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São Paulo, quarta-feira, 26 de fevereiro de 2003

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BAHIAGATE

Depoimentos de supostos envolvidos não esclarecem quem foi o mandante das escutas ilegais, afirma polícia

PF indicia delegado e assessor por autoria de grampo

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

Após dez horas e meia de interrogatório, o delegado Valdir Barbosa, 50, e o assessor da Secretaria da Segurança Pública da Bahia Alan Souza de Farias, 29, foram indiciados na madrugada de ontem pela Polícia Federal por falsificação de documentos públicos e pela autoria dos grampos ilegais que monitoraram escutas telefônicas de adversários políticos do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL), 75.
"Depois de ouvir os depoimentos, a minha conclusão é que ambos mentiram e não descarto a possibilidade de fazer uma acareação", afirmou o delegado da PF Gesival Gomes de Souza, 38, responsável pelo inquérito. Caso condenados, Barbosa e Farias podem pegar até seis anos de prisão.
Sem advogado e primeiro a ser interrogado na PF em Salvador, Valdir Barbosa -que há dez dias pediu afastamento temporário do cargo de delegado-chefe da Polícia Civil- negou qualquer participação no crime e jogou toda a responsabilidade pelos grampos para o assessor Alan Farias.
"O delegado disse que teve apenas dois encontros até hoje com o senador Antonio Carlos Magalhães, ambos na época em que ACM governava a Bahia pela terceira vez [1991-94]", disse Gomes.
Valdir Barbosa disse também que não recebeu "pedido ou pressão, direta ou indiretamente" do senador ACM para grampear seus adversários políticos ou o casal de advogados Plácido Faria, 40, e Adriana Barreto, 30, ex-namorada do senador baiano.
Em nenhum momento do interrogatório, Valdir Barbosa citou o nome do suposto mandante dos grampos, segundo a PF. "O depoimento não acrescentou nada em relação ao mandante", disse o delegado Gesival Souza.
Em seu interrogatório, Alan Farias disse que apenas anotava os números dos telefones sugeridos por policiais que investigaram um sequestro em Itapetinga (BA).
Ele negou que tivesse rasurado um documento judicial para incluir o número de um celular do deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA). "A grafia que aparece no original rasurado não é minha." O delegado Gesival Souza colheu material dos dois depoentes para exame grafotécnico.
Farias citou os nomes de oito policiais civis que teriam solicitado "mais números telefônicos para serem grampeados". Segundo ele, todos os policiais eram da 12ª Delegacia de Polícia, local de trabalho da delegada Katia Alves, antes de ser nomeada secretária da Segurança. O delegado Gesival Souza convocará os oito policiais e Katia Alves para depor.


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