São Paulo, terça-feira, 26 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO" /FUNDOS DE PENSÃO

Sérgio Rosa, presidente da entidade, rebate acusações feitas por Henrique Pizzolato, que se aposentou da diretoria do Banco do Brasil

Previ nega a interferência de Gushiken

GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

O presidente da Previ, Sérgio Rosa, 46, considerou absurdas as acusações do ex-presidente do Conselho Deliberativo da Previ Henrique Pizzolato, feitas em entrevista à Folha, de que existia interferência política e governamental dentro do fundo.
Rosa negou qualquer influência de seu amigo e ex-ministro Luiz Gushiken. "Não existe interferência política e nem tomo as decisões de maneira isolada na Previ", afirmou.
Em férias em Bariloche, na Argentina, com seus dois filhos, Rosa interrompeu por algumas horas o descanso desta semana para rebater por telefone as acusações de Pizzolato.
Ele considerou estranho que só agora, depois de dois anos e meio na presidência do Conselho Deliberativo da Previ, ele faça essas acusações. "Sempre tivemos uma relação correta, e ele nunca manifestou essas questões", disse Rosa.
 

Folha - Em entrevista à Folha, o ex-presidente do Conselho Deliberativo da Previ Henrique Pizzolato afirma que a atual diretoria do fundo ignora os participantes e tem fechado acordos para favorecer interesses políticos e governamentais. O que o sr. diz a respeito disso?
Sérgio Rosa -
Isso é um absurdo. Não existe interferência política e nem tomo decisões de maneira isolada na Previ. A Previ tem seis diretores, seis membros do conselho, muitos gerentes e técnicos, que em sua maioria estão no fundo antes mesmo da chegada da atual diretoria, e todas as decisões são tomadas com base em pareceres técnicos.
Nesses casos envolvendo a área de telecomunicações existem ainda outros cotistas, outros fundos de pensão, as decisões são complexas e sempre com a contribuição de advogados. São decisões que envolvem muita gente. É um absurdo acreditar que decisões envolvendo tantas pessoas possam ser tomadas com base na minha opinião exclusiva ou de um ministro especificamente.

Folha - O sr. nunca procurou o ex-ministro Luiz Gushiken para tomar decisões na Previ? Gushiken nunca influenciou as decisões da Previ?
Rosa -
A Previ sempre atuou com autonomia. Todas as decisões foram tomadas com base técnica, com base no parecer dos seus técnicos e nas decisões coletivas da diretoria e do conselho deliberativo, quando era o caso. A Previ nunca sofreu qualquer tipo de influência externa que quisesse direcionar uma decisão do fundo.

Folha - A que o sr. atribui essas declarações de Pizzolato?
Rosa -
Trata-se de uma postura equivocada dele. Todo mundo sabe que nós não somos responsáveis pela divulgação pública do episódio entre ele e o Luís Eduardo Ferreira da Silva [o contínuo que prestava serviços à Previ e que sacou R$ 327 mil de uma conta da DNA Propaganda no Banco Rural, em janeiro de 2004, a pedido do Pizzolato].
Quem decidiu levar o caso para a imprensa foi o próprio Duda [como Luís Eduardo é chamado na Previ]. Foi ele quem decidiu dar entrevista e foi o próprio Pizzolato que decidiu confirmar as declarações.

Folha - Pizzolato já tinha manifestado antes essas queixas?
Rosa -
Pizzolato é presidente do Conselho Deliberativo da Previ desde o início de 2003. Sempre tivemos uma relação correta, e ele nunca manifestou essas questões. É estranho ele vir a fazê-lo agora. Não fomos nós também que o afastamos da Previ. Foi ele que o fez ao pedir aposentadoria do Banco do Brasil.

Folha - O que o sr. achou da explicação dada por Pizzolato a respeito do saque feito por Luís Eduardo na conta da DNA? [Pizzolato disse que não se lembra de quem pediu a ele que pegasse o pacote e nem a quem ele entregou].
Rosa -
Não quero comentar o fato. Nós só tomamos conhecimento do fato pela imprensa. Só mesmo as autoridades competentes podem analisar melhor o fato.

Folha - Pizzolato diz também que o acordo entre os fundos e o Citibank [chamado de put] precisa ser investigado. Por que o acordo não é divulgado?
Rosa -
O conjunto de acordos firmado por nós com o Citibank foi bastante importante para o investidor brasileiro. Na semana que vem, quando estiver de volta ao Brasil, pretendo fazer uma exposição detalhada sobre o acordo.
Nós finalmente conseguimos direito ao tag along [direito de receber o mesmo prêmio pago ao controlador], uma coisa que reivindicamos há muito tempo do Opportunity e nunca tivemos.
Esta inclusive é uma das razões da nossa briga com o Opportunity. Eles não haviam contratado o direito de tag along. Em qualquer venda que ocorresse, os investidores brasileiros ficariam desprotegidos.

Folha - O valor do acordo [avaliado em US$ 200 milhões] não foi muito alto?
Rosa -
O valor foi calculado com base numa avaliação técnica. Além disso, é para ser exercido apenas no final de 2007. Vale a pena dizer também que o acordo fechado recentemente entre a Telecom Italia e o Opportunity estabeleceu valores muito próximos ao contratado por nós. No nosso caso, o put tem um valor mais relevante porque envolve efetivamente uma posição de controle das empresas.


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