São Paulo, Domingo, 26 de Setembro de 1999
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GRAMPO NO BNDES
Coronel Maurício Garcia, hoje deputado, entregou lista com nomes ao general Alberto Cardoso
"Guerra" de espiões revelou suspeitos

ELVIRA LOBATO
MÁRIO MAGALHÃES
da Sucursal do Rio

A lista de suspeitos de terem instalado o grampo telefônico na presidência do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) por ocasião da privatização da Telebrás chegou ao conhecimento da Polícia Federal, no final do ano passado, graças a uma disputa entre facções da chamada ""comunidade da informação".
A Folha apurou que um coronel reformado do Exército redigiu a lista e fez com que chegasse ao delegado Rubens Grandini, responsável pelo inquérito do grampo na Polícia Federal. A lista apontava os nomes dos supostos mandantes e dos operadores.
Na mesma ocasião, o coronel Maurício Garcia, hoje deputado federal (PSDB-RJ), entregou uma lista semelhante ao general Alberto Cardoso, chefe da Casa Militar.
Os nomes foram apontados por ex-agentes dos órgãos de informação do regime militar (1964-85) que hoje vivem de espionagem e escuta clandestina.
Os nomes dos suspeitos só foram revelados porque há uma guerra entre os grupos (sobretudo vendedores de equipamentos) que atuam no ramo e que têm o mapeamento completo dos que fazem grampo telefônico no Rio.
Segundo a versão desses agentes, apenas quatro pessoas no Rio seriam capazes de fazer o grampo no BNDES. O coronel que forneceu a lista à PF chegou ao nome do detetive Adílson Alcântara -ex-agente do Cenimar (Centro de Informações da Marinha)- depois de receber a informação de dois informantes.
Um deles teria sido Waldeci Alves de Oliveira, ex-funcionário da Telerj que hoje presta serviços para a Polícia Civil.
Em depoimento prestado ao delegado Grandini, em junho deste ano, Waldeci disse ter sido procurado por Adílson no final de 97 com a proposta de fazer o grampo no BNDES. Afirmou ter recusado, mas não guardou sigilo sobre a oferta, que chegou ao conhecimento de outros agentes.
Entre as informações repassadas ao governo, consta que o grampo no BNDES custou R$ 10 milhões, divididos entre todos que participaram da operação.
Em entrevista à Folha em agosto, Adílson Alcântara deu uma informação que confirma parte da versão que vazou para a PF.
Ele disse que o grampo no BNDES teria sido encomendado em dezembro de 97 e que tinha fim comercial, ou seja, obter informações privilegiadas sobre a privatização da Telebrás.
Nas duas listas de suspeitos figura o nome de Temílson Resende, o Telmo, analista de informação da Subsecretaria de Inteligência Militar no Rio de Janeiro que está com prisão preventiva decretada e foragido.
Por essas versões, coube a Telmo "inteligenciar" as fitas, o que significa, no jargão do meio, editar o material, eliminando os silêncios e os diálogos que não tenham relação com a espionagem.

Investigação
O delegado Rubens Grandini viajou para Brasília na semana passada para colher informações sobre Gersy Firmino da Silva, coordenador de Operações da Subsecretaria de Inteligência do Gabinete Militar.
Em depoimentos prestados à PF, Firmino da Silva havia dito ter encontrado as fitas do grampo debaixo de um viaduto, a partir de telefonema anônimo.
Grandini investiga a possibilidade de a versão ser falsa. O delegado passou um dia em diligências em Brasília.


Colaboraram Ronaldo Soares e Letícia Kfuri, da Sucursal do Rio

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