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Iurd fez remessa clandestina, diz relatório
Conta da Universal nos EUA recebeu, segundo a Procuradoria, R$ 18 mi por meio de sistema de casa de câmbio que evitava controle do BC
Transações investigadas ocorreram na segunda metade da década de 90, diz documento em poder do Ministério Público Federal
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério Público Federal
tem em seu poder documentos
que indicam o uso de uma casa
de câmbio chamada Diskline
para fazer remessas de pelo
menos R$ 17,9 milhões, em valores atualizados, para uma
conta bancária em Nova York
cuja beneficiária era a Igreja
Universal do Reino de Deus.
As remessas ocorreram, segundo as investigações, por
meio de dólar-cabo, um sistema clandestino de transações
internacionais que foge do controle do Banco Central. Por esse sistema, combatido pela Polícia Federal desde que foi descoberto, em meados dos anos
90, doleiros do país abastecem
contas de brasileiros no exterior sem que o BC tenha conhecimento das operações.
É uma espécie de compensação paralela entre contas bancárias abertas no exterior em
nome de empresas "offshore"
sediadas em paraísos fiscais. O
dinheiro é entregue pelo cliente ao doleiro, no Brasil, em espécie. Simultaneamente, o
mesmo valor, excluída a "taxa
de administração" cobrada pelo doleiro, é transferido de uma
conta aberta fora do Brasil em
nome de empresa de fachada
controlada pelo doleiro. Operações desse tipo são consideradas, nos EUA, retransmissões
ilegais de fundos.
Os documentos que revelam
as operações foram produzidos
pela Assessoria de Análise e
Pesquisa da Procuradoria-Geral da República, em Brasília,
tendo como base os achados
das ações da PF e da CPI do Banestado. Num disquete apreendido na sede da Diskline e periciado pela PF, foi achada uma
tabela que descreve 24 remessas feitas entre agosto de 1995 e
fevereiro de 1996 no total de R$
7,5 milhões, ou R$ 17,9 milhões
atualizados pelo IPCA (Índice
de Preços ao Consumidor).
O dinheiro era entregue por
uma pessoa identificada pelo
código "Ildinha/Fé" e tinha como destino final a conta nº
365.1.007852 do antigo Chase
Manhattan Bank de Nova York
(EUA), adquirido no ano 2000
pelo JP Morgan, dando origem
ao JPMorgan Chase & Co.
"Conforme documentos
constantes do CD-Rom, as operações envolvendo o nome de
"Ildinha/Fé" são operações em
que a diretora do Banco de Crédito Metropolitano e de empresas do grupo da Igreja Universal, sra. Alba Maria Silva da
Costa, fazia com a mesa de operação da empresa Diskline de
São Paulo, sendo o nome "Ildinha/Fé" uma referência à funcionária da igreja de nome Ilda,
que, inicialmente, era encarregada de levar as malas de dinheiro para a empresa Diskline", apontou o relatório.
Alba Maria, referida no relatório, é uma das pessoas denunciadas pelo Ministério Público de São Paulo, ao lado do líder da Iurd, Edir Macedo, por
supostos crimes de formação
de quadrilha, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Ela foi executiva de empresas controladas pela igreja.
Segundo as investigações, a
Diskline teve como sócios Marcelo Birmarcker e Cristiana
Marini. "Eles estão na relação
de doleiros investigados no "Caso Banestado", sendo ambos titulares de três contas no Merchants Bank de Nova York,
banco em que vários doleiros
brasileiros possuíam conta e
que teve o sigilo bancário afastado no curso das investigações", prossegue o relatório datado de 22 de março de 2007.
Segundo o documento, as
três contas do Merchants controladas por aqueles investigados são a Milano Finance (nº
9005035), a Pelican Holdings
Group (nº 9007110) e a Florida
Financial Group Ltd. (nº
9010264). Elas movimentaram
(soma de entradas e saídas de
recursos), entre janeiro de 1998
e janeiro de 2003, aproximadamente US$ 164 milhões.
Trading
Outro relatório federal descreve operações da "offshore"
CEC Trading Corporation,
aberta em nome do irmão de
Edir Macedo, Celso Macedo
Bezerra, com a empresa Beacon Hill Service Corporation,
fechada em 2003 pelas autoridades dos EUA sob acusação de
retransmissão ilegal de fundos.
A Beacon Hill -que no Brasil
deu origem à maior operação
deflagrada contra doleiros, a
Operação Farol da Colina-
transferiu US$ 76 mil para a
CEC Trading entre dezembro
de 1997 e junho de 1998. Os recursos foram transferidos por
meio de uma subconta denominada "Titia", igualmente gerida
por doleiros do Brasil.
"Nos contratos de câmbio recebidos do Banco Central do
Brasil há a informação de que a
Rádio e Televisão Record S.A.
remeteu para o exterior a quantia de US$ 1,2 milhão para a
CEC Trading Corporation, na
mesma conta que recebeu recursos de doleiros da Beacon
Hill, qual seja, a conta nº
3871339802, mantida no Barnett Bank da Flórida", diz relatório da Procuradoria-Geral da
República de outubro de 2005.
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