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Novo inquérito no STF apura desvios na central de Paulinho
Força Sindical é suspeita de usar alunos fantasmas para justificar repasses federais
Segundo a Procuradoria, nos cadastros da central foram encontrados 26.991 nomes de alunos e 24.948 números de CPF repetidos nos cursos
ALAN GRIPP
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O deputado Paulo Pereira da
Silva (PDT-SP), o Paulinho da
Força Sindical, que pode ter
seu futuro político decidido hoje pela Câmara, é alvo de novo
inquérito no Supremo Tribunal Federal para apurar denúncias de desvio de dinheiro público. Presidida por ele, a Força
é suspeita de usar alunos fantasmas para justificar repasses
federais que bancaram cursos
oferecidos a desempregados.
Depoimentos de "alunos"
que nunca estiveram nas salas
de aula e o surgimento de evidências de irregularidades em
convênios com o Ministério do
Trabalho fazem parte do inquérito, aberto atendendo a pedido
feito mês passado pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza.
Paulinho já é investigado em
outro inquérito no STF que
apura seu suposto envolvimento no esquema de desvio de recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social) revelado
pela Operação Santa Tereza, da
Polícia Federal.
A nova investigação se concentra na subcontratação pela
Força Sindical de entidades encarregadas de ministrar cursos
profissionalizantes para trabalhadores de baixa renda em São
Paulo, pagos com recursos do
Fundo de Amparo ao Trabalhador. Segundo o Ministério Público Federal, nos cadastros de
alunos da entidade foram localizados 26.991 nomes e 24.948
números de CPF repetidos.
A Folha teve acesso ao documento em que o procurador-geral pede a abertura do inquérito. Nele, não há a informação
de quantas entidades estão sob
investigação. Mas o parecer cita como o caso mais rumoroso
o da subcontratação da Fundação João Donini, em Piraju
(SP), por R$ 215 mil, em 2002.
Após analisar a documentação da João Donini, a PF encontrou registros de alunos
que nunca se matricularam,
alunos inscritos mais de uma
vez para o mesmo curso ou
com CPFs em branco e cursos
que não saíram do papel. A meta era capacitar 1.050 alunos.
Em depoimento, o professor
Paulo Sérgio Furlan Braga afirmou que o número de alunos
que figurava nas folhas de freqüência dos cursos de secretariado e telemarketing, ministrados por ele, "era expressivamente superior àquele que
comparecia, de fato, às aulas".
Braga disse que recebeu "recomendação expressa" de João
Donini, presidente da entidade, para que a presença de alunos fosse marcada a lápis -ordem que, para a Procuradoria,
tinha o objetivo de facilitar a
adulteração dos papéis após o
fim dos cursos.
O inquérito contém ainda o
depoimento de moradores da
região que revelam nunca terem se matriculado, freqüentado aulas e muito menos recebido certificado de conclusão,
apesar de em seus nomes constarem registros de participação
nestes três momentos.
Além disso, pareceres da
CGU (Controladoria Geral da
União) e do TCU (Tribunal de
Contas da União) condenaram
a contratação da Fundação
João Donini sem licitação. A
entidade foi fechada após o início das investigações.
O inquérito está nas mãos do
ministro Celso de Mello, que
analisará pedidos de diligências feitos pelo procurador-geral da República. Antonio Fernando solicitou uma perícia
nos relatórios de presença de
alunos. O ministro deverá se
pronunciar nos próximos dias.
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