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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/O FUTURO DE PALOCCI
Alencar volta a pedir juros menores e Stedile compara Palocci a "lateral-direito ruim'; Berzoini defende governo e prevê crescimento de 4%
Política econômica é "irresponsável", diz vice
SILVIO NAVARRO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
O vice-presidente da República,
José Alencar, afirmou ontem que
o governo Lula "está perdendo
tempo" para a recuperação da
economia e, em uma crítica indireta ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci, disse que a administração orçamentária do país
hoje é "irresponsável".
"Não é tempo de se praticar
qualquer tipo de irresponsabilidade no campo econômico. Pelo
contrário, irresponsabilidade é
tratar da administração orçamentária da maneira como temos tratado. O Orçamento é altamente
deficitário em função de um item,
dos juros, que são estratosféricos,
despropositados [a taxa básica foi
reduzida nesta semana para
18,5% ao ano]", disse em debate
promovido pelo PSB sobre "alternativas à política econômica".
Alencar voltou a fazer a metáfora sobre "pacto com o Diabo" ao
se referir à política econômica. "A
dose [de juros] tinha de ser cavalar porque a desconfiança era cavalar em relação ao que aconteceria com o Brasil. Isso explica o que
chamo de pacto com o Diabo." E
continuou: "O Diabo é uma figura
sobrenatural. Às vezes a imprensa
pergunta: quem é o Diabo? O Diabo é o Diabo".
Ele foi aplaudido ao sugerir uma
mudança no Hino Nacional.
"Quando era menino, a professora brigava comigo porque eu queria mudar a letra para "desperto e
vigilante em solo esplêndido" [em
lugar de "deitado eternamente em
berço esplêndido']."
Alencar disse ainda que "deveríamos aprender com os ingleses"
porque "time is money [tempo é
dinheiro]". "Estamos perdendo
um grande tempo de recuperação
da economia para colocar o Brasil
no patamar que lhe pertence no
campo social."
O discurso foi o primeiro de
uma série contra Palocci e os rumos da economia. Um dos mais
duros foi o do coordenador nacional do MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra)
João Pedro Stedile, que classificou
a disputa entre Palocci e a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil)
como "coisa de botequim".
"Isso é coisa botequim, parece
conversa de futebol, se fulano ou
fulana é melhor centroavante. E o
nosso presidente ajuda", disse.
"Para mim o Palocci é um lateral-direito ruim, não o centroavante
do povo brasileiro, é o homem
que o capital financeiro joga a bola nas costas", completou.
Já o ex-presidente do BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) Carlos Lessa afirmou que a política
monetária é "um pesadelo".
Último a falar, o presidente do
PT, deputado Ricardo Berzoini
(PT-SP), disse que a discussão sobre a economia não deve se resumir ao binômio juros-superávit
primário. Ele disse ainda acreditar que o crescimento do PIB
(Produto Interno Bruto) atingirá
4% até o final do ano.
"Não acredito em crescimento
menor que 3%. Vou fazer uma
aposta, acho que chega a 4% até o
final do ano." Questionado sobre
o embate entre Palocci e Dilma,
disse se tratar de "uma polêmica
eterna em qualquer governo".
O novo presidente do PSB, deputado Eduardo Campos (PE),
disse que "esse é um debate que
ajuda o presidente Lula porque fica claro que há forças que o
apóiam e querem mudanças".
Animado com os resultados da
Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios -que mostra o
impacto das políticas econômicas
na área social, com indicadores de
habitação, renda, trabalho e educação-, o ministro Paulo Bernardo (Planejamento) disse que
"o vice-presidente terá a oportunidade de refletir sobre os dados
da pesquisa, que são positivos".
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