São Paulo, sábado, 26 de outubro de 2002

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Perto da vitória, PT "malaniza" discurso

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

À medida que se aproximam da vitória na eleição presidencial, os petistas adotam um discurso cada vez mais próximo da ortodoxia consagrada por um arquiadversário do partido, o ministro da Fazenda, Pedro Malan.
É certo que o processo de moderação nas propostas, alianças e críticas do PT vem de longe e foi acentuado nas eleições deste ano. Foi nas últimas semanas, porém, que a "malanização" adquiriu formas mais definidas.
"Fora FMI", "Fome Zero" e outros slogans petistas deram lugar a considerações sobre o ajuste fiscal, os superávits primários negociados com o Fundo Monetário Internacional e a pouca margem de manobra oferecida pelo Orçamento da União.
Esse papel foi assumido, principalmente, pelo coordenador do programa de governo, Antônio Palocci Filho, prefeito licenciado de Ribeirão Preto. Mas o novo discurso se espalhou, por exemplo, entre os deputados que terão de votar o Orçamento de 2003.
Um deles, Jorge Bittar (RJ), explicava anteontem como será difícil retomar a proposta de elevar o salário mínimo para R$ 240, vetada por Fernando Henrique Cardoso na sanção da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias).
Há exatos três meses, o veto de FHC foi considerado por Bittar "uma afronta ao Congresso", demonstração do "espírito antidemocrático do presidente".
Outra promessa cara -nos dois sentidos- ao partido é a renegociação das dívidas de Estados e municípios, bandeira levantada em 99, quando os governadores petistas apoiaram a moratória declarada por Itamar Franco (sem partido-MG).
A proposta também é apoiada pela prefeita Marta Suplicy (PT) e pelo vice de Luiz Inácio Lula da Silva, senador José Alencar (PL-MG), que tem projeto elevando os subsídios federais aos Estados.
Em julho, em campanha, Lula se comprometeu com a medida, na linha do candidato-negociador: "As coisas não podem seguir apenas a dureza da contabilidade, em vez da leveza da política".
Já Palocci, na semana passada, ficou com a "dureza da contabilidade": "Essa é uma questão que deve ser analisada dentro de um processo global de ajuste fiscal". Em resumo, fica para depois.
A nova retórica tem a dupla utilidade de acalmar o mercado, temeroso de que o cumprimento do programa social de Lula estoure as contas públicas, e amortecer frustrações futuras de militantes e aliados do PT.
O eventual primeiro ano de mandato, pelo que se depreende das recentes declarações, será dedicado a "arrumar a casa". A idéia é coerente com a prática do partido em suas administrações estaduais e municipais -e no plano federal inclui ainda acertar as políticas de juros e de câmbio.
Mas, também nesse caso, há uma coincidência com o discurso do segundo mandato tucano, que imaginava sacrifícios em 99, ano da desvalorização do real, e bonança no período subsequente. A segunda parte do plano, como se sabe atualmente, foi abortada pela crise econômica internacional.


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