São Paulo, quarta-feira, 26 de março de 2008

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Casa Civil apura vazamento de dados sigilosos sobre FHC

Pasta afirma que informações saíram de um computador instalado no Planalto

Sistema de armazenamento só pode ser acessado por poucos servidores munidos de senha, diz nota; comissão terá 30 dias para apurar caso

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Dados sigilosos de despesas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso vazaram de um computador instalado no Palácio do Planalto, a partir de um sistema a que tem acesso poucos servidores, informou ontem, por escrito, a assessoria da ministra Dilma Rousseff.
Em portaria publicada ontem do "Diário Oficial" da União, Dilma fixa prazo de 30 dias para uma comissão de sindicância investigativa "apurar a divulgação de informações sigilosas no âmbito da Casa Civil da Presidência". A comissão criada ontem é formada por três servidores públicos.
Em resposta a questões apresentadas pela Folha, a Casa Civil explicou que o Suprim (Sistema de Suprimento de Fundos), que armazena dados sigilosos de gastos da Presidência, "somente" pode ser consultado nas dependências do Planalto e por um número reduzido de servidores, "com senhas de acesso e perfis diferenciados".
Com isso, torna-se impossível desconhecer a origem do vazamento, que o próprio governo classificou de "prática criminosa", no sábado.
A Casa Civil não informou quantos nem quais seriam esses funcionários com acesso ao Suprim, mas, em nota, apresentou um detalhe de como teria acontecido o vazamento. Segundo a nota, teria havido uma coincidência entre o vazamento e a digitação dos dados: "Cabe ressaltar que a revista ["Veja'] publicou fragmentos de relatórios impressos de processos referentes a contas tipo B, que estavam sendo digitados".
Ou seja, os dados sigilosos sobre despesas de FHC que vazaram ainda eram incluídos no Suprim depois que o Congresso passou a investigar os gastos com cartão corporativo do governo e quando a oposição insistia em quebrar o sigilo das despesas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A Casa Civil mantém a versão de que a inclusão, no Suprim, de dados de despesas da Presidência retroativos ao governo FHC cumpria uma "recomendação" do TCU (Tribunal de Contas da União).
A decisão do tribunal a que a Casa Civil se refere, votada em 2004, apenas cobra um controle mais eficiente de acompanhamento das despesas de suprimentos de fundos.
O TCU não se manifestou oficialmente ontem, mas insiste em que não determinou ao Planalto alimentar o sistema com dados do governo Fernando Henrique Cardoso ou mesmo a extração de dados do Suprim, como havia sido sugerido em reunião do conselho político, com a presença do presidente Lula, na véspera.
De acordo com a equipe de Dilma Rousseff, o sistema de controle começou a ser alimentado em 2005 com dados do governo Lula. E somente agora estariam sendo digitados dados referentes ao período entre 1998 e 2002.
Informações sobre despesas de FHC, sua mulher, Ruth Cardoso, e assessores foram publicadas pela revista "Veja", em sua última edição. A revista afirma que o Planalto preparou dossiê com gastos do governo tucano com o objetivo de constranger a oposição nas investigações do uso dos cartões corporativos no governo Lula.
A Casa Civil nega a elaboração de dossiê, mas hoje acabou confirmando ontem parte das informações da revista.
A CPI dos Cartões insiste em quebrar o sigilo dos gastos de Lula, que é resguardado por ato do Gabinete de Segurança Institucional, baixado em 2003.


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