São Paulo, terça, 26 de janeiro de 1999

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Governo cria empréstimo anticrise

MARTA SALOMON
FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília

O governo lançará mão de recursos de bancos oficiais (BNDES, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil) para empréstimos a empresas privadas numa tentativa de compensar efeitos recessivos da política econômica.
"Precisamos encontrar caminhos que compensem e que façam o país crescer no momento que puder", afirmou o ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga, articulador político do governo, ao anunciar a estratégia. Por enquanto, não há estimativas sobre o volume de dinheiro a ser usado. "São recursos muito expressivos e podem dar suporte a uma ação desenvolvimentista", afirmou.
Segundo Pimenta, o dinheiro dos bancos será "dinamizado", já que vinham sendo usados "com muito menos intensidade e disciplina do que serão daqui em diante".
"Não são recursos orçamentários nem inflacionários: isso não é gasto, é investimento", insistiu Pimenta da Veiga. A maior parte sairá do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador).
A agenda positiva do governo será detalhada por duas comissões ministeriais (uma para cuidar da produção, outra encarregada de tratar da criação de empregos), ambas coordenadas pelo ministro do Desenvolvimento, Celso Lafer.
A primeira reunião dos grupos está marcada para quinta-feira, às 8h30. O presidente Fernando Henrique Cardoso participará da negociação mais adiante.
A idéia do governo é envolver líderes empresariais e sindicais na discussão, que não tem prazo para produzir resultados. "Vamos discutir o desenvolvimento, uma necessidade nacional: o país não pode se fechar e passar por um período de provação", disse o ministro.
Não há metas previamente definidas para o mutirão do governo. Antes da mudança da política cambial e da nova alta dos juros, a previsão oficial era de uma queda de 1% no PIB (Produto Interno Bruto) neste ano. A recessão deverá ser ainda maior.
Pimenta da Veiga não incluiu no cardápio das negociações o debate sobre a queda das taxas de juros, a principal reivindicação de políticos e empresários.
"Esta questão está fora do que eu queria anunciar", esquivou-se. Ele nega que haja contradição entre a ação desenvolvimentista anunciada ontem e a nova elevação das taxas de juros adotada de acordo com recomendação do FMI (Fundo Monetário Internacional).
A queda dos juros só deverá ocorrer a médio prazo, segundo previsão do ministro Pedro Malan (Fazenda), depois que o governo afastar o risco de a inflação disparar e o câmbio se estabilizar. Embora as instituições financeiras que sustentarão a estratégia estejam subordinadas a Fazenda, Malan não participará de comissões.
"A área econômica está informada de tudo e a política econômica está rigorosamente mantida com a condução de Malan", declarou.
O ministro insistiu ontem em que não há nenhum plano econômico alternativo em elaboração no governo. "Não há nenhum plano A, B, C, X ou Y: o plano é esse que vocês conhecem", disse.
O ministro do Orçamento, Paulo Paiva, aposta no resultado da ação "articulada" dos colegas. "Estamos certamente com o controle da situação e a economia está no rumo certo", afirmou.



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