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Para analista, Congresso não deveria só ratificar Venezuela
Professor diz que Legislativo pode definir antes restrições a acordos internacionais
Segundo Fabiano Santos, discussão sobre Chávez põe em debate modo como parlamentares participam de temas da política externa
MICHELE OLIVEIRA
DA REDAÇÃO
A alta temperatura da discussão da última quarta-feira entre deputados sobre a entrada
da Venezuela no Mercosul, na
CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara, põe
em debate o modo como o Congresso Nacional participa
atualmente de decisões de assuntos de política externa.
Atualmente com o poder de
ratificar ou não acordos fechados pelo Executivo, o Congresso deveria ser chamado antes
ao debate. É o que defende Fabiano Santos, 43, doutor em
ciência política, coordenador
há três anos do Núcleo de Estudos Sobre o Congresso, do Iuperj. "Acho que pode mudar a
metodologia, não simplesmente ter um Congresso ratificador, mas ter outras possibilidades", afirma ele, favorável ao ingresso do país de Hugo Chávez
no Mercosul.
Na quarta-feira, a CCJ deveria ter discutido só os aspectos
jurídicos da entrada da Venezuela no bloco. No entanto, deputados gastaram horas debatendo se o venezuelano é um
ditador e se seu país é uma democracia. Para o professor, o
Congresso poderia "definir antes limites e restrições daquilo
que o governo pode fazer".
FOLHA - Documento produzido pelo núcleo que o sr. coordena diz que
o protocolo de adesão da Venezuela
ao Mercosul tem provocado um debate "sem precedentes". Por quê?
FABIANO SANTOS - Acho que os
planos doméstico e externo estão muito casados hoje em dia.
Com a globalização e a abertura
de mercados, a política externa
passou a ter impactos muito visíveis sobre interesses no âmbito interno. Evidentemente
que as forças políticas começam também a se organizar. No
caso da Venezuela, temos ainda
toda a carga emocional que Hugo Chávez provoca. A questão
da adesão ao Mercosul passou a
ter uma simbologia específica e
exagerada. Mas é uma tendência que vai se aprofundar.
FOLHA - E como fica o Congresso
nessa tendência?
SANTOS - O que a gente percebe
no passado recente é que uma
vez ou outra o Congresso reagiu a um acordo internacional
que o Executivo formulou num
fórum externo. Mas é algo muito custoso o governo dar sua
palavra no âmbito externo e o
Congresso dizer "não". Existe
uma maneira mais inteligente
de fazer isso -o Congresso definir antes limites e restrições
daquilo que o governo pode fazer, e o governo vai lá e faz, com
uma delegação bem definida no
âmbito externo. Mas no caso
brasileiro, não. O Congresso
tem poder ratificador, se ele resolve dizer "não", acabou. Isso
ocorreu muito raramente. Mas
como está havendo essa politização das questões externas é
natural que o Congresso comece a tentar obter diferentes maneiras de interferir nisso. Existem várias propostas de emendas constitucionais para estabelecer uma nova metodologia
de discussão de assuntos externos no Congresso.
FOLHA - O sr. tem críticas ao modo
como esses temas tramitam hoje?
SANTOS - Sim, o poder ratificador. Eu acho que o Executivo
tem que discutir com o Congresso aquilo que é razoável,
que é possível fazer.
FOLHA - Antes de pedir aprovação?
SANTOS - Isso, antes de ir para
um fórum externo e discutir.
Acho que pode mudar a metodologia, não simplesmente ter
um Congresso ratificador, mas
ter outras possibilidades, outras maneiras de discutir essas
questões internacionais.
FOLHA - O sr. critica também a politização em torno desses temas internacionais?
SANTOS - Aí a questão é discutir
o que pode trazer mais vantagens para o país. Acho que as
críticas podem ser feitas à política do Hugo Chávez, ao que está acontecendo na Venezuela,
mas isso não pode desembocar
numa decisão dramática de
acabar dizendo "não" de uma
forma peremptória, quando na
verdade o que está em jogo é
apenas uma delegação para o
Executivo discutir as condições
em que a adesão vai se dar.
FOLHA - Se ao Congresso cabe analisar aspectos técnicos, em que esfera a discussão política pode ocorrer?
SANTOS - Acho que é no âmbito
cabível no Mercosul. Está havendo uma desconsideração da
própria institucionalidade do
Mercosul na discussão de partes de setores do Congresso,
que se precipitam na crítica para tentar desgastar uma política do governo e desconsideram
questões fundamentais.
FOLHA - Como o sr. avalia a discussão quente na CCJ?
SANTOS - Acho que faz parte. É
pena que um assunto que poderia ser feito de maneira mais
substantiva tenha tido essa fanfarronice -que o Chávez estimula- prevalecendo. É pena,
mas faz parte do jogo.
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