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NO AR
Obra de Duda
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
Duda Mendonça fez o que
sempre faz, no final das
suas campanhas.
Reuniu equipe e candidato,
aplaudiram-se uns aos outros,
emocionaram-se. E Duda, como
Hitchcock, apareceu.
Ele tem mesmo que aparecer.
Está levando Lula a algo que
nem o próprio esperava mais.
Na disputa dos baianos, venceu
Nizan Guanaes, que havia eleito
FHC duas vezes.
O petista, a cada eleição, saía
na dianteira e depois caía. Para
a história não se repetir, Duda
fugiu da emoção, da campanha
"dionisíaca". Pelo contrário, fez
de tudo para abafar a disputa,
evitar o conflito.
Foi o que conseguiu, por
exemplo, ao definir com a Globo
-e com a equipe de Nizan-
que o debate de ontem não teria
perguntas de um candidato a
outro. O efeito, como se viu, foi
suprimir o conflito.
Foi também o que Duda fez no
momento de maior apreensão
dos petistas no horário eleitoral
do segundo turno.
Sem citar o nome de Regina
Duarte, o marqueteiro jogou no
ar outra atriz de telenovela,
muito jovem, dizendo que ela
não tinha medo. Por outro lado,
desativou a reação preparada
pelos patrulheiros na reunião de
artistas no Rio.
De resto, do começo ao fim,
Lula atravessou a propaganda
como se não houvesse com
quem dialogar.
Fora da propaganda, a ação
do marqueteiro se fez sentir em
outra ocasião de risco.
Foi ainda em agosto, quando
Benedita da Silva deixou sair
uma conclusão sobre a morte de
Tim Lopes que dizia que a culpa
era do próprio. William Bonner,
em editorial raivoso, só faltou
acusar o PT. Mas, antes mesmo
que chegasse o Jornal da Globo,
Duda já havia acionado José
Dirceu e a própria governadora
para a reação.
Ana Paula Padrão anunciava,
pouco depois, que os autores do
inquérito estavam exonerados.
No editorial seguinte, no JN,
Bonner se derramou em elogios.
Obra de Duda.
O debate, se revelou alguma
coisa, foi como Duda represou o
desejo de Lula de responder aos
ataques de Serra.
O tucano, após início contido,
voltou a atacar a capacidade do
petista em tudo, questionando
números e se postando diante
dele, superior.
Mas Lula, exasperado aqui e
ali, conteve seu desejo uma vez
mais. Foi o moderado que Duda
tanto queria.
Chamado ao debate, o "povo",
pela regra, foi obrigado a ler as
perguntas. Sob controle.
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