|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CONGRESSO EXPOSTO
Benefícios dados a congressistas vão de cafezinho a jatinho
Ganhos de cada senador chegam a R$ 119,7 mil por mês; os de deputados federais somam R$ 62 mil
Salário dos parlamentares (R$ 16.512) é apenas uma parte de tudo aquilo a que os 594 congressistas têm direito em seus mandatos
FERNANDO RODRIGUES
RANIER BRAGON
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Quem anda pelo Congresso
já ouviu a velha reclamação: um
deputado ou senador não poderia ganhar "só" R$ 16.512,09
por mês tendo em vista a responsabilidade demandada pelo
cargo. "Um executivo de uma
grande empresa ganha muito
mais do que isso", argumenta o
ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro
(PTB-PE), ele próprio deputado federal licenciado.
Na realidade, esse valor do
salário é apenas uma parte pequena de tudo aquilo a que os
594 congressistas têm direito
para exercer seus
mandatos.
Em resumo,
pode-se afirmar
que o Congresso
banca desde o cafezinho ao aluguel do jatinho
do parlamentar.
O valor dos vencimentos praticamente dobra apenas com a
chamada verba indenizatória,
de R$ 15 mil por mês, para gastos de gasolina, aluguel de escritório, alimentação, consultorias, entre outros. Há também dinheiro carimbado para
telefone, motorista, envio de
cartas, assinatura de jornais e
revistas, passagens, auxílio-moradia etc., além de dezenas
de servidores à disposição.
Quando se somam todos
os benefícios em dinheiro
à disposição dos deputados, chega-se a um valor
mensal de R$ 48 mil a
R$ 62 mil para cada um -recebem ainda 15 salários ao ano.
Aí não estão incluídos toda a
infraestrutura oferecida (cerca
de 5.000 funcionários e dezenas de órgãos técnicos), os extras a que deputados da cúpula
têm direito em suas verbas e os
gastos com os assessores para o
gabinete em Brasília e o escritório no Estado -até 25 pessoas a custo de até R$ 60 mil.
Outro valor imensurável é o
da assistência médica. Os deputados podem se tratar nas clínicas da Câmara, ou usar serviços
externos, em caso de emergência ou quando a Casa não os
oferecer. Depois, basta pedir o
reembolso integral, sem limite.
No caso dos senadores, o valor total dos benefícios é ainda
maior. Fica-se entre R$ 74,7
mil e R$ 119,7 mil -para representantes de São Paulo.
Essa variação ocorre, sobretudo, por causa dos gastos postais. Enquanto um senador
amapaense (Estado com a menor população) está autorizado
a apresentar até R$ 4.000 por
mês em despesas postais, um
colega de São Paulo tem direito
de consumir R$ 60 mil -por vir
do Estado mais populoso.
Diferentemente dos deputados, que obedecem a limites
mais definidos, os senadores levam uma vida mais folgada. Na
Câmara, cada um dos 513 representantes pode gastar até
R$ 4.268,55 por mês com telefone e correios, à exceção de líderes e membros da Mesa, que
têm adicional de R$ 1.244,55.
Já os 81 senadores têm um
teto muito maior para enviar
cartas e não precisam se preocupar com o telefone: as contas
não têm limite. O serviço médico é igual ao da Câmara (manda-se a nota e a despesa é reembolsada), mas com um significativo acréscimo: há R$ 26 mil
ao ano, por "núcleo familiar",
para tratamento odontológico.
Nenhuma das Casas é um
exemplo de transparência. Mas
o Senado é nitidamente o mais
hermético. Enquanto os deputados há anos já mostravam o
valor dos gastos com verbas indenizatórias, mensalmente, os
senadores só adotaram esse
costume em dezembro.
Quando se busca uma informação na Câmara sobre o número de funcionários por
gabinete, o dado é rapidamente oferecido. No Senado, não.
O diretor-geral da Casa,
Alexandre Gazineo, respondeu à Folha apenas de
maneira parcial. Ao descrever a estrutura de gabinetes, escreveu que "o senador pode contar com cinco assessores
técnicos, seis secretários parlamentares e um motorista".
Ao se recorrer a outros funcionários da Casa se descobre
que, somando concursados e o
desmembramento de funções
comissionadas, o número total
de pessoas que serve a cada senador pode passar de 80, ao
custo de R$ 97,8 mil mensais, só
contando salário de comissionados.
Às vezes, até detalhes prosaicos não são informados. A Folha queria saber o
tamanho dos
apartamentos
funcionais (os de
deputados têm
225 metros quadrados). Gazineo
pediu "prazo para
apresentar resposta" porque teria de entrar em
"contato com
áreas diversas".
Até a conclusão desta edição,
não havia respondido.
Quanto os senadores podem
gastar com passagens por mês?
A Casa não divulga a informação. Segundo os gabinetes, a cota vai de R$ 13 mil a R$ 25 mil.
Texto Anterior: Elio Gaspari: AirViúva, a preferida dos milionários Próximo Texto: Congresso exposto: Extra de deputado é maior que de executivos Índice
|