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OPERAÇÃO ANACONDA
Juíza de Guarulhos manda investigar possível falsidade em contrato de aluguel usado em processo federal
Justiça apura fraude para libertar preso
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A juíza Kátia Lazarano dos Santos, da 2ª Vara Federal de Guarulhos (SP), acolheu pedido do Ministério Público Federal e abriu
procedimento para averiguar
possível fraude processual levantada pela Operação Anaconda.
De acordo com a denúncia feita
pelo Ministério Público contra 12
pessoas, incluindo três juízes federais e dois delegados da PF,
Paulo César de Oliveira, preso no
aeroporto de Guarulhos em novembro de 2002 sob a acusação de
falsificar passaportes para dois
chineses, teve sua prisão relaxada
pela Justiça Federal graças a uma
armação de integrantes do grupo
hoje presos na sede da PF.
O agente federal César Herman
Rodriguez, braço direito do juiz
da 4ª Vara Criminal, João Carlos
da Rocha Mattos, segundo a denúncia, teria subornado policiais
federais que estavam na guarda
das celas da Superintendência da
PF, então localizada na rua Piauí
(região central de São Paulo). Teria agido assim para que uma sua
"prima advogada", identificada
como Regina, colhesse as assinaturas de Oliveira para um contrato de locação de imóvel.
O documento foi depois usado
em juízo pela defesa para alegar
que Oliveira tinha residência fixa
e, assim, obter sua libertação. Seu
advogado integrava o escritório
de Affonso Passarelli Filho. Além
disso, outra pessoa detida no aeroporto de Guarulhos, Mário Wilson Viana, era defendido por Carlos Alberto da Costa Silva. Os advogados Silva e Passarelli foram
presos na Operação Anaconda.
No contrato de aluguel apresentado por Oliveira à Justiça, ao qual
a Folha teve acesso, consta como
endereço o apartamento número
153 do residencial Morumbi Park,
em São Paulo. No mesmo edifício,
Rodriguez tem um apartamento à
venda, o de número 64, registrado, segundo a corretora de imóveis responsável pela venda, em
nome de Lisandra Giselle Vilela
Chagas, secretária de Rodriguez.
O contrato é datado de 22 de setembro de 2002, mas o reconhecimento das assinaturas foi feito em
cartório em 26 de novembro, cinco dias após a prisão de Oliveira.
De acordo com as interceptações telefônicas feitas pela PF na
Operação Anaconda, Rodriguez
teria combinado, pelo telefone, a
entrada da advogada na cela diretamente com um policial federal
que estava de guarda.
O agente, a princípio, não concordou. A advogada então telefonou para Rodriguez e contou que
"eles" não a deixaram ver o cliente, mas "levaram o documento
para que ele o assinasse", segundo
a denúncia do Ministério Público.
Em seguida, ela passou o aparelho
ao policial da guarda.
De acordo com o relato da peça
da acusação, Rodriguez disse ao
agente, falando em código, que
"estava ajeitando o pára-lama e
na semana que vem vai tirar a nota". O agente teria respondido que
Rodriguez deveria trazer-lhe "a
nota". Segundo o MP, no mesmo
dia, em outra ligação, Rodriguez
disse a um interlocutor que mandou tirar "quatro paus" em dinheiro para bancar a operação.
Na hora de escolher o endereço
de residência, uma pessoa identificada como Fábio de Melo teria
dito a Rodriguez que temia que o
contrato de locação desse "problemas" para sua tia, em nome de
quem seria assinado o contrato.
Rodriguez lhe teria respondido
que não precisaria se preocupar.
"A quadrilha, assim estruturada, valendo-se do uso de documentos falsos para forjar situações fáticas inexistentes, atinge a
correta tramitação da ação penal,
contribuindo decisivamente para
a frustração da persecução penal", diz a denúncia dos procuradores da República.
Marli Barbosa da Silva -a juíza
que, de acordo com a 2ª Vara de
Guarulhos, relaxou a prisão de
Oliveira com base na alegação da
defesa- disse não se recordar
dos detalhes do processo e que
não conhecia a denúncia do MP.
Na vara, segundo ela, tramitam
cerca de 3.000 processos e seria difícil se lembrar especificamente
de um. O Ministério Público não
fez reparos à atuação da juíza.
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