São Paulo, segunda-feira, 26 de novembro de 2007

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Oposição e governo mudam tática para votação de CPMF

Para PSDB e DEM, novo coordenador político pode convencer rebeldes da base

No cenário atual, governo sabe que não tem os votos e já cogita adiar votação para janeiro; oposição acha que derrota governo se votar já

SILVIO NAVARRO
ANDREZA MATAIS

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A troca na coordenação política e a resistência do PSDB em abrir nova rodada de negociações inverteram as estratégias do governo e da oposição para votar a emenda que prorroga a cobrança da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), o "imposto do cheque", no Senado.
Sem o número mínimo de votos para aprovar a CPMF -49 de 81-, o governo não tem mais pressa. Alguns líderes da base já avaliam, inclusive, a possibilidade de não conseguir aprovar a emenda até o final do ano, o que significaria para o governo perder, no mínimo, três meses de arrecadação. Nesse cenário, prevalece a tese de que seria melhor do que sofrer uma derrota no plenário. A arrecadação anual prevista é cerca de de R$ 40 bilhões.
Na contramão, a oposição quer acelerar a tramitação da emenda porque conta que tem votos para derrubá-la. Até então, a oposição agia para obstruir a votação. Agora, acha que pode tirar vantagem na transição na coordenação política para rejeitar a CPMF.
Lideranças do DEM e do PSDB avaliam que o novo coordenador político, o ministro José Múcio (PTB-PE), tem força para virar o jogo político caso tenha tempo para articular.
"Temos que eliminar a obstrução porque o tempo agora corre contra nós. O governo vai usar todos os recursos para cooptar votos e usará armas que não temos", disse o líder do DEM, José Agripino (RN).
Se a CPMF não for aprovada neste ano, será considerada "novo imposto" e, portanto, só poderá ser cobrada depois de três meses (a noventena) , a ser contada depois da data que a emenda for promulgada.
Em tese, o governo precisa votar a continuação da cobrança até o dia 24 de dezembro. Depois dessa data, só é possível votar se for aprovada uma convocação extra do Congresso.
A opinião de governistas, entretanto, é que é hora de esticar ao máximo o calendário para negociar alguns votos de "rebeldes" na própria base. Nessa lista, entrariam, por exemplo, Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), Expedito Júnior (PR-RO) e peemedebistas cujos votos não são considerados seguros -por exemplo Valter Pereira (MS) e Geraldo Mesquita (AC).
Questionado se há pressa em votar, o líder do PMDB no Senado, Valdir Raupp (RO),afirmou que "não tem que acelerar [a votação], tem que deixar no ritmo normal."
Pela contabilidade do líder do governo na Casa, Romero Jucá (PMDB-RR), o governo tem hoje entre 45 e 48 votos assegurados. A ordem é só entrar para votação no plenário com no mínimo 50 votos garantidos. Para isso, aliados sugerem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva receba e negocie pessoalmente com senadores "rebeldes" da base. Múcio se reuniria ontem à noite com Jucá. Na terça, ele participa de jantar com a bancada do PTB, que ameaça se rebelar.
"É uma disputa difícil. Há um empenho responsável dos que querem aprovar e um empenho acirrado dos que fazem oposição. Vamos precisar de todos, é um trabalho a muitas mãos. Nós trabalhamos com a hipótese de aprovar até meados de dezembro", disse Múcio.
DEM e PSDB agendaram reunião conjunta para amanhã. O objetivo é sair do encontro com o compromisso dos 27 (14 do DEM e 13 do PSDB) senadores de que rejeitarão a CPMF no plenário. "Quero olhar nos olhos de cada um, saber quem é voto firme e se tem alguém que não é. É preciso que a oposição vá com a faca nos dentes para a guerra", disse o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM).


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