São Paulo, quarta-feira, 26 de setembro de 2001

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NO AR

Palavras, palavras, palavras

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

Não passou de uma semana a operação Justiça Infinita. Seguindo o modelo de escolha de alguns títulos de cinema, primeiro soltaram o balão de ensaio, por assessores não-identificados. Esperaram a reação, que não foi boa.
Para "scholars" islâmicos, na verdade, só Allah poderia realizar a tal justiça infinita.
Daí, ontem, o próprio secretário da Defesa dos EUA surgiu na televisão para dar o nome definitivo. É Liberdade Duradoura, na tradução da Globo para Enduring Freedom.
É um título bem mais fraco, mas nos EUA, onde Bush já pediu desculpas por falar em "cruzada", a discussão sobre expressões politicamente incorretas não é uma piada -como costuma ser tratada aqui.
Que o diga até a extrema direta americana. O telepastor Jerry Falwell já se desculpou aos "pagãos, feministas e gays" que culpou pelos atentados.
E agora Rush Limbaugh, um radialista lendário, tratou de se desculpar com o âncora da ABC, Peter Jennings -a quem chamou de "pequeno Peter", "filho do Canadá" etc. em reação aos comentários de Jennings sobre George W. Bush.

 

No Brasil, depois dos excessos da Globo e do último Domingo Legal, no SBT, vai minguando o esforço para achar a ligação entre o país e o terror.
A "pista" do Rio Grande do Sul não foi longe, depois do sensacionalismo inicial. E a história do "cônsul honorário" que é irmão de Bin Laden não passou de uma curiosidade.
Ficou a vontade do governo FHC de mostrar serviço. Pode não haver ligação entre Brasil e os terroristas, mas na rádio já se falava ontem da abertura de um escritório do Serviço Secreto dos EUA em São Paulo.
Mais importante, ficou o serviço prestado pelo Brasil na Organização dos Estados Americanos, invocando o tratado que garante apoio militar.
O secretário Colin Powell registrou sua "gratidão especial". Um funcionário do Departamento de Estado elogiou a "liderança ampla e visionária" do Brasil, que mostrou ser um "poder genuinamente global".
FHC deve ter derretido.
 

Mas o que ficou mesmo de Brasil até aqui, na cobertura dos atentados, foi o e-mail afirmando que eram falsas as imagens da Reuters apresentadas pela CNN, com a comemoração dos palestinos no dia 11.
Agora está até na "home page" da CNN, que apresenta sua nota oficial, a da Reuters e o "esclarecimento" da Unicamp, explicando que o estudante Márcio Carvalho já desmentiu tudo -e que ela, Unicamp, não tem nada a ver com a história.
E-mail: nelsonsa@uol.com.br



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