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Perto da vitória, PT "malaniza" discurso
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
À medida que se aproximam da
vitória na eleição presidencial, os
petistas adotam um discurso cada
vez mais próximo da ortodoxia
consagrada por um arquiadversário do partido, o ministro da Fazenda, Pedro Malan.
É certo que o processo de moderação nas propostas, alianças e
críticas do PT vem de longe e foi
acentuado nas eleições deste ano.
Foi nas últimas semanas, porém,
que a "malanização" adquiriu
formas mais definidas.
"Fora FMI", "Fome Zero" e outros slogans petistas deram lugar
a considerações sobre o ajuste fiscal, os superávits primários negociados com o Fundo Monetário
Internacional e a pouca margem
de manobra oferecida pelo Orçamento da União.
Esse papel foi assumido, principalmente, pelo coordenador do
programa de governo, Antônio
Palocci Filho, prefeito licenciado
de Ribeirão Preto. Mas o novo
discurso se espalhou, por exemplo, entre os deputados que terão
de votar o Orçamento de 2003.
Um deles, Jorge Bittar (RJ), explicava anteontem como será difícil retomar a proposta de elevar o
salário mínimo para R$ 240, vetada por Fernando Henrique Cardoso na sanção da LDO (Lei de
Diretrizes Orçamentárias).
Há exatos três meses, o veto de
FHC foi considerado por Bittar
"uma afronta ao Congresso", demonstração do "espírito antidemocrático do presidente".
Outra promessa cara -nos
dois sentidos- ao partido é a renegociação das dívidas de Estados
e municípios, bandeira levantada
em 99, quando os governadores
petistas apoiaram a moratória declarada por Itamar Franco (sem
partido-MG).
A proposta também é apoiada
pela prefeita Marta Suplicy (PT) e
pelo vice de Luiz Inácio Lula da
Silva, senador José Alencar (PL-MG), que tem projeto elevando os
subsídios federais aos Estados.
Em julho, em campanha, Lula
se comprometeu com a medida,
na linha do candidato-negociador: "As coisas não podem seguir
apenas a dureza da contabilidade,
em vez da leveza da política".
Já Palocci, na semana passada,
ficou com a "dureza da contabilidade": "Essa é uma questão que
deve ser analisada dentro de um
processo global de ajuste fiscal".
Em resumo, fica para depois.
A nova retórica tem a dupla utilidade de acalmar o mercado, temeroso de que o cumprimento do
programa social de Lula estoure
as contas públicas, e amortecer
frustrações futuras de militantes e
aliados do PT.
O eventual primeiro ano de
mandato, pelo que se depreende
das recentes declarações, será dedicado a "arrumar a casa". A idéia
é coerente com a prática do partido em suas administrações estaduais e municipais -e no plano
federal inclui ainda acertar as políticas de juros e de câmbio.
Mas, também nesse caso, há
uma coincidência com o discurso
do segundo mandato tucano, que
imaginava sacrifícios em 99, ano
da desvalorização do real, e bonança no período subsequente. A
segunda parte do plano, como se
sabe atualmente, foi abortada pela
crise econômica internacional.
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