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Marcelo Coelho
Favas contadas
A CAMPANHA de Geraldo Alckmin começou com sérios
problemas, entrou em estado crítico e agora, quando parece que não pode
piorar, piora mais ainda.
O que aconteceu no
Ceará diz tudo sobre a situação. Candidato à reeleição pelo PSDB, o governador Lúcio Alcântara foge de qualquer vinculação
com "Geraldo", e tenta associar-se ao nome de Lula.
Imagens de Alckmin não
aparecem na propaganda
do PSDB cearense. O que
aparece são fotos de Lula
ao lado do governador.
Um pronunciamento de
Lula, com elogios ao tucano, também é divulgado.
Ou era, porque a Justiça
eleitoral achou demais.
Um tucano querendo se
aninhar a Lula? Algo na lei
sobre as coligações haverá
que impeça tal manobra.
Lúcio Alcântara se debate,
chama seus advogados,
grasna um argumento: a
propaganda mostraria
apenas sua capacidade de
firmar parcerias com a administração federal.
Claro que com isso o
eleitor sai confuso, e Alckmin sem saber aonde ir.
Mas a lógica política do governador cearense vai
além da prestidigitação
desesperada. Trata-se, afinal, de dar como certa a vitória de Lula; que cada aspirante a governador, assim, cuide de pensar no
próprio futuro.
Em Minas e São Paulo, a
situação é ainda mais clara. A julgar pelas pesquisas, dois tucanos assumirão o governo. Qual seria, a
esta altura, a vantagem de
radicalizar o discurso de
oposição a Lula?
A violência verbal contra "o governo mais corrupto que já houve na história" fica então a cargo da
periferia extremista do
PFL e do PSDB: zona de
desespero em que temos o
desprazer de encontrar,
ao lado de Bornhausen e
ACM, a figura de Fernando Henrique Cardoso.
O discurso "light" que
Alckmin adotou até agora
tem muito a ver, naturalmente, com a própria personalidade do candidato.
Acaba sendo conveniente,
numa reviravolta irônica,
aos setores mais pragmáticos do PSDB. Os governadores terão de conviver
quatro anos com Lula.
E Lula, cabe não esquecer, terá de conviver com
um Congresso em que o
número de parlamentares
petistas corre o risco de
ser menor do que é agora.
Sua proposta de um grande entendimento nacional, que o ajudaria, quem
sabe, a se livrar das pressões mais imediatas do
baixo clero do Congresso,
vai nesse sentido.
O antigo, utópico projeto de convergência entre
PT e PSDB não tem garantia de prosperar quando se
pensa nas eleições de
2010. A fraqueza de Lula
no Congresso, e a força
dos tucanos no plano estadual, podem entretanto
apontar para uma repartição negociada entre as diferentes esferas de poder.
A atitude de Lúcio Alcântara, desse ponto de
vista, pode significar mais
que o oportunismo a que
se resume de fato; talvez
indique uma disposição
pragmática que, apesar do
ridículo das circunstâncias, acaba surgindo como
visão de longo alcance.
MARCELO COELHO é colunista da Folha
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