São Paulo, domingo, 26 de maio de 2002

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"O que faço é troca de favores", diz o locutor Paulo Lopes

DA REPORTAGEM LOCAL

Paulo Lopes, dono do mais disputado palanque eleitoral no dial paulista, nega que cobre para dar espaço aos políticos em seu programa. Em dinheiro, pelo menos. "O que faço é troca de favores. Usufruo da relação, é uma influência parda. Quantas pessoas eu internei por causa do Serra!"
Quando deixou a rádio Globo, em setembro de 2001, políticos se mobilizaram para convencer a Capital- outro reduto do ouvinte popular- a contratá-lo. Lopes não chegou a ficar dois meses fora do ar até ir para a Capital por um salário que gira em torno de R$ 100 mil -fora o merchandising-, segundo a Folha apurou.
Para lá, levou uma audiência fiel -160 mil ouvintes por minuto- com ouvintes que o acompanham há 15 anos, quando começou o debate com políticos.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista que ele concedeu à Folha. (LM E CC)

 

Folha - Como o sr. seleciona os políticos para seu programa?
Paulo Lopes -
Convidamos uma vez. Se não fala bem, não dá mais para trazer. Tem cara que é bom. Às vezes nem é tão bom político, mas é bom de microfone. Evidentemente entram pessoas que a gente gosta mais do que de outras, e às vezes pensamos: "Precisamos trazer mais gente do PT, tá vindo muita gente do PSDB, do PTB..."

Folha - Há os prediletos?
Lopes -
Há políticos solícitos. Maluf é um deles. Você liga e ele atende a qualquer hora. O Garotinho, então! Já me atendeu no metrô, no carro. Garotinho, Serra e Maluf são ótimos. E há os mais difíceis, como o Lula. O Ciro então, nem se fala! Com ele, a gente não consegue falar de jeito nenhum.

Folha - Costuma-se dizer que o sr. é malufista, e o Maluf frequenta muito seus debates. São amigos?
Lopes -
Sou amigo do Maluf faz tempo. Ele foi ao meu debate por um ano e meio, quando concorreu à prefeitura pela primeira vez. Sabe quem participava com ele? Serra e Covas. Por que não acham que sou covista ou serrista?

Folha - Por quê?
Lopes -
Não sei. Eu fui processado umas duas vezes pelo PT e umas três pelo PSDB porque eles diziam que eu era malufista, mas eles esqueciam que participavam do meu programa da mesma maneira. O PT um pouco menos.

Folha - O sr. segue regras?
Lopes -
A ética que eu tenho é: se puder ter os dois lados, muito bom. Mas não é porque não tenho um lado que eu não vou pôr o outro. Nunca subi em palanque. E me critico: por que não?

Folha - Em qual subiria?
Lopes -
Gosto muito do Serra. [Gosto] Do Garotinho, por ser radialista, por ter dirigido um Estado politizado. No palanque dos dois eu subiria. Em São Paulo, subiria no palanque do Maluf.

Folha - Há políticos que dizem pagar para participar do programa.
Lopes -
Não. O que usufruo deles? A relação. Chamo isso de influência parda. [Se há] Um fiscal perseguindo um comerciante, um anunciante meu com um produto para ser regularizado em Brasília... Uso como lobby. "Pô fulano, você está aqui no meu programa, dá um jeito. Vê se o fiscal está perseguindo esse cara". Ou usufruo da amizade com um vereador para mudar uma ponte, trocar um delegado. Quantas pessoas não internei por causa do Serra! Não tinha vaga [nos hospitais], a gente ligava para o Serra. O assessor dele ligava para lá e operavam, davam vaga. "Minha empregada tem câncer e não há onde internar". "Deixa comigo que eu vou ligar para o Serra". Essa influência é benéfica. Por que nunca fui candidato? Seria bem votado, mas prefiro ser amigo do rei.

Folha - O sr. acha natural pedir que um político libere em Brasília o produto de um anunciante?
Lopes -
Acho natural. Porque o cara está toda semana com você, tem um interesse com você. Porque na vida tudo tem interesse. Quando você chega com um colar em casa para a esposa, imagina que a noite vai ser agradável. É um jogo de sedução. Tudo é. É simplesmente troca de favores.

Folha - Vamos supor que o Serra não tivesse tido boa vontade em atender um pedido do sr. Ele não iria mais ao programa?
Lopes -
Diria: "Que sacanagem". Penso: "Está na marca do pênalti". Quando ele disser: "Queria ir aí na quarta-feira", digo: "Quarta está lotado o programa". Porque essa é a realidade da vida em tudo.


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