São Paulo, segunda-feira, 26 de fevereiro de 2001

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ALIADOS EM CRISE

Declarações que atingiram o governo frustram articulação para dar a senador baiano cargo no Senado

Ruptura deve excluir ACM de comissões

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) pode ter perdido a chance de voltar a ocupar a presidência da CRE (Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional) com a divulgação de supostas declarações suas a procuradores da República.
Havia uma articulação dos partidos aliados do governo no Senado para acomodar ACM na presidência da CRE antes da publicação de declarações atribuídas a ele sobre o suposto envolvimento do ex-secretário-geral da Presidência Eduardo Jorge Caldas Pereira no desvio de R$ 169 milhões destinados à obra do Fórum Trabalhista de São Paulo.
Na conversa, ACM disse ainda que, se os procuradores chegassem a EJ por meio da quebra do seu sigilo bancário de 1994 e 98, chegariam também ao presidente Fernando Henrique Cardoso.
Por causa das declarações, FHC rompeu com ACM e demitiu, na última sexta-feira, dois ministros ligados a ele, Waldeck Ornélas (Previdência Social) e Rodolpho Tourinho (Minas e Energia).
No confronto entre governo e ACM, o partido do senador ficou do lado do governo. O presidente, senador Jorge Bornhausen (PFL-SC), divulgou nota reprovando a atitude do senador baiano.

Isolamento
A partir do mal-estar causado pelo episódio, pefelistas desistiram de tentar uma saída política para evitar o isolamento de ACM. Eles afirmam que não há mais condições para manter a articulação com os demais partidos aliados para dar a presidência da CRE ao senador baiano.
No esforço para pacificar ACM, as cúpulas do PFL, do PMDB e do PSDB haviam concluído que seria importante colocá-lo na presidência de uma das comissões.
Avaliaram que, na CRE, ele seria homenageado mas não poderia criar problemas políticos ao governo, já que se trata de uma comissão encarregada de examinar assuntos externos, como nomeações de embaixadores.
Tradicionalmente, a CRE é presidida por ex-presidentes do Senado. Mas o próprio ACM presidiu a comissão antes de ser presidente da Casa.

Articulação
As negociações que dariam o cargo ao senador baiano estavam avançadas. Por acordo com o PFL, o PMDB havia concordado em não escolher a CRE, considerada a terceira comissão mais importante do Senado.
Na distribuição das presidências, caberá ao PMDB a terceira escolha e havia um compromisso do partido de escolher a presidência da Comissão de Fiscalização e Controle em vez da CRE.
Segundo pefelistas, o Palácio do Planalto já havia dado sinal verde às articulações para acomodar ACM na Comissão de Relações Exteriores, que contavam até com a concordância do presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), adversário de ACM.
A intenção do senador baiano era presidir a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), uma das comissões politicamente mais importantes do Senado. A ela cabe, por exemplo, examinar todas as propostas de emenda constitucional, como as reformas propostas pelo governo, antes de irem a plenário.
Além da objeção dos aliados do governo a dar o cargo a ACM, já havia acordo antigo da cúpula do PFL com o senador Bernardo Cabral (PFL-AM) definindo que o cargo seria dele. A partir da manifestação de interesse de ACM, Cabral declarou que não abriria mão do cargo e, se fosse preciso, disputaria a indicação.


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