São Paulo, terça-feira, 26 de julho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Fundo Refer teve ingerência do PT, diz ex-dirigente

ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL A BELO HORIZONTE

O ex-presidente da Refer (fundo de pensão dos ferroviários) Jorge Moura diz que executivos de bancos privados tentaram interferir na administração dos investimentos da entidade e apresentavam-se como falando em nome do ex-secretário de comunicação do PT Marcelo Sereno. Moura disse que foi procurado por representantes dos bancos Rural, BMG, Pactual e Banco Santos.
Segundo Moura, a Refer também sofreu ingerência do deputado federal Carlos Santana (PT-RJ), que emplacou a mulher, Tânia Santana, na diretoria de Seguridade da fundação, e Cristina Montemor, de quem é compadre, na presidência do conselho deliberativo da entidade.
Ex-diretor da Rede Ferroviária Federal e ex-deputado federal (de 1975 a 1983, pelo PMDB), Jorge Moura, atualmente sem partido, disse que assumiu a presidência do fundo a convite do próprio Sereno, com quem conviveu no governo de Benedita da Silva (abril a dezembro de 2002). Ele foi secretário-executivo da Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos do Estado do Rio de Janeiro quando Sereno foi chefe de gabinete de Benedita da Silva. Moura deixou a presidência da Refer em junho do ano passado, tendo ficado 11 meses no cargo.

Pressão
Em entrevista exclusiva à Folha, Moura disse que houve pressão para que a Refer entregasse a administração de seus investimentos em títulos públicos do governo, no valor de R$ 1,4 bilhão, a bancos privados, a exemplo do que ocorreu com outros fundos de pensão ligados a estatais, como o Nucleos (das estatais de energia nuclear) e o Grandeza, dos empregados de Furnas.
A Refer tem patrimônio de cerca de R$ 2,5 bilhões e, entre suas patrocinadoras, estão a Rede Ferroviária Federal, a CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos), a Metrofor (CE) e a Companhia Paulista de Trens Urbanos.
Moura disse que em setembro de 2003 começou a ser procurado por executivos de bancos que propunham criar fundos exclusivos de investimentos para a Refer e diziam agir em nome de Marcelo Sereno e do deputado Carlos Santana, com intermediação de Juarez Barroso, do PT, atual secretário de Administração da Prefeitura de Nova Iguaçu (Baixada Fluminense).
Segundo ele, as pressões para a terceirização dos investimentos da Refer ficaram mais explícitas a partir de fevereiro do ano passado, quando o ex-diretor financeiro Adauto Carmona, que havia sido indicado pelo PC do B, foi substituído por Eduardo da Cunha Teles, ligado ao PT. ""Ele assumiu em 18 de fevereiro e, no dia seguinte, me disse que estava com o chicote de Carlos Santana em suas costas", disse Jorge Moura.
Segundo Moura, um mês depois, Teles formalizou a proposta de terceirização dos investimentos, que acabou rechaçada pelo Conselho Deliberativo. O ex-presidente disse que entregou voto por escrito ao Conselho Deliberativo, dizendo que a política de investimentos da fundação definida para 2004 pelo próprio Conselho Deliberativo determinava que os investimentos fossem geridos pela própria fundação, exceto de R$ 85 milhões que estavam sob administração do Banco do Brasil.
O ex-presidente disse que a Refer era encarada por Sereno como fonte de problemas, porque sindicalistas ligados a Carlos Santana (que foi presidente do Sindicato dos Ferroviários do Rio de Janeiro) queriam controlar o fundo de pensão e viviam em conflito com o PC do B no meio ferroviário.
"'Como ele [Marcelo Sereno] não conseguiu o que queria, que era a terceirização da carteira de investimentos da Refer, perdeu o interesse pelo fundo de pensão", disse Moura.
No início do governo Lula, segundo ele, Santana tentou nomear a mulher, Tânia, para presidente da Refer. Como não conseguiu, tentou emplacar no cargo o sindicalista Arnaldo Fernandez, da Bahia. Ele disse que Sereno o indicou como solução para o "'imbróglio" que havia criado no movimento sindical.
Jorge Moura acusa Carlos Santana de ter ""aparelhado" (ocupado) a estrutura estatal do sistema ferroviário, indicando cargos de direção na Rede Ferroviária, CBTU, Sesef (Serviço Social das Estradas de Ferro), Central, Refer e ainda na Companhia Docas do Rio de Janeiro.


Texto Anterior: Escândalo do "mensalão"/Fundos de pensão: Previ nega a interferência de Gushiken
Próximo Texto: Outro lado: Sereno diz que apenas repassava nomes da base
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.