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ALIMENTAÇÃO
Produtos foram base alimentar desde o século 17, mas consumo cai há dez anos
Mandioca e feijão perdem espaço
da Reportagem Local
Estrangeiro até no nome, o pão
francês é um elemento recente na
culinária nacional. Em "História
da Alimentação no Brasil", Luis da
Camara Cascudo afirma que o pão
não era comum nas cidades do
país até o princípio deste século.
"Não havia o costume de fazê-lo
em casa e sempre o compravam
nas feiras, para onde vinha das vilas que possuíam panificação." O
texto sugere que a abundância de
padarias é um fenômeno recente.
Apesar do nome, o pãozinho, no
formato que é conhecido no Brasil, não é encontrado na França. Lá
predominam as baguetes.
O nome pão francês surgiu para
distinguir o pão artesanal, popular
na Europa, do industrializado,
vendido em larga escala nos EUA.
"Enquanto o pão industrial é
produto de relações capitalistas de
produção, aquilo que é chamado
de pão francês é o produto de relações artesanais de produção", escrevem Daniel Bertaux e Isabelle
Bertaux-Wiame, pesquisadores
do Centro Nacional de Pesquisa
Científica da França, no artigo
"Mistérios da Baguete" (nº 19 da
revista "Novos Estudos").
"Ele (o pão) é chamado de francês somente porque a França é, entre as nações industrializadas, a
única que ainda mantém um amplo setor de pequenas produções
familiares pré-capitalistas."
Segundo Camara Cascudo, os
dois principais alimentos que forraram os estômagos dos brasileiros ao longo da formação do país
foram a mandioca -em todas as
suas formas e aplicações, da farinha ao beiju- e o feijão.
"O binômio feijão-farinha governou o cardápio brasileiro desde
a primeira metade do século 17",
afirma. Mas as primeiras referências são ainda mais antigas.
"Quando a posse da terra começou a ser feita nasceu o elogio da
mandioca. Os cronistas afirmavam, unânimes, ser aquela raiz o
alimento regular, obrigatório, indispensável aos nativos e europeus
recém-vindos", descreve Cascudo. Mais tarde, nas incursões de
bandeirantes, "ter a farinha era
possuir o fundamento alimentar,
completado com o auxílio da caça
e da fortuita pescaria".
"O feijão ficava para as horas de
pouso, armado o acampamento,
esperando a fervura das panelas de
barro ou ferro", diz Cascudo.
A julgar pelos dados da última
POF, esses dois pilares da culinária
nacional, se não chegaram a ruir,
estão cada vez mais restritos às cozinhas das famílias de baixa renda.
Nos últimos dez anos, o consumo anual de feijão caiu de 11,8 kg
para 9,9 kg por brasileiro. E a farinha de mandioca ocupa o 38º lugar
no mercado alimentar.
As importações de alimentos sofisticaram o consumo, principalmente de famílias com renda superior a 20 salários mínimos. Se
dependessem delas, os fabricantes
de farinha de mandioca venderiam só 10% do que produzem.
Já os importadores de azeite de
oliva direcionam mais da metade
de seus negócios para esses consumidores -que, apesar de representarem apenas 17% do total de
famílias, detêm 54% desse mercado.
(JRT)
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