São Paulo, quarta-feira, 26 de abril de 2006

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ELIO GASPARI

FFHH e Lula melhoraram o Brasil

Um trabalho de três economistas, divulgado pelo Banco Mundial, insiste: o Brasil deixou de disputar com Serra Leôa o título de campeão da desigualdade mundial. Em 2004, foi rebaixado da segunda posição, onde estava em 1989, para a décima. A partir de 1993, a sociedade brasileira tornou-se menos injusta. A população que vive abaixo da linha da pobreza foi reduzida em 25%. Mérito dos oito anos de FFHH, entre outros fatores, graças ao restabelecimento do valor da moeda, e de dois anos de Lula, com a expansão da herança bendita das políticas sociais do tucanato. Quais? O Projeto Alvorada (1994-1995), o Bolsa-Escola e o Bolsa-Alimentação, de 2000, todos convertidos e ampliados, em 2003, no Bolsa-Família.
Tomados isoladamente, os programas do New Deal do presidente americano Franklin Roosevelt (1933-1945) deram resultados irregulares. Renda, não redistribuíram. O que deu certo foi o conjunto, pela segurança econômica que ofereceu aos cidadãos. Com FFHH sucedeu o contrário. Os programas deram certo, mas a soberba transmitiu uma insegurança social que o conjunto acabou carimbado como fracasso. "Nosso guia" inverteu a conta. Sustenta que os programas dos outros só deram certo depois de sua chegada ao Planalto. Acredita quem quer.
O tucanato sonha com uma campanha eleitoral na qual demonstrará que o governo petista é uma usina de incompetência. "Nosso guia" sonha com uma campanha na qual provará que, noves fora a quadrilha-companheira, seu governo fez pelo andar de baixo o que o de cima não conseguiu fazer em 606 anos. (O Brasil tem 506 anos, mas Lula acha que está um século adiante de seu tempo.) Tentando desmerecer o outro, dedicam-se a um canibalismo que rebaixa o debate, avilta os participantes e banaliza a disputa.
"Nosso guia" tem razão quando critica o pessimismo compulsivo de seus adversários. Requenta a queixa de FFHH diante dos "fracassomaníacos". Pois foi Lula quem disse o seguinte, durante a campanha de 1998: "Como Deus é grande, e ainda não foi privatizado, o desemprego subiu". (Em agosto de 1998, a taxa de desemprego na Grande São Paulo fechou em 18,2%. Em agosto passado, a choldra convivia com 16,9%.)
Numa campanha em que os candidatos disputam um campeonato de certezas sopradas pela marquetagem, o trabalho do Banco Mundial é um regalo intelectual. São três os seus autores: Francisco Ferreira (Banco Mundial), Phillippe Leite (Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, a EHESS francesa) e Julie Litchfield (Universidade de Sussex). Eles oferecem algumas explicações para o progresso social brasileiro. Uma foi a estabilidade da moeda. A trinca brilha no rigor com que enuncia as dúvidas. Buscaram explicações para a redução da desigualdade em aspectos que raramente entram no debate dos candidatos. Coisas como a diminuição das disparidades regionais e raciais. O que aproximou o Brasil rural do urbano? Foi o agronegócio? A aposentadoria dos lavradores? Eles perguntam também se o aumento real do salário mínimo registrado a partir de 1994 não teria sido um fator relevante, ainda que pouco discutido.
Ferreira, Leite e Litchfield deram uma contribuição para a redução das desigualdades intelectuais nas campanhas presidenciais brasileiras.
Serviço: O trabalho pode ser baixado do sítio do Banco Mundial (www.worldbank.org). Infelizmente, está em inglês. Deve-se buscar o documento WPS3867, intitulado "The rise and fall of Brazilian inequality, 1981-2004" (Ascensão e queda da desigualdade brasileira, 1981-2004).


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