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Fundo Refer teve ingerência do PT, diz ex-dirigente
ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL A BELO HORIZONTE
O ex-presidente da Refer (fundo
de pensão dos ferroviários) Jorge
Moura diz que executivos de bancos privados tentaram interferir
na administração dos investimentos da entidade e apresentavam-se como falando em nome
do ex-secretário de comunicação
do PT Marcelo Sereno. Moura
disse que foi procurado por representantes dos bancos Rural,
BMG, Pactual e Banco Santos.
Segundo Moura, a Refer também sofreu ingerência do deputado federal Carlos Santana (PT-RJ), que emplacou a mulher, Tânia Santana, na diretoria de Seguridade da fundação, e Cristina
Montemor, de quem é compadre,
na presidência do conselho deliberativo da entidade.
Ex-diretor da Rede Ferroviária
Federal e ex-deputado federal (de
1975 a 1983, pelo PMDB), Jorge
Moura, atualmente sem partido,
disse que assumiu a presidência
do fundo a convite do próprio Sereno, com quem conviveu no governo de Benedita da Silva (abril a
dezembro de 2002). Ele foi secretário-executivo da Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos do Estado do Rio de Janeiro quando Sereno foi chefe de
gabinete de Benedita da Silva.
Moura deixou a presidência da
Refer em junho do ano passado,
tendo ficado 11 meses no cargo.
Pressão
Em entrevista exclusiva à Folha,
Moura disse que houve pressão
para que a Refer entregasse a administração de seus investimentos em títulos públicos do governo, no valor de R$ 1,4 bilhão, a
bancos privados, a exemplo do
que ocorreu com outros fundos
de pensão ligados a estatais, como
o Nucleos (das estatais de energia
nuclear) e o Grandeza, dos empregados de Furnas.
A Refer tem patrimônio de cerca de R$ 2,5 bilhões e, entre suas
patrocinadoras, estão a Rede Ferroviária Federal, a CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos), a Metrofor (CE) e a Companhia Paulista de Trens Urbanos.
Moura disse que em setembro
de 2003 começou a ser procurado
por executivos de bancos que
propunham criar fundos exclusivos de investimentos para a Refer
e diziam agir em nome de Marcelo Sereno e do deputado Carlos
Santana, com intermediação de
Juarez Barroso, do PT, atual secretário de Administração da Prefeitura de Nova Iguaçu (Baixada
Fluminense).
Segundo ele, as pressões para a
terceirização dos investimentos
da Refer ficaram mais explícitas a
partir de fevereiro do ano passado, quando o ex-diretor financeiro Adauto Carmona, que havia sido indicado pelo PC do B, foi
substituído por Eduardo da Cunha Teles, ligado ao PT. ""Ele assumiu em 18 de fevereiro e, no dia
seguinte, me disse que estava com
o chicote de Carlos Santana em
suas costas", disse Jorge Moura.
Segundo Moura, um mês depois, Teles formalizou a proposta
de terceirização dos investimentos, que acabou rechaçada pelo
Conselho Deliberativo. O ex-presidente disse que entregou voto
por escrito ao Conselho Deliberativo, dizendo que a política de investimentos da fundação definida
para 2004 pelo próprio Conselho
Deliberativo determinava que os
investimentos fossem geridos pela própria fundação, exceto de R$
85 milhões que estavam sob administração do Banco do Brasil.
O ex-presidente disse que a Refer era encarada por Sereno como
fonte de problemas, porque sindicalistas ligados a Carlos Santana
(que foi presidente do Sindicato
dos Ferroviários do Rio de Janeiro) queriam controlar o fundo de
pensão e viviam em conflito com
o PC do B no meio ferroviário.
"'Como ele [Marcelo Sereno]
não conseguiu o que queria, que
era a terceirização da carteira de
investimentos da Refer, perdeu o
interesse pelo fundo de pensão",
disse Moura.
No início do governo Lula, segundo ele, Santana tentou nomear a mulher, Tânia, para presidente da Refer. Como não conseguiu, tentou emplacar no cargo o
sindicalista Arnaldo Fernandez,
da Bahia. Ele disse que Sereno o
indicou como solução para o "'imbróglio" que havia criado no movimento sindical.
Jorge Moura acusa Carlos Santana de ter ""aparelhado" (ocupado) a estrutura estatal do sistema
ferroviário, indicando cargos de
direção na Rede Ferroviária,
CBTU, Sesef (Serviço Social das
Estradas de Ferro), Central, Refer
e ainda na Companhia Docas do
Rio de Janeiro.
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