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"Faça o que eu digo, mas não faça..."
PASQUALE CIPRO NETO
COLUNISTA DA FOLHA
No Congresso do PSDB,
FHC disse que Lula não
domina a língua. FHC quis
dizer que Lula não domina
a variedade padrão. Até aí,
nenhuma novidade. O
próprio Lula sabe disso e
não nega essa "deficiência". Nesta semana, diante
de empresários alemães,
Lula disse "os empresários
espanhol". Que os falsos
defensores dos fracos e
oprimidos não venham dizer que Lula apenas empregou a variedade de língua dominante no Brasil.
Pura balela, já que a maioria dos brasileiros diria "os
empresário espanhol". A
língua coloquial dispensa
o plural redundante (no
caso, a flexão da totalidade
dos elementos que se referem ao substantivo).
E o tucanato? É sempre
primoroso no uso do padrão formal? A julgar pelo
"melhor educados" de
FHC... A coisa não é tão
simples. Na língua literária, não faltam registros de
"melhor" como modificador de particípio. O "Aurélio" arrola exemplos de
clássicos da literatura. O
"Houaiss" diz que, "diante
de um particípio, é vernáculo empregar mais bem".
Quando o particípio
tem duas sílabas, não se
ouve nem se lê algo como
"O jogador melhor pago".
Quando tem mais de duas
sílabas, a oscilação é patente: ora se ouve/lê "A
equipe mais bem treinada", ora se ouve/lê "A
equipe melhor treinada".
A língua formal moderna
parece preferir a primeira
construção, em que se entende o "mais" como modificador de todo o bloco
"bem + particípio" ("O atleta mais bem remunerado"). FHC teria feito melhor se tivesse optado por
"mais bem educados".
Talvez fosse o caso de
perguntar se cabe um hífen em "bem educados".
Depende. Com hífen, tem-se um sinônimo de "que
tem bons modos" etc. Sem
hífen, julga-se o modo como as pessoas são educadas. "Mais bem educados"
significa "educados de
modo mais eficiente";
"mais bem-educados" significa "mais gentis". Que
terá querido dizer FHC?
Talvez nem ele nem Lula
saibam responder... É isso.
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