São Paulo, quarta-feira, 26 de agosto de 2009

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Conselho sofre baixas e Suplicy ataca Sarney

Petista mostra cartão vermelho ao presidente do Senado, mas fica desorientado ao ser questionado por seguir ordens de Lula

A saída do DEM e do PSDB do Conselho de Ética teve um efeito mais político do que prático, mas impediu Casa de retomar seus trabalhos


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar de absolvido de 11 acusações na semana passada, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), enfrentou ontem mais um dia negativo. A oposição o boicotou e o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) pediu a saída do peemedebista em discurso no plenário no qual exibiu um cartão vermelho.
O clima ficou pesado no Senado no início da tarde, quando a oposição se recusou a participar de uma reunião com Sarney. O encontro seria para discutir a pauta da Casa.
Os senadores oposicionistas também renunciaram às vagas a que tinham direito no Conselho de Ética. Foi uma forma de protestar contra a permanência do presidente do Senado na cadeira. Tucanos renunciaram às três vagas a que têm direito no colegiado- duas de titulares e uma de suplente. O DEM renunciou às seis vagas -três de titulares e três de suplentes.
No início da noite as coisas pioraram. Eduardo Suplicy subiu à tribuna e, de maneira teatral, pediu a renúncia de Sarney. Levantou com a mão direita um cartão vermelho, numa alusão à expulsão de um jogador indisciplinado durante uma partida de futebol.
Em seu discurso, anunciado desde o início da tarde, Suplicy pretendeu marcar posição diferenciada em relação ao PT. O partido foi enquadrado pelo Planalto e ajudou na absolvição de Sarney. O petista foi apoiado por Cristovam Buarque (PDT-DF), que sugeriu que os brasileiros usassem um cartão vermelho no bolso em protestos.
Foi um ato de marketing calculado de Suplicy: avisado por sua assessoria que a cena não tinha sido registrada por alguns fotógrafos, o petista levantou mais algumas vezes o pequeno pedaço de cartolina vermelha.
A seguir compareceu ao plenário o senador Heráclito Fortes (DEM-PI). Ele questionou a sinceridade de Suplicy, dizendo que ele apenas dava satisfação pública porque o governo obrigou o PT a salvar Sarney.
Suplicy ficou alterado. Com a face vermelha, batendo a mão no apoio à sua frente, começou a responder aos gritos. Disse estar sendo sincero ao pedir a renúncia de Sarney. Foi quando Heráclito o apertou: perguntou se o cartão vermelho também seria dado ao presidente Lula, que comandou a operação na qual o PT ajudou a engavetar as acusações contra Sarney.
Desconcertado, Suplicy não respondeu a Heráclito. Disse seguir orientações de Lula. "Ele [Lula] mencionou que a ética para o PT é importante, a minha crítica leva em consideração a sua recomendação feita", disse o petista, que recebeu um copo de suco de maracujá.
De petistas, estavam presentes Flávio Arns (PR), que já anunciou a intenção de deixar o partido, e João Pedro (AM). O líder Aloizio Mercadante (SP) passou o dia em São Paulo e também não assistiu a Suplicy pedir a renúncia de Sarney.
O episódio do cartão vermelho foi a conclusão de um dia ruim para Sarney -que não estava no plenário quando Suplicy o atacou. A renúncia coletiva de nove senadores de oposição no Conselho de Ética teve um efeito mais político do que prático, mas dominou as discussões e impediu o Senado de voltar ao trabalho normal.
O gesto da oposição também colocou em pauta a discussão sobre mudanças no conselho. Até governistas apoiam essa alteração. O próprio Sarney já defendeu, em artigo publicado na Folha, a extinção do órgão. Nesse caso, passaria a ser atribuição do STF julgar os senadores. A tendência é que o órgão continue existindo, mas com outro formato.


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