São Paulo, sábado, 26 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/O FUTURO DE PALOCCI

Alencar volta a pedir juros menores e Stedile compara Palocci a "lateral-direito ruim'; Berzoini defende governo e prevê crescimento de 4%

Política econômica é "irresponsável", diz vice

SILVIO NAVARRO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

O vice-presidente da República, José Alencar, afirmou ontem que o governo Lula "está perdendo tempo" para a recuperação da economia e, em uma crítica indireta ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci, disse que a administração orçamentária do país hoje é "irresponsável".
"Não é tempo de se praticar qualquer tipo de irresponsabilidade no campo econômico. Pelo contrário, irresponsabilidade é tratar da administração orçamentária da maneira como temos tratado. O Orçamento é altamente deficitário em função de um item, dos juros, que são estratosféricos, despropositados [a taxa básica foi reduzida nesta semana para 18,5% ao ano]", disse em debate promovido pelo PSB sobre "alternativas à política econômica".
Alencar voltou a fazer a metáfora sobre "pacto com o Diabo" ao se referir à política econômica. "A dose [de juros] tinha de ser cavalar porque a desconfiança era cavalar em relação ao que aconteceria com o Brasil. Isso explica o que chamo de pacto com o Diabo." E continuou: "O Diabo é uma figura sobrenatural. Às vezes a imprensa pergunta: quem é o Diabo? O Diabo é o Diabo".
Ele foi aplaudido ao sugerir uma mudança no Hino Nacional. "Quando era menino, a professora brigava comigo porque eu queria mudar a letra para "desperto e vigilante em solo esplêndido" [em lugar de "deitado eternamente em berço esplêndido']."
Alencar disse ainda que "deveríamos aprender com os ingleses" porque "time is money [tempo é dinheiro]". "Estamos perdendo um grande tempo de recuperação da economia para colocar o Brasil no patamar que lhe pertence no campo social."
O discurso foi o primeiro de uma série contra Palocci e os rumos da economia. Um dos mais duros foi o do coordenador nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) João Pedro Stedile, que classificou a disputa entre Palocci e a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) como "coisa de botequim".
"Isso é coisa botequim, parece conversa de futebol, se fulano ou fulana é melhor centroavante. E o nosso presidente ajuda", disse. "Para mim o Palocci é um lateral-direito ruim, não o centroavante do povo brasileiro, é o homem que o capital financeiro joga a bola nas costas", completou.
Já o ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) Carlos Lessa afirmou que a política monetária é "um pesadelo".
Último a falar, o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), disse que a discussão sobre a economia não deve se resumir ao binômio juros-superávit primário. Ele disse ainda acreditar que o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) atingirá 4% até o final do ano.
"Não acredito em crescimento menor que 3%. Vou fazer uma aposta, acho que chega a 4% até o final do ano." Questionado sobre o embate entre Palocci e Dilma, disse se tratar de "uma polêmica eterna em qualquer governo".
O novo presidente do PSB, deputado Eduardo Campos (PE), disse que "esse é um debate que ajuda o presidente Lula porque fica claro que há forças que o apóiam e querem mudanças".
Animado com os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios -que mostra o impacto das políticas econômicas na área social, com indicadores de habitação, renda, trabalho e educação-, o ministro Paulo Bernardo (Planejamento) disse que "o vice-presidente terá a oportunidade de refletir sobre os dados da pesquisa, que são positivos".


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