São Paulo, domingo, 26 de outubro de 2008

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País

Resultado deixa PT mais dependente de Lula

Dirigentes admitem que eleição não revelou liderança capaz de dividir com o presidente a influência sobre os rumos da sigla

Assuntos como a eleição para o novo presidente do partido e como a sucessão de 2010 dependerão das decisões tomadas por Lula


KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os resultados das eleições municipais deste ano deixam o PT ainda mais dependente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O lulismo se consolida como força maior do que o petismo -tendência em curso desde a chega do partido ao poder federal, na eleição de 2002.
Apesar do crescimento orgânico do PT, estas eleições não revelaram uma nova liderança nem permitiram que caciques estaduais ganhassem força para ousar dividir com Lula a influência sobre os rumos do PT. Reservadamente, dirigentes do partido reconhecem que caberá ao presidente da República decidir os movimentos mais importantes da legenda nos próximos dois anos.
Lula escolherá o candidato à sua própria sucessão, em 2010. O presidente já disse a auxiliares próximos que deseja que a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) seja a candidata.
Lula também terá influência decisiva na eleição do novo presidente do PT, no ano que vem. O atual, o deputado federal Ricardo Berzoini (SP), não poderá ser reeleito. O presidente quer escalar o seu chefe-de-gabinete, Gilberto Carvalho, para a missão. Se convocado, Carvalho sinalizou que aceitará.
Os efeitos da crise internacional sobre o Brasil também deverão sufocar eventuais críticas do partido a Lula. Numa conjuntura adversa, o papel do PT será defender uma política econômica com a qual conviveu mal e que agora enfrenta o seu grande teste.
Uma queda na popularidade de Lula, única estrela de primeira grandeza do PT, só desidrataria ainda mais o desempenho do partido nas eleições de 2010, quando haverá disputa pela Presidência, por governos estaduais (e o Distrito Federal), por vagas na Câmara dos Deputados e para dois terços do Senado, além das Assembléias Legislativas (inclusive a Câmara Distrital de Brasília).
Antes das eleições, setores do petismo, sobretudo de São Paulo, alimentavam a idéia de dividir com Lula a decisão sobre a candidatura presidencial de 2010. Com a iminente derrota da ex-ministra Marta Suplicy para o prefeito Gilberto Kassab (DEM) essa articulação ruiu. Segundo pesquisa Datafolha realizada anteontem e ontem, Kassab tem 60% dos votos válidos, contra 40% de Marta (no quadro ao lado foram destacados os índices de votos totais, e não os válidos).
Na campanha, Marta disse que, se fosse eleita prefeita, não disputaria a candidatura presidencial com Dilma. Mas integrantes de seu grupo político faziam questão de dizer que não seria bem assim. Argumentavam que uma Marta vitoriosa em São Paulo teria mais apoio da máquina petista do que Dilma, que teve passagem pelo PDT brizolista antes de ingressar no PT.
Aconteceu o pior cenário para os martistas. A derrota para Kassab terá peso maior do que imaginavam. Auxiliares de Marta chegaram a admitir, logo após o resultado do primeiro turno, que poderiam perder por um ou dois pontos percentuais para Kassab. O resultado, porém, tende a ser uma lavada política, agravada pelo erro de recorrer a ataques pessoais contra o prefeito, o que custará a Marta, no mínimo, uma mancha na biografia.
Amigo de Lula, o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), poderia ser uma espécie de "plano B" em caso de naufrágio da articulação presidencial de Dilma. Mas a eventual derrota em Salvador hoje tende a fazer com que Wagner priorize a luta pela manutenção do terreno conquistado na Bahia em 2006 e se candidate à reeleição.
Pesquisa Datafolha mostra que o prefeito João Henrique (PMDB) tem vantagem de 10 pontos percentuais sobre o deputado federal Walter Pinheiro (PT). Placar de 55% a 45%, em votos válidos.
O PMDB baiano, sob a liderança do ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional), sai fortalecido das eleições municipais. O próprio Geddel é alternativa de candidato a governador em 2010. E o desejo de Lula de fechar uma aliança nacional com o PMDB para apoiar Dilma reforça o cenário no qual o presidente fará concessões para agradar a Geddel em detrimento de Wagner.
A decadência do petismo no Rio Grande do Sul também contribui para o fortalecimento nacional do lulismo. O Datafolha mostra que o prefeito José Fogaça (PMDB) deverá se reeleger hoje. Na pesquisa, ele tem 57% dos votos válidos, contra 43% da deputada federal Maria do Rosário (PT).
Das oito capitais que governa hoje, o PT manteve seis delas no primeiro turno: Fortaleza, Recife, Vitória, Porto Velho, Rio Branco e Palmas. Em Belo Horizonte e Macapá, hoje administradas pelo petismo, o partido não tem um representante no segundo turno. Nas capitais em que disputa, o cenário é de derrota.


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