São Paulo, terça-feira, 26 de setembro de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / PARANÁ

TRE nega a Requião censura contra reportagem da Folha

Peemedebista pediu liminar para barrar texto sobre araponga que atuava no governo

Coordenação de campanha de governador solicitou ainda a quebra de sigilo telefônico de repórteres que cobrem caso das escutas


MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

A coordenação jurídica da campanha à reeleição do governador licenciado do Paraná, Roberto Requião (PMDB), tentou impedir a publicação de uma reportagem da Folha ainda em apuração pelo repórter Rubens Valente e tentou convencer o Ministério Público a pedir à Justiça a quebra de sigilo telefônico da correspondente da Folha em Curitiba, Mari Tortato, e de mais três jornalistas da "Gazeta do Povo".
Todas as investidas da Coligação Paraná Forte (PMDB-PSC) buscaram proibir na imprensa notícias da investigação da PIC (Promotoria de Investigações Criminais) sobre uma suposta quadrilha de arapongas que tinha como líder o policial civil e ex-assessor do governo Délcio Augusto Rasera, que está preso.
O caso envolve pessoas do primeiro escalão do governo Requião na investigação.
A tentativa de impedir a publicação da reportagem da Folha foi negada pela Justiça Eleitoral no domingo. O juiz Munir Abagge, do TRE (Tribunal Regional Eleitoral), disse que conceder a liminar pedida pela campanha de Requião seria "gritante censura prévia".
A coligação e o secretário-geral do PMDB-PR e candidato a deputado estadual, Luiz Cláudio Romanelli, ingressaram no sábado no TRE com um pedido de tutela inibitória para impedir a publicação de uma reportagem de Valente sobre um conjunto de escutas, supostamente ilegais, atribuídas a Rasera. Numa das gravações, Romanelli, presidente licenciado da Cohapar (Companhia de Habitação do Paraná), conversa com outro integrante do governo. O diálogo envolve o nome de Requião.
O repórter da Folha telefonou para Romanelli na sexta para ouvir sua versão sobre as interceptações. No sábado à tarde, a coligação protocolou o pedido de tutela inibitória da notícia. O pedido de liminar tentou ainda estender a proibição à publicação de outras reportagens que envolvessem documentos que a coligação considera "obtidos ilicitamente", por quebrar o segredo de Justiça da investigação.
"Não é de se supor, como querem fazer crer os representantes, que um jornal desta respeitabilidade, desta projeção nacional, apresente reportagens ilícitas, obtidas ilicitamente, e que as divulgue também com o propósito ilícito. A Constituição Federal estabelece o direito à liberdade da imprensa sem censura de qualquer natureza", disse o juiz.
Por decisão editorial -e sem saber do pedido de liminar-, a Folha publicou no domingo outra reportagem envolvendo o policial Rasera e suas ligações com o governo Requião.

Sigilo telefônico
A operação para tentar inibir o trabalho da imprensa sobre o caso Rasera teve um primeiro lance na sexta. Em nome da coligação pró-Requião, o advogado Cezar Eduardo Ziliotto protocolou na Corregedoria Geral do Ministério Público um pedido de providências ao procurador-chefe, Ernani de Souza Cubas Jr., para que fosse à Justiça pedir a quebra de sigilo telefônico da repórter da Folha e de Caio Castro Lima, Karlos Kohlbach e Celso Nascimento, da "Gazeta do Povo", sob o argumento de que informações e documentos resguardados pelo sigilo de Justiça vazaram.
O pedido de providências acusava ainda os jornalistas de "agir ilegalmente para obtenção de prova ilegal" e dizia que as notícias do caso Rasera se prestam a ataques no programa eleitoral gratuito do candidato do PDT ao governo, Osmar Dias, contra Requião.
Depois de sugerir que o vazamento ocorre no Ministério Público, a coligação também pede a quebra do sigilo telefônico dos promotores envolvidos na investigação.
Ontem o corregedor do Ministério Público do Estado informou que o pedido de providências não foi analisado porque o advogado esqueceu de juntar aos documentos uma procuração de que representa a coligação pró-Requião.

Denúncias
A PIC protocolou ontem na Justiça duas denúncias contra a suposta quadrilha de grampos ilegais. De 20 pessoas denunciadas, uma detinha cargo no governo Requião: o presidente da Imprensa Oficial do Estado, João Carlos de Almeida Formighieri. Rasera foi denunciado como chefe da quadrilha.
Ele também foi denunciado à Vara de Inquéritos de Curitiba sob acusação de posse ilegal de armas de fogo. A Folha não localizou os advogados de Rasera e Formighieri ontem.


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