|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Gustavo Ioschpe
Lula sabia?
A PERGUNTA QUE circula, nesses dias em
que nos deparamos
com mais um típico escândalo oriundo do método lulo-petista de governar é:
Lula sabia? Acho que sim,
assim como creio que pouco importa, e me explico.
Acredito que Lula sabia
por uma série de motivos.
Primeiro, porque Wagner
Cinchetto admitiu ter participado do grupo de formação de dossiês contra adversários na campanha de
Lula de 2002, dizendo explicitamente sobre o conhecimento do candidato:
"não só tinha conhecimento como autorizou que o
grupo fosse criado". Segundo, porque todos os envolvidos na operação sabiam
que seu malogro teria conseqüências dramáticas para
a campanha de Lula, e duvido que se atrevessem a entrar nesse risco sem que a
maior vítima em potencial
estivesse de acordo. Terceiro, pelas pessoas envolvidas. Os envolvidos na chefia
da operação têm ligação direta com Lula: Berzoini foi
seu ministro e era chefe da
sua campanha, Lorenzetti
era seu amigo e churrasqueiro, Freud Godoy era
uma espécie de faz-tudo há
anos. Difícil de imaginar
que pessoas com esse nível
de acesso tenha empreendido uma ação desse porte
sem ao menos avisar o presidente-candidato. Quarto,
porque se encaixa no método petista de achincalhar
opositores. A campanha
"Fora, FHC", o caso Eduardo Jorge, os cartazes associando Jorge Bornhausen a
Hitler, a campanha contra
Paulinho nas eleições de
2002 e agora esse dossiê: há
um método. É possível desconhecer o trabalho de subalternos na primeira vez.
Mas quando ocorre uma segunda, há que se imaginar
que há a conivência das lideranças da organização.
Tudo isso, porém, são
conjecturas amparadas na
lógica e nos fatos. Certamente, lulistas de carteirinha hão de usar outra lógica
e outros fatos para chegar a
conclusões distintas. Portanto, é uma discussão que
importa pouco. O fundamental é: ele tinha de saber.
Assim como no direito
vale a máxima de que ignorantia juris non excusat -o
desconhecimento da lei
não é desculpa para inocentar o criminoso- em qualquer organização vale o
princípio de que o desconhecimento do chefe não o
desculpa dos erros dos subalternos. Lula é culpado
pelo dossiê porque escolheu Berzoini para ser seu
chefe de campanha. Ponto.
E assim tem de ser, especialmente quando se trata
da Presidência, porque senão todo governante diria a
seus subordinados: "façam
todas as loucuras que vocês
acharem importantes para
o meu mandato, mas não
me contem". Se um presidente pudesse se eximir da
responsabilidade dessa maneira, não só teríamos dossiês e mensalões, como talvez coisa muito mais séria.
Se o presidente é inimputável pela ação de seus subordinados, talvez tenhamos
amanhã o Exército invadindo a Argentina ou testando uma bomba atômica,
a Fazenda atrelando o real
ao dólar e a Polícia Federal
abrindo as fronteiras.
Enfim, ou os chefes têm
responsabilidade sobre a
ação de seus subordinados
ou não são chefes.
GUSTAVO IOSCHPE é mestre em desenvolvimento econômico pela Universidade Yale (EUA)
Texto Anterior: Lançamento de programa de governo é sinal de que Serra pode ir a debate hoje Próximo Texto: Eleições 2006/Presidência: "Isso não é Cristo, isso é o demônio", diz FHC sobre comparação de Lula Índice
|