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Ex-ministro recebeu alerta sobre fraude, mas reação foi lenta
Humberto Costa demorou um mês para criar um grupo de trabalho para investigar suspeitas na compra de ambulâncias
Medidas adotadas por pasta em 2005 para aprimorar convênios com prefeituras não impediram que parte
de verba chegasse à Planam
LUCIANA CONSTANTINO
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Documentos recuperados
nos arquivos do Ministério da
Saúde mostram que foi lenta e
praticamente sem efeito a reação do então ministro Humberto Costa ao alerta de fraude
na compra de ambulâncias.
Avisado em novembro de
2004 por ofício da CGU (Controladoria Geral da União) sobre a atuação de uma quadrilha
na área, o ex-ministro criou um
grupo de trabalho mais de um
mês depois da notificação.
Com prazo de dez dias para
indicação dos integrantes, o
grupo só foi formado em fevereiro de 2005. Tinha 45 dias para investigar e propor medidas
para conter a fraude.
Em março daquele ano, sem
citar o trabalho do grupo, o então ministro publicou portaria
com novas regras para convênios com municípios. Foi criado sistema de senha para deixar
registrada a participação dos
parlamentares no destino do
dinheiro público e as cidades
beneficiárias por liberações.
Depois disso, o ministério
continuou assinando convênios com municípios para a
compra das ambulâncias. Só
em 2005, foram assinados
1.326 convênios desse tipo, ao
custo de R$ 111,7 milhões.
O repasse só foi suspenso em
maio deste ano, quando a Polícia Federal desencadeou a Operação Sanguessuga. Na ocasião,
o ministro interino da Saúde,
Agenor Álvares, classificou de
"frouxo" o controle.
O alerta
Em ofício encaminhado em
30 de novembro de 2004, a
CGU alertou Humberto Costa
sobre a existência de uma "quadrilha operando em âmbito nacional" para desviar dinheiro
público destinado à compra de
ambulâncias. As fraudes em
processos licitatórios haviam
sido detectadas em municípios
fiscalizados pela Controladoria
por meio de sorteios. A CGU
apontava "fragilidade" no controle e pedia providências.
Humberto Costa reafirmou à
Folha anteontem que recebeu
ofício da CGU e encaminhou o
documento à consultoria jurídica do ministério. O parecer
da consultoria reconhecia a
"gravidade" das denúncias e
determinava que investigações
fossem feitas "sigilosamente",
afirmou o ex-ministro.
Em entrevista em maio, Costa afirmou que o ministério
não havia conseguido confirmar a fraude e, por isso, continuou liberando dinheiro para a
compra de ambulâncias.
Para Agenor Álvares, o resultado do trabalho do grupo está
nas modificações feitas em
normas de convênios para
"aperfeiçoar" o mecanismo de
liberação de dinheiro às prefeituras. "Passamos a identificar
qual parlamentar indicou [o repasse] e para onde vai o dinheiro." Ele afirmou que o ministério vem ajudando as investigações da PF e da CGU e, ao mesmo tempo, tentando aprimorar
o sistema de fiscalização.
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