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Ex-embaixador quer debate técnico sobre país de Chávez
Discutir entrada da Venezuela no Mercosul sob viés político é erro, diz Barbosa
Para presidente de conselho da Fiesp, a entrada do país vizinho no bloco regional é muito positiva do ponto de vista econômico-comercial
DA REDAÇÃO
Discutir democracia, ditadura e outros temas políticos para
aceitar a Venezuela no Mercosul é um equívoco. É o que afirma Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Londres e em Washington durante o governo FHC. Para o atual presidente do Conselho Superior de
Comércio Exterior da Fiesp, o
debate sobre a entrada do país
vizinho no bloco regional deveria ser estritamente técnico, sobretudo acerca dos termos em
que essa adesão vai ocorrer.
"A discussão está mal colocada porque esse protocolo de
adesão diz que a Venezuela terá
que negociar os termos de sua
entrada. As negociações começaram, já foram prorrogadas e
desde de março não há reunião,
porque a Venezuela se recusa a
discutir as condições técnicas,
comerciais", afirma. "Enquanto não negociar, o Congresso
brasileiro não pode aprovar."
Ele lembra ainda que o país
de Hugo Chávez já assinou a
cláusula democrática do Mercosul. "A Venezuela, ao se tornar um membro associado,
aderiu à cláusula democrática.
É por isso que eu digo que a negociação em bases políticas não
vai levar a lugar nenhum."
(MO)
FOLHA - A Venezuela deve entrar
no Mercosul?
RUBENS BARBOSA - Não é uma
resposta simples. Do ponto de
vista econômico-comercial, a
entrada da Venezuela é muito
positiva. Agora, não se pode hoje analisar a entrada da Venezuela somente desse ponto de
vista, pois o governo brasileiro
está dando um tratamento político ao assunto. Discutir se há
democracia na Venezuela, se
Chávez é ditador, é uma discussão política. E discussão em bases políticas é equivocada.
FOLHA - Por quê?
BARBOSA - Porque a Venezuela
pediu para entrar para o Mercosul, o Brasil e a Argentina logo aprovaram o pedido, e foi
feito um protocolo, que está em
discussão no Congresso. A discussão está mal colocada porque esse protocolo de adesão
diz que a Venezuela terá que
negociar os termos de sua entrada no Mercosul. As negociações começaram, já foram
prorrogadas e desde de março
não há reunião, porque a Venezuela se recusa a discutir as
condições técnicas, comerciais.
Pessoalmente, acho que tudo
depende das condições em que
a Venezuela vai entrar. Enquanto não negociar, o Congresso brasileiro não pode
aprovar. E o governo está muito açodado, está decidindo isso
politicamente, ao aceitar a Venezuela sem negociação. Isso é
um absurdo. Não é um capricho
do Congresso brasileiro ou dos
que se opõem à Venezuela. Está
previsto no protocolo que a Venezuela negocie.
FOLHA - Como o sr. analisa o papel
do Congresso, que tradicionalmente
ratifica os acordos comerciais que o
Executivo fecha?
BARBOSA - A política externa
nunca foi, até recentemente,
importante para o Congresso.
A partir do Mercosul, a partir
da partidarização da política
externa do governo Lula, a política externa deixou de ser consensual, e, ao deixar de ser consensual, vira partidária. É competência do Congresso acompanhar as discussões de política externa. Eram acordos consensuais e suprapartidários. A
partir do momento em que você quebra isso e deixa de ter
consenso, como é o caso da Venezuela, a coisa fica partidária.
FOLHA - O sr. avalia que o Congresso deve ser chamado à discussão antes de um acordo ser fechado?
BARBOSA - Não, porque a competência de negociar é do Executivo, estamos num regime
presidencial. Agora, teria que
manter o Congresso informado, mas isso não ocorre, porque
não é a tradição. Mas o Congresso está ficando mais atuante, faz audiências, fica a par dos
assuntos que estão em discussão. Vai ter que opinar cada vez
mais e examinar esses acordos,
que não são consensuais e têm
implicações importantes. Tudo
isso que nós estamos negociando tem conseqüências sobre as
empresas, sobre o trabalho, o
emprego, o salário.
FOLHA - A discussão se a Venezuela
é uma democracia ou não, por
exemplo, deveria acontecer em outras esferas, não na CCJ?
BARBOSA - O Congresso brasileiro discute o que ele quiser.
Eu só acho que essa discussão
não devia ser concentrada na
visão sobre democracia, sobre a
posição do Chávez; a discussão
deveria ser técnica. Mas nada
impede que se discuta isso. A
Venezuela, ao se tornar um
membro associado, aderiu à
cláusula democrática. É por isso que eu digo que a negociação
em bases políticas não vai levar
a lugar nenhum. O governo já
disse claramente que a Venezuela é uma democracia, e o
Congresso não tem poder para
mudar essa posição.
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