|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FHC cria polêmica gramatical e ira política
Ao atacar Lula de forma velada, com frase que fere a norma culta da língua, tucano vira alvo de críticas
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A frase do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que
escorregou no português formal ao criticar indiretamente o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, foi considerada "politicamente incorreta" pela professora de português Thaís Nicoleti. No 3º Congresso do PSDB,
anteontem em Brasília, o ex-presidente disse que quer "brasileiros melhor educados, e não
brasileiros liderados por gente
que despreza a educação, a começar pela própria".
Pela norma culta, o correto
seria "mais bem educados".
"Rigorosamente, deve-se usar
"mais bem" antes de particípio.
Porém, essa construção ["melhor educado'] é considerada
aceitável, ela está no limite entre a norma padrão e o desvio
dela", afirma Nicoleti.
Para a professora, o mais grave, no entanto, é o significado
da frase do ex-presidente.
"Todos sabem falar a sua própria língua. Não se pode usar a
fragilidade da educação formal
de uma pessoa para atacá-la.
Como professora de português,
nunca desmereço o discurso de
alguém por sua forma de falar.
Isso é politicamente incorreto
ou no mínimo mesquinho."
Nicoleti diz que, como a língua é dinâmica, o que foi considerado errado no passado pode
ser aceito no presente. "Quem
sabe, no futuro, as pessoas deixem de usar o "s" [para designação do plural]. Possivelmente,
quando Fernando Henrique
freqüentou a escola ele aprendeu que o correto era apenas
"mais bem" educado."
Por trás da discussão, a professora aponta haver certa condescendência com erros gramaticais de classes sociais mais
altas. "Há registros típicos de
classe mais baixa, como a falta
de concordância nominal ou
verbal. Nas classes mais altas,
também há, como a colocação
pronominal ou o uso de "melhor" no lugar de "mais bem". Essas, no entanto, são consideradas mais palatáveis."
Política
O deputado Maurício Rands
(PT-PE), que deve assumir a liderança da sigla na Câmara, diz
que FHC "cobra perfeição gramatical dos outros e a sua própria frase revela um equívoco".
"Ele ressuscitou o preconceito
e revelou excesso de vaidade
porque não consegue disfarçar
o ciúme do presidente Lula."
"Foi uma frase infeliz, preconceituosa e errada no tema.
Ele tem uma dificuldade enorme em ser ex-presidente", diz
Henrique Fontana (PT-RS), indicado à liderança do governo.
O ex-ministro José Dirceu,
em seu blog, diz que o PSDB
perdeu a compostura. "Deram-se ao luxo da baixaria e do desrespeito pelos adversários e
partiram para a ignorância."
Para o senador Álvaro Dias
(PSDB-PR), FHC reagiu ao preconceito de que o PSDB é elitizado. "Mas o presidente Lula
tem uma capacidade incrível de
se fazer de vítima". Sobre o aspecto gramatical da frase, disse
que "discurso de palanque, com
muito barulho, tem sempre o
risco [de sair algo errado]". Segundo Arthur Virgílio (PSDB-AM), líder no Senado, "grave é
falar em terceiro mandato".
Texto Anterior: 2010 leva PT e PSDB a jogo de "gato e rato" Próximo Texto: Artigo: "Faça o que eu digo, mas não faça..." Índice
|