|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FOME SOCIAL
Segundo Ana Fonseca, parâmetro seria critério de seleção do Bolsa-Família
Lula estuda novo índice de pobreza
JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo federal trabalha na
formulação de um índice formado por outras variáveis, além da
renda, para selecionar as pessoas
beneficiadas com o Bolsa-Família, principal programa social da
gestão petista.
A idéia é que passem a ser levados em consideração critérios como escolaridade, condições de
saúde, saneamento e acesso à luz
elétrica. Seria um "indicador multidimensional da pobreza", conforme classificou a cientista política Ana Fonseca, coordenadora da
unificação dos programas sociais
do governo federal.
O Bolsa-Família engloba quatro
programas de transferência de
renda: Bolsa-Escola, Bolsa-Alimentação, Auxílio-Gás e Cartão-Alimentação (Fome Zero). Baseando-se na renda como critério
de seleção, o programa transfere
no mínimo R$ 15 e no máximo R$
95 para famílias cujo ganho mensal per capita é inferior a R$ 100.
"A pobreza não é uma realidade
por insuficiência de renda exclusivamente", disse Ana ontem, em
São Paulo, onde discutiu com cerca de 70 prefeitos a unificação dos
projetos de transferência de renda. Como a meta de 11,4 milhões
de famílias cobertas pelo Bolsa-Família, em 2006, leva em consideração o indicador renda, o uso
de outras variáveis obrigaria a
uma revisão do número de pessoas que se pretende atingir.
"Com um conjunto de indicadores, posso ser mais eficiente na
cobertura e gastar melhor os recursos públicos", disse. O Bolsa-Família é pago desde outubro.
"Paixão política"
O cadastro único, base do Bolsa-Família, mostra que há uma sub-representação de alguns Estados.
Para Ana Fonseca, isso ocorre, em
parte, devido à "paixão política"
de alguns governadores.
Prefeituras do PT, por exemplo,
têm, em geral, um número elevado de famílias atendidas pelo Bolsa-Família, de acordo com os dados do mês de novembro.
São Paulo, da petista Marta Suplicy, tem 53.692 famílias atendidas. É o maior número de atendimento. Em segundo lugar está a
capital mineira, Belo Horizonte,
do também petista Fernando Pimentel, com 27.111 famílias.
A capital paulista é a maior cidade do país: cerca de 10 milhões de
habitantes, segundo o IBGE. Belo
Horizonte, com mais de 2 milhões
de pessoas, é menor que o Rio de
Janeiro, governado pelo PFL, onde 1.823 famílias foram atendidas.
"A sub-representação pode
mostrar a paixão da política. Pode
ser também dificuldade de transmissão de dados", disse Ana Fonseca. O Rio, disse a coordenadora,
apresenta o segundo problema.
No Estado do Rio, atualmente,
só 22% das famílias estão no cadastro único. Em São Paulo, o número é de 49%. Segundo Ana
Fonseca, das 548.804 famílias pobres e extremamente pobres do
Rio, 100.493 estavam no cadastro
em setembro (18% delas).
A coordenadora do Bolsa-Família afirmou ainda que neste ano
não deve sair o novo cartão, que
representará os programas unificados. "Vamos esperar a participação dos governadores. O [Marconi] Perillo [governador tucano
de Goiás] quer colocar o nome
dele no cartão. Cada um tem sua
forma de operar. Acho que cabem
todos na fotografia." A unificação
deve economizar R$ 440 milhões
em operações bancárias.
Ao comentar o Fome Zero, Fonseca afirmou que houve um "problema de comunicação" no seu
lançamento. "Ficou na imprensa
como se fosse o Cartão-Alimentação e a polêmica em torno de se
[com ele] se compra bolacha. O
cartão alimentação é um pedacinho do Fome Zero", disse ela.
Texto Anterior: Furlan diz que Palocci é "goleiro" do governo Lula Próximo Texto: Janio de Freitas: As crias das ditaduras Índice
|