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Filósofo francês diz que Lula deve ser progressista, mas "prudente"
DE PARIS
O filósofo francês Claude Lefort, um dos principais pensadores políticos da atualidade, declarou à Folha que a vitória do presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (PT) traz uma promessa de reforma social que rompe com a
idéia de extremismo político.
"É uma vitória muito simbólica,
na medida em que se está desenhando uma política de reforma
social que, ao mesmo tempo,
rompe com a visão do ultra-esquerdismo", declarou Lefort.
O filósofo, hoje com 77 anos, foi
um dos fundadores, junto com
Cornelius Castoriadis, do grupo
"Socialismo ou Barbárie", em
1949. Nos anos 50, Lefort foi professor da USP (Universidade de
São Paulo). É autor, entre outros
livros, de "Pensando o Político"
(Paz e Terra) e "As Formas da
História" (Brasiliense).
O pensador francês julga que o
Brasil, apesar de ser o país "mais
moderno, inventivo e próximo do
que há de melhor na Europa",
ainda precisa de uma "profunda
renovação". "A vitória de Lula
traz a promessa de uma verdadeira mudança estrutural num país
que, apesar de seus imensos recursos e de sua inventividade,
conservou os traços de uma profunda desigualdade entre o conjunto da população que se beneficiou da modernização e a massa,
que é por ela explorada", afirmou.
Lefort avalia que, na Presidência, Lula encontrará pela frente
todos os tipos de obstáculo "da
parte daqueles que podem evidentemente se sentir incomodados com uma nova política".
Ele considera que os países ocidentais -"e aqui estou incluindo
os Estados Unidos"- já não consideram que Lula representa uma
ameaça. "Isso é um fato capital,
porque até agora se jogou constantemente, mesmo no Brasil,
com a idéia de que Lula poderia
desacreditar o Brasil economicamente, em escala mundial."
Na sua opinião, se o presidenciável petista conseguir realizar
uma "política progressista e ao
mesmo tempo prudente, terá realizado uma conquista bastante
apreciável". O filósofo ressaltou a
palavra "prudente".
Indagado se é possível realizar
hoje uma política progressista, no
atual cenário econômico mundial, Lefort respondeu: "Se fosse
para o programa social ser abandonado inteiramente e Lula se
submeter às exigências da dita
mundialização, ele não teria sido
bem sucedido [nas atuais eleições]. Mas, ao contrário, se ele
faz... quero dizer, se ele consegue
-porque não é coisa fácil- dar o
sentimento de uma nova orientação social e ao mesmo tempo
cumprir certos contratos que não
se pode contornar, isso já será um
grande sinal para todo mundo".
(ALCINO LEITE NETO)
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