São Paulo, sábado, 26 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NO AR

Obra de Duda

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

Duda Mendonça fez o que sempre faz, no final das suas campanhas.
Reuniu equipe e candidato, aplaudiram-se uns aos outros, emocionaram-se. E Duda, como Hitchcock, apareceu.
Ele tem mesmo que aparecer. Está levando Lula a algo que nem o próprio esperava mais. Na disputa dos baianos, venceu Nizan Guanaes, que havia eleito FHC duas vezes.
O petista, a cada eleição, saía na dianteira e depois caía. Para a história não se repetir, Duda fugiu da emoção, da campanha "dionisíaca". Pelo contrário, fez de tudo para abafar a disputa, evitar o conflito.
Foi o que conseguiu, por exemplo, ao definir com a Globo -e com a equipe de Nizan- que o debate de ontem não teria perguntas de um candidato a outro. O efeito, como se viu, foi suprimir o conflito.
Foi também o que Duda fez no momento de maior apreensão dos petistas no horário eleitoral do segundo turno.
Sem citar o nome de Regina Duarte, o marqueteiro jogou no ar outra atriz de telenovela, muito jovem, dizendo que ela não tinha medo. Por outro lado, desativou a reação preparada pelos patrulheiros na reunião de artistas no Rio.
De resto, do começo ao fim, Lula atravessou a propaganda como se não houvesse com quem dialogar.
Fora da propaganda, a ação do marqueteiro se fez sentir em outra ocasião de risco.
Foi ainda em agosto, quando Benedita da Silva deixou sair uma conclusão sobre a morte de Tim Lopes que dizia que a culpa era do próprio. William Bonner, em editorial raivoso, só faltou acusar o PT. Mas, antes mesmo que chegasse o Jornal da Globo, Duda já havia acionado José Dirceu e a própria governadora para a reação.
Ana Paula Padrão anunciava, pouco depois, que os autores do inquérito estavam exonerados. No editorial seguinte, no JN, Bonner se derramou em elogios. Obra de Duda.
 
O debate, se revelou alguma coisa, foi como Duda represou o desejo de Lula de responder aos ataques de Serra.
O tucano, após início contido, voltou a atacar a capacidade do petista em tudo, questionando números e se postando diante dele, superior.
Mas Lula, exasperado aqui e ali, conteve seu desejo uma vez mais. Foi o moderado que Duda tanto queria.
 
Chamado ao debate, o "povo", pela regra, foi obrigado a ler as perguntas. Sob controle.



Texto Anterior: Na TV, Lula agradece; Serra fala em virada
Próximo Texto: Reta Final: A empresários, Alencar defende adesão à Alca
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.