São Paulo, domingo, 25 de novembro de 2007

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Trocas feitas por Conde abrem crise em fundo de Furnas

Após assumir presidência de estatal, ex-prefeito modifica comandos do Real Grandeza e gera revolta de empregados

Segundo peemedebista, gestão "não é a maravilha que dizem'; ele afirma que diretoria cometeu erro grave ao não processar BC

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

Quatro meses depois de assumir a presidência da estatal Furnas Centrais Elétricas, por pressão do PMDB, Luiz Paulo Conde -ex-prefeito do Rio e ex-vice-governador do Estado na gestão de Rosinha Garotinho- abriu uma crise no fundo de pensão dos empregados, Real Grandeza, ao propor a substituição do presidente e do diretor financeiro da entidade.
O atual presidente, Sérgio Wilson Fontes, tem mandato até agosto do ano que vem. Ele assumiu o cargo em 2005, quando o Real Grandeza teve a pior fase de sua história: a perda de R$ 151 milhões com a quebra do Banco Santos; a punição de ex-dirigentes pela Secretaria de Previdência Complementar, e a CPI dos Correios, onde ficou na berlinda por causa dos prejuízos nas aplicações financeiras.
O Real Grandeza tem patrimônio de R$ 6,5 bilhões e 11 mil associados, entre empregados de Furnas e da Eletronuclear.
Mais da metade dos associados é de aposentados. A associação Após-Furnas, dos aposentados, mobilizou-se contra a troca dos dirigentes. Distribuiu panfletos aos funcionários em que defende a manutenção da diretoria atual e diz que ela recuperou as finanças e a imagem do fundo, depois dos escândalos do passado.
A indicação dos nomes dos novos diretores vem sendo atribuída ao deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que nega a interferência. ""Confirmo o patrocínio político da indicação de Conde para a presidência de Furnas, mas, daí para baixo, não indiquei ninguém. Nem diretor, nem chefe de chefe de gabinete, nem superintendente, nada", afirmou.
A nomeação de Conde para a presidência de Furnas foi um atendimento à reivindicação da bancada do PMDB na Câmara. Em troca, o partido votou a favor da prorrogação da CPMF (imposto do cheque).
Luiz Paulo Conde, por sua vez, disse à Folha que a iniciativa partiu dele. ""Quem manda sou eu. Tenho prerrogativa para indicar novos diretores para o fundo de pensão. Fui prefeito do Rio e não me dobro à interferência de ninguém. Pode ser amigo, que não dá", afirmou.
Indagado sobre o motivo para a substituição, disse que a gestão do fundo ""não é a maravilha que dizem" e que considera que a diretoria cometeu erro grave ao não processar o Banco Central pelas perdas sofridas no Banco Santos. Segundo o fundo, a decisão de não processar o BC foi do Conselho Deliberativo, por recomendação dos advogados.
A proposta de troca do presidente e do diretor financeiro, Ricardo Nogueira (que tem mandato até dezembro de 2008), foi encaminhada ao Conselho Deliberativo do Real Grandeza e será votada na próxima quarta-feira.
Dos seis conselheiros, três são eleitos pelos empregados e votarão contra, segundo informação de Geovah Machado, um dos eleitos.
Dois dos outros três conselheiros assumiram os cargos em outubro, por indicação de Conde. O outro é indicado pela Eletronuclear. Em caso de empate na votação, o presidente do conselho (representante de Furnas) tem voto de minerva. Conde disse ter convicção de que a proposta será aprovada.
Geovah Machado, um dos conselheiros eleitos pelos empregados, disse que os argumentos apresentados pela empresa para justificar a troca são inconsistentes, e que os indicados não têm experiência na área. ""Tememos que a troca restabeleça os riscos do passado. É absurdo mexer em time que está ganhando."


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