São Paulo, sábado, 26 de junho de 2004

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REGIME MILITAR

Nilmário Miranda e prefeita de SP acertaram diligências para localizar restos mortais de preso morto sob tortura em 69

Grupo fará busca de corpo de desaparecido

ANA FLOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Nilmário Miranda (Secretaria Especial de Direitos Humanos) anunciou ontem que novas diligências deverão ser feitas na área do cemitério de Vila Formosa, em São Paulo. Ali estaria enterrado o guerrilheiro Virgílio Gomes da Silva, desaparecido em setembro de 1969.
Gomes da Silva comandou o seqüestro do embaixador dos EUA Charles Elbrick, em 4 de setembro de 1969, no Rio. Ele usava o codinome Jonas e foi assassinado na sede da Oban (Operação Bandeirantes), em São Paulo. Documentos obtidos pela família comprovam a morte. Entre os documentos estão laudos da necropsia, o laudo com as impressões digitais e fotos dele já morto.
Gomes da Silva foi o primeiro "desaparecido" político após a decretação do AI-5 (decreto que suspendeu os direitos e garantias individuais e deu início ao período mais repressivo da ditadura iniciada em 1964), segundo o jornalista Elio Gaspari no livro "A Ditadura Escancarada".
Segundo Nilmário, a decisão foi tomada em uma conversa por telefone com a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), e Hélio Bicudo, vice-prefeito e presidente da Comissão Municipal de Direitos Humanos. As diligências no cemitério serão realizadas pela comissão paulistana.
"Se fôssemos fazer uma comissão [da Secretaria], chamaríamos as mesmas pessoas", disse Nilmário. O fato de o cemitério e o IML serem de responsabilidade municipal reforçariam a obrigatoriedade de uma comissão da cidade."
A intenção da família é localizar os restos mortais. Os familiares também querem que o governo do Estado de São Paulo abra inquérito para investigar as circunstâncias da morte e aponte os responsáveis. Nilmário acredita que as diligências possam resultar em depoimentos novos (de pessoas que antes tinham medo de colaborar nas investigações e que agora ajudariam na localização do corpo). "Acreditamos que o dado novo [a ser encontrado] é basicamente pessoas", disse.
Ele descarta, por enquanto, escavações no local. Entre 1990 e 1991, o local já havia sido escavado, assim como a vala de Perus, no cemitério Dom Bosco, também na cidade de São Paulo. Entre os corpos procurados à época estava o do guerrilheiro, que não foi encontrado. "Acho que vale a pena pesquisar, porque há novos indícios", disse o ministro. Segundo ele, o papel da secretaria especial é ajudar as famílias na localização dos corpos, sempre que apareçam novos fatos.
Segundo a Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos Políticos e o Centro de Documentação Eremias Delizoicov, a informação de que o corpo de Gomes da Silva está o cemitério de Vila formosa é conhecida desde a década de 70. O ministro disse que é possível a modificação do atestado de óbito de Gomes da Silva e que a mudança deve ser requerida pela família dele na Vara de Registros Públicos. A família pede a retificação do documento, onde consta "morte presumida".
Nilmário reconheceu a dificuldade da localização do corpo. Segundo ele, existem milhares de pessoas enterradas no local e o terreno teria sofrido modificações. Há ainda uma versão de que agentes teriam jogado ácido para desmanchar os corpos. "Era uma articulação feita por um time de elite da repressão", disse.


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