São Paulo, domingo, 26 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

AGENDA OFICIAL

Visita foi decisão de última hora, após ida ao Rio

Na Bienal, Lula diz que ditadores sempre afastaram artistas e povo

DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu ontem, de última hora, ir à abertura da 26ª Bienal de São Paulo. Último a discursar, ele foi aplaudido e ovacionado pela platéia -restrita a convidados- ao ser chamado ao microfone.
Vindo do Rio, Lula chegara pouco antes das 20h ao parque Ibirapuera (zona sul), acompanhado por três ministros -Márcio Thomaz Bastos (Justiça), Aldo Rebelo (Coordenação Política) e José Viegas (Defesa).
Durante cinco minutos, o presidente leu um discurso no qual ressaltou a necessidade de democratização da cultura e frisou a importância das parcerias públicas e privadas que permitiram que a entrada na mostra seja gratuita neste ano, pela primeira vez.
"Tenho certeza de que essa decisão [acerca da gratuidade] só tornará mais verdadeiro o tema da bienal. Estamos num "Território Livre", onde cada cidadão, podendo ou não pagar, poderá expandir seus horizontes", disse Lula.
Criticado recentemente pelo teor do texto que regulamenta o setor do audiovisual e por patrocinar a criação do Conselho Federal de Jornalismo -ambas as medidas vistas como cerceadoras da livre expressão-, Lula defendeu a liberdade artística.
"A arte é a voz das nossa crenças e angústias. Da nossa esperança e da nossa resistência. É a fronteira por excelência da nossa liberdade. A cultura é o abrigo que distingue um povo de um amontado de gente ou de uma estatística de consumo. Por isso, todos os ditadores, em todos os tempos, sempre temeram a proximidade entre os artistas e o povo. Mas a liberdade é o oxigênio de uma nação. E em nosso governo, o Estado está retomando seu papel na promoção da cultura."
O discurso de Lula foi antecedido por falas do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), também aplaudido, e pelo secretário municipal da Cultura, Celso Frateschi, que falou em nome da prefeita Marta Suplicy (PT).
Frateschi disse que Marta sentia muito por não comparecer ao evento, mas que não pôde ir à Bienal devido a "uma interpretação extremamente rígida da lei eleitoral". Em seguida, leu um discurso que atribuiu à prefeita, no qual elencou quase todas as obras do governo petista, dizendo que a gestão "fez mais do qualquer outra" em cultura, lazer e educação.

Pintinhos
Antes de viajar a São Paulo, Lula participou, no Rio, de uma cerimônia de entrega de diploma a 13 mil alunos do curso de alfabetização do Sesi. No evento, pediu que os recém-alfabetizados "seguissem" seu exemplo e acreditassem que podem ir muito mais longe do que "os livros dizem".
Em seu discurso, com diversas exaltações ao poder de superação de brasileiros, Lula usou o slogan da campanha do governo -"eu sou brasileiro e não desisto nunca"- e disse que era o dia mais feliz dos 21 meses de governo.
"É como se esse palco fosse um grande ovo cheio de pintinhos dentro, que até então não sabiam como era o mundo. Esse curso, na verdade, fez vocês quebrarem a casca do ovo e aparecerem para o mundo que vocês vão viver daqui para frente. A alfabetização é exatamente isso."


Texto Anterior: Janio de Freitas: Desculpas indesculpáveis
Próximo Texto: No Planalto: Medida provisória do Prouni cria o "promamata"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.