|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIO GASPARI
FFHH e Lula
melhoraram o Brasil
Um trabalho de três economistas, divulgado pelo
Banco Mundial, insiste: o Brasil
deixou de disputar com Serra
Leôa o título de campeão da desigualdade mundial. Em 2004,
foi rebaixado da segunda posição, onde estava em 1989, para
a décima. A partir de 1993, a sociedade brasileira tornou-se menos injusta. A população que vive abaixo da linha da pobreza
foi reduzida em 25%. Mérito
dos oito anos de FFHH, entre
outros fatores, graças ao restabelecimento do valor da moeda,
e de dois anos de Lula, com a expansão da herança bendita das
políticas sociais do tucanato.
Quais? O Projeto Alvorada
(1994-1995), o Bolsa-Escola e o
Bolsa-Alimentação, de 2000, todos convertidos e ampliados, em
2003, no Bolsa-Família.
Tomados isoladamente, os
programas do New Deal do presidente americano Franklin
Roosevelt (1933-1945) deram resultados irregulares. Renda, não
redistribuíram. O que deu certo
foi o conjunto, pela segurança
econômica que ofereceu aos cidadãos. Com FFHH sucedeu o
contrário. Os programas deram
certo, mas a soberba transmitiu
uma insegurança social que o
conjunto acabou carimbado como fracasso. "Nosso guia" inverteu a conta. Sustenta que os
programas dos outros só deram
certo depois de sua chegada ao
Planalto. Acredita quem quer.
O tucanato sonha com uma
campanha eleitoral na qual demonstrará que o governo petista
é uma usina de incompetência.
"Nosso guia" sonha com uma
campanha na qual provará que,
noves fora a quadrilha-companheira, seu governo fez pelo andar de baixo o que o de cima
não conseguiu fazer em 606
anos. (O Brasil tem 506 anos,
mas Lula acha que está um
século adiante de seu tempo.)
Tentando desmerecer o outro,
dedicam-se a um canibalismo
que rebaixa o debate, avilta
os participantes e banaliza a
disputa.
"Nosso guia" tem razão quando critica o pessimismo compulsivo de seus adversários. Requenta a queixa de FFHH diante dos "fracassomaníacos". Pois
foi Lula quem disse o seguinte,
durante a campanha de 1998:
"Como Deus é grande, e ainda
não foi privatizado, o desemprego subiu". (Em agosto de 1998, a
taxa de desemprego na Grande
São Paulo fechou em 18,2%. Em
agosto passado, a choldra convivia com 16,9%.)
Numa campanha em que os
candidatos disputam um campeonato de certezas sopradas
pela marquetagem, o trabalho
do Banco Mundial é um regalo
intelectual. São três os seus autores: Francisco Ferreira (Banco
Mundial), Phillippe Leite (Escola de Altos Estudos em Ciências
Sociais, a EHESS francesa) e Julie Litchfield (Universidade de
Sussex). Eles oferecem algumas
explicações para o progresso social brasileiro. Uma foi a estabilidade da moeda. A trinca brilha no rigor com que enuncia as
dúvidas. Buscaram explicações
para a redução da desigualdade
em aspectos que raramente entram no debate dos candidatos.
Coisas como a diminuição das
disparidades regionais e raciais.
O que aproximou o Brasil rural
do urbano? Foi o agronegócio?
A aposentadoria dos lavradores? Eles perguntam também se
o aumento real do salário mínimo registrado a partir de 1994
não teria sido um fator relevante, ainda que pouco discutido.
Ferreira, Leite e Litchfield deram uma contribuição para a
redução das desigualdades intelectuais nas campanhas presidenciais brasileiras.
Serviço: O trabalho pode ser
baixado do sítio do Banco Mundial (www.worldbank.org).
Infelizmente, está em inglês.
Deve-se buscar o documento
WPS3867, intitulado "The rise
and fall of Brazilian inequality,
1981-2004" (Ascensão e queda
da desigualdade brasileira,
1981-2004).
Texto Anterior: Eleições 2006/Presidência: Após ameaça do PFL, PSDB reage para salvar aliança Próximo Texto: Debate: Rubem Alves participa de sabatina na Folha Índice
|