens e mulheres acima de 40 anos, desempregados e com experiência profissional, ligando as demandas da cidade com as capacidades disponíveis".
Em média, desempregados nesta faixa etária passam 67 semanas à procura de trabalho. Esse período equivale a um ano, três meses e quase 14 dias.
Já os que têm menos de 40 anos procuram trabalho em média por 44 semanas (dez meses e quase cinco dias), ainda de acordo com o Seade.
Como consequência da dificuldade, muitos desempregados com mais de 40 anos acabam desistindo de procurar trabalho e engrossam o que o Seade chama de "desemprego oculto pelo desalento".
Segundo a fundação, 13,5% dos desempregados com mais de 40 anos estão na rubrica "desalento". Há cinco anos, o índice era de 10,2%. Entre os menores de 40 anos, há 10,7% desempregados por desalento (eram 5,6% há cinco anos).
Outra dificuldade que a petista terá de enfrentar se eleita é a baixa escolaridade média dos maiores de 40 anos.
Dados do Centro de Solidariedade ao Trabalhador da Força Sindical, fundado há dois anos com o objetivo de oferecer cursos profissionalizantes, atestam que 78,16% dos profissionais que conseguiram emprego, em todas as faixas etárias, tinham pelo menos o primeiro grau completo.
Segundo o Seade, apenas 36,3% dos desempregados com mais de 40 anos têm esse nível de instrução.
Mais uma vez, Marta não diz como vai fechar esta lacuna -se vai dar cursos supletivos, por exemplo. Limita-se a informar que pretende oferecer aulas "de matérias como português e matemática".

Obstáculo
O Centro de Solidariedade da Força Sindical emprega proporcionalmente menos pessoas acima dos 40 anos (11,4% dos que procuram sua ajuda). No total, 16,7% dos desempregados que buscam o serviço conseguem colocação.
"Um obstáculo que o prefeito vai ter de superar é o fato de não haver tradição de cursos profissionalizantes específicos para maiores de 40 anos no Brasil. É bem diferente ensinar informática, por exemplo, para faixas etárias diferentes", declara Montagner.
O programa de Marta cita o Centro de Solidariedade da Força Sindical como um dos possíveis parceiros para a realização de cursos de requalificação.
O centro já está saturado. Para este ano estão previstas 180 mil vagas em 120 cursos, que vão de informática avançada a hotelaria.
Atualmente, há uma fila de espera de 300 mil pessoas, o que pode resultar em até seis meses aguardando vaga. Cada curso da Força Sindical custa em média R$ 205.
Tomando como base este valor médio e multiplicando pelo número de desempregados maiores de 40 anos em São Paulo, conclui-se que a prefeitura teria de gastar cerca de R$ 66,8 milhões para requalificar todas as pessoas nesta faixa.
A campanha petista não informa de onde virão estes recursos -consideráveis, levando em conta a difícil situação financeira da prefeitura.
A verba é pouco menor que a alocada pelo prefeito Celso Pitta (PTN) no Orçamento deste ano para o programa de renda mínima (R$ 74 milhões), que não saiu do papel.
Pitta acabou tendo de utilizar praticamente todo o dinheiro do programa para saldar contratos com fornecedores.
Essa mesma situação deve também ser enfrentada por Marta, apesar de ela dizer que vai mudar seu relacionamento com fornecedores.
"Na relação com os fornecedores, a prefeitura adotará uma política de pontualidade no pagamento dos compromissos assumidos por nós. Isso representará uma economia substancial de recursos", afirma.
A candidata declara que vai se servir das "capacidades disponíveis" (como o Centro de Solidariedade ao Trabalhador da Força Sindical) e "coordenar os instrumentos de crédito" já existentes, como FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador).
O FAT custeia 80% dos cursos do Centro da Força -foram cerca de R$ 34 milhões liberados este ano para a central sindical.


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