São Paulo, segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

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Lula manda recado ao Uruguai antes de viagem

A jornais locais, presidente brasileiro se diz contrário a acordos fora do Mercosul

Declarações têm tom de alerta ao presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, que demonstrou interesse em negociar com os EUA

ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL

A COLÔNIA DE SACRAMENTO O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou um recado direto ao governo do Uruguai um dia antes de desembarcar no país: em entrevistas por escrito a jornais locais, ele desaconselhou acordos de livre comércio bilaterais fora do Mercosul, dizendo que são incompatíveis com normas do bloco.
"Não creio que os acordos de livre comércio acertados isoladamente sejam compatíveis com as normas do Mercosul", respondeu Lula ao jornal "El Observador", que publicou a declaração como manchete de capa ontem, véspera da chegada do presidente brasileiro.
A declaração tem um tom de alerta, já que o presidente Tabaré Vázquez tem sucessivas vezes manifestado o interesse e a disposição de fechar acordos do gênero com os Estados Unidos. Só não o fez até agora justamente por pressão dos demais sócios do Mercosul, sobretudo do Brasil.
Para Lula, "um Mercosul mais forte, com menos assimetrias e benefícios mais eqüitativos para seus sócios, será um Mercosul capaz de negociar melhores acordos com outros países, em especial os grandes mercados, como Estados Unidos e União Européia".
Um dos motivos da viagem de Lula ao Uruguai é justamente avançar em negociações e acordos bilaterais com o pequeno país do extremo sul do continente, considerado o "irmão pobre" do Mercosul, junto com Paraguai.
O bloco é formado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai e está recebendo a adesão da Venezuela.
Espremido entre o poder econômico dos EUA e a força dos petrodólares venezuelanos, o Brasil avalia que precisa correr para não perder seu papel de liderança na região.
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, tem tido uma participação cada vez mais agressiva na América do Sul, inclusive com acordos camaradas com a Argentina. E os EUA são tradicionalmente uma presença forte na região e têm incrementado sua ajuda ao Paraguai.
Em outra entrevista à imprensa uruguaia, publicada ontem pelo jornal "El País", Lula advertiu: "Os sócios do Mercosul devem estar satisfeitos com os benefícios e as vantagens obtidas dentro do bloco. Só assim permanecerão engajados no processo de integração".
A declaração reforça a expectativa de que Lula leve boas notícias para o Uruguai, como facilidades para a exportação de produtos uruguaios para o Brasil e avanços em conversações para que o país possa contribuir com autopeças para a produção de carros e ônibus brasileiros.
No ano passado, o Brasil exportou US$ 1 bilhão para o Uruguai, mas só importou US$ 618 milhões, o que caracteriza a "assimetria" das relações no Mercosul.
Além disso, o Brasil deverá ceder tecnologia para arrecadação de Imposto de Renda no Uruguai e assinar dois acordos com o país vizinho, um na área de energia e outro na área comercial.
Para o embaixador brasileiro em Montevidéu, José Felício, um item importante da agenda será o etanol, um ponto de interesse comum entre Brasil, Uruguai e EUA. A viagem de Lula será apenas 12 dias antes da chegada do presidente dos EUA, George W. Bush, a São Paulo, dias 8 e 9 de março. Em seguida, Bush irá ao Uruguai.
O presidente brasileiro chega hoje de manhã a Montevidéu e no próprio aeroporto já embarca num helicóptero para Colônia de Sacramento, cidade de 25 mil habitantes. As reuniões serão na casa de veraneio do presidente do Uruguai, a Estância Anchorena.


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