São Paulo, terça, 26 de janeiro de 1999

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DESENVOLVIMENTO
Ministro nega que pacto antiinflação a ser sugerido pelo governo seja reedição das câmaras setoriais
Lafer propõe "foros de competitividade'

Sergio Lima - 13.jan.99/Folha Imagem
Celso Lafer, ministro do Desenvolvimento, da Indústria e do Comércio


CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília

O pacto antiinflação que o governo vai sugerir hoje a presidentes de 27 federações estaduais de indústrias não será, segundo seu proponente, o ministro Celso Lafer (Desenvolvimento), uma reedição das "câmaras setoriais".
Em entrevista à Folha, ontem, Lafer disse que sua idéia é promover "foros de competitividade", baseados em conceitos de competição e qualidade.
"As câmaras setoriais eram herança de uma economia inflacionária. A visão de cadeias produtivas é distinta delas", afirmou.
A proposta de discutir um pacto com líderes industriais começou a tomar forma na última sexta-feira, quando Lafer se reuniu com empresários paulistas na Fiesp.
O ministro e o presidente Fernando Henrique Cardoso conversaram diversas vezes por telefone durante o fim-de-semana. A decisão foi tomada no domingo.
Embora Lafer não tenha entrado em detalhes na sua entrevista, a Folha apurou que o governo poderá oferecer isenção de impostos e estímulos à exportação a setores específicos, como de alimentação, automobilístico e de remédios, em troca de compromissos com manutenção e geração de empregos.
Para Lafer, pacto tem o mesmo sentido de contrato social, "uma explicação das mais importantes e modernas sobre a origem do Estado", mas que se tornou insuficiente, porque "as forças sociais se compõem e decompõem depressa demais à luz das circunstâncias".
Por isso, diz ele, "é preciso atualizar permanentemente o contrato social, lidando com as forças em jogo, sem recorrer ao golpismo, como se tem visto em artigos e textos recentes, que ameaçam com uma ruptura democrática".
O ministro do Desenvolvimento afirma que vai buscar a "convergência das ações sociais" no momento em que a alteração da política de câmbio está tendo impacto nos preços relativos da economia.
Esse impacto será maior ou menor em cada cadeia produtiva, de acordo com o tamanho dos componentes de importação e exportação em cada uma delas.
A esperança de Lafer é que esse jogo possa resultar num tipo de equilíbrio que poupe o país de uma explosão inflacionária.
No diálogo com os industriais, Lafer pretende apurar como a mudança no câmbio está afetando cada cadeia produtiva e quais são suas necessidades de momento.
O ministro disse que, quando assumiu o cargo, havia duas reivindicações do empresariado: alteração na política de câmbio e diminuição nas taxas de juros.
O câmbio foi mudado, mas, ressalta ele, "todos temos plena consciência de que é preciso esperar até que o mercado encontre seu ponto de equilíbrio apropriado".
Quanto às taxas de juros, em termos reais elas já baixaram, por causa do efeito inflacionário.
Nas condições atuais de flutuação do real, Lafer acha que as taxas de juros terão um papel relativo para atrair capital externo e, por isso, serão usadas mais no combate à inflação e ao desemprego.
O exame das condições macroeconômicas do país, na opinião de Lafer, mostra aspectos positivos, que possibilitam a redução gradativa das taxas de juros.
Entre os pontos que citou: a aprovação do Orçamento, a disposição dos Estados de lidar com os seus sistemas de previdência "de modo mais construtivo" e a melhora das contas externas.
Lafer diz que pretende se encontrar com lideranças dos trabalhadores, "a outra ponta do pacto", depois de se articular com o ministro do Trabalho, Francisco Dornelles, com quem tem trocado idéias a respeito da proposta que lançará hoje, na Confederação Nacional da Indústria.



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