São Paulo, sábado, 26 de outubro de 2002

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Filósofo francês diz que Lula deve ser progressista, mas "prudente"

DE PARIS

O filósofo francês Claude Lefort, um dos principais pensadores políticos da atualidade, declarou à Folha que a vitória do presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (PT) traz uma promessa de reforma social que rompe com a idéia de extremismo político.
"É uma vitória muito simbólica, na medida em que se está desenhando uma política de reforma social que, ao mesmo tempo, rompe com a visão do ultra-esquerdismo", declarou Lefort.
O filósofo, hoje com 77 anos, foi um dos fundadores, junto com Cornelius Castoriadis, do grupo "Socialismo ou Barbárie", em 1949. Nos anos 50, Lefort foi professor da USP (Universidade de São Paulo). É autor, entre outros livros, de "Pensando o Político" (Paz e Terra) e "As Formas da História" (Brasiliense).
O pensador francês julga que o Brasil, apesar de ser o país "mais moderno, inventivo e próximo do que há de melhor na Europa", ainda precisa de uma "profunda renovação". "A vitória de Lula traz a promessa de uma verdadeira mudança estrutural num país que, apesar de seus imensos recursos e de sua inventividade, conservou os traços de uma profunda desigualdade entre o conjunto da população que se beneficiou da modernização e a massa, que é por ela explorada", afirmou.
Lefort avalia que, na Presidência, Lula encontrará pela frente todos os tipos de obstáculo "da parte daqueles que podem evidentemente se sentir incomodados com uma nova política".
Ele considera que os países ocidentais -"e aqui estou incluindo os Estados Unidos"- já não consideram que Lula representa uma ameaça. "Isso é um fato capital, porque até agora se jogou constantemente, mesmo no Brasil, com a idéia de que Lula poderia desacreditar o Brasil economicamente, em escala mundial."
Na sua opinião, se o presidenciável petista conseguir realizar uma "política progressista e ao mesmo tempo prudente, terá realizado uma conquista bastante apreciável". O filósofo ressaltou a palavra "prudente".
Indagado se é possível realizar hoje uma política progressista, no atual cenário econômico mundial, Lefort respondeu: "Se fosse para o programa social ser abandonado inteiramente e Lula se submeter às exigências da dita mundialização, ele não teria sido bem sucedido [nas atuais eleições]. Mas, ao contrário, se ele faz... quero dizer, se ele consegue -porque não é coisa fácil- dar o sentimento de uma nova orientação social e ao mesmo tempo cumprir certos contratos que não se pode contornar, isso já será um grande sinal para todo mundo".
(ALCINO LEITE NETO)



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