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REGIME MILITAR
Nilmário Miranda e prefeita de SP acertaram diligências para localizar restos mortais de preso morto sob tortura em 69
Grupo fará busca de corpo de desaparecido
ANA FLOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Nilmário Miranda
(Secretaria Especial de Direitos
Humanos) anunciou ontem que
novas diligências deverão ser feitas na área do cemitério de Vila
Formosa, em São Paulo. Ali estaria enterrado o guerrilheiro Virgílio Gomes da Silva, desaparecido
em setembro de 1969.
Gomes da Silva comandou o seqüestro do embaixador dos EUA
Charles Elbrick, em 4 de setembro
de 1969, no Rio. Ele usava o codinome Jonas e foi assassinado na
sede da Oban (Operação Bandeirantes), em São Paulo. Documentos obtidos pela família comprovam a morte. Entre os documentos estão laudos da necropsia, o
laudo com as impressões digitais
e fotos dele já morto.
Gomes da Silva foi o primeiro
"desaparecido" político após a
decretação do AI-5 (decreto que
suspendeu os direitos e garantias
individuais e deu início ao período mais repressivo da ditadura
iniciada em 1964), segundo o jornalista Elio Gaspari no livro "A
Ditadura Escancarada".
Segundo Nilmário, a decisão foi
tomada em uma conversa por telefone com a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), e Hélio Bicudo, vice-prefeito e presidente
da Comissão Municipal de Direitos Humanos. As diligências no
cemitério serão realizadas pela
comissão paulistana.
"Se fôssemos fazer uma comissão [da Secretaria], chamaríamos
as mesmas pessoas", disse Nilmário. O fato de o cemitério e o IML
serem de responsabilidade municipal reforçariam a obrigatoriedade de uma comissão da cidade."
A intenção da família é localizar
os restos mortais. Os familiares
também querem que o governo
do Estado de São Paulo abra inquérito para investigar as circunstâncias da morte e aponte os responsáveis. Nilmário acredita que
as diligências possam resultar em
depoimentos novos (de pessoas
que antes tinham medo de colaborar nas investigações e que agora ajudariam na localização do
corpo). "Acreditamos que o dado
novo [a ser encontrado] é basicamente pessoas", disse.
Ele descarta, por enquanto, escavações no local. Entre 1990 e
1991, o local já havia sido escavado, assim como a vala de Perus,
no cemitério Dom Bosco, também na cidade de São Paulo. Entre os corpos procurados à época
estava o do guerrilheiro, que não
foi encontrado. "Acho que vale a
pena pesquisar, porque há novos
indícios", disse o ministro. Segundo ele, o papel da secretaria especial é ajudar as famílias na localização dos corpos, sempre que
apareçam novos fatos.
Segundo a Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos
Políticos e o Centro de Documentação Eremias Delizoicov, a informação de que o corpo de Gomes
da Silva está o cemitério de Vila
formosa é conhecida desde a década de 70. O ministro disse que é
possível a modificação do atestado de óbito de Gomes da Silva e
que a mudança deve ser requerida
pela família dele na Vara de Registros Públicos. A família pede a retificação do documento, onde
consta "morte presumida".
Nilmário reconheceu a dificuldade da localização do corpo. Segundo ele, existem milhares de
pessoas enterradas no local e o
terreno teria sofrido modificações. Há ainda uma versão de que
agentes teriam jogado ácido para
desmanchar os corpos. "Era uma
articulação feita por um time de
elite da repressão", disse.
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