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Luiz Marinho usou "candidatos de aluguel"
Aspirantes a vereador pela coligação do petista admitem ter emprestado nome para ajudar ex-ministro, sem ter intenção de se eleger
Campanha investiu cerca de R$ 5 mi em 242 candidatos de São Bernardo, sendo 211 de dez siglas da aliança; dos aliados, ninguém foi eleito
ALAN GRIPP
ENVIADO ESPECIAL A
SÃO BERNARDO DO CAMPO (SP)
SOFIA FERNANDES
FERNANDA ODILLA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A supercoligação formada
para eleger Luiz Marinho (PT)
prefeito de São Bernardo do
Campo (SP) contou com candidatos a vereador que, assumidamente, emprestaram seus
nomes em benefício da vitória
do petista. Teve também injeções financeiras generosas em
concorrentes com desempenho pífio, como a contadora
Fabiana Campos Ferreira
(PSC), que recebeu R$ 30,6 mil
do PT e conquistou um voto.
Com a benção-e os recursos- do PT nacional, Marinho
investiu cerca de R$ 5 milhões
na campanha de 242 candidatos na cidade, sendo 211 de dez
partidos da coligação. Das siglas aliadas, nenhum se elegeu.
Postulantes derrotados entrevistados pela Folha disseram ter sido usados como "cabos eleitorais de luxo", candidatos "de aluguel". Outros admitiram ter entrado na disputa
apenas para emprestar o prestígio em seus redutos eleitorais
à campanha do prefeito.
"Meu objetivo era tirar votos
do PSDB e passar para o Luiz
Marinho. Não tinha o intuito
de me eleger", disse Carlos Alberto Massura (PR), que teve
140 votos.
Apesar de ter recebido um
único voto, a contadora Fabiana, 30, segundo sua família, levou a sério a campanha. Dados
do Tribunal Superior Eleitoral
mostram que ela recebeu oito
repasses de seu partido, o PSC,
que teve como única fonte de
arrecadação doações feitas pela
campanha de Luiz Marinho.
Fabiana gastou tudo. Entre
os pagamentos feitos com o dinheiro vindo do PT, constam
R$ 4.000 para Gabriela Campos Ferreira, sua irmã, que disse ter coordenado a campanha,
além de gastos com cabos eleitorais e som. Gabriela afirmou
que a irmã não abriu mão da
disputa, e lamentou o fracasso
nas urnas, pois elas "trabalharam bastante".
Em um segundo contato, negou ter recebido recursos da
campanha e disse que há algo
errado na prestação de contas
no TSE, sem explicar o que está
equivocado. Também desconversou ao ser questionada se
votou na própria irmã. A reportagem esteve na casa de Fabiana, mas foi informada de que
ela estava viajando. A candidata não respondeu aos recados.
Danilo Yudi, também do
PSC, recebeu R$ 22 mil provenientes do PT e não teve nenhum voto. Em sua casa -até
hoje decorada com uma faixa
de Marinho com o presidente
Lula e o forrozeiro Frank
Aguiar (deputado federal pelo
PTB e vice-prefeito eleito)- a
informação era de que ele também estava viajando.
Segundo Lena, mulher do
candidato, Yudi abandonou a
disputa após ter o registro negado pela Justiça Eleitoral,
mas continuou a fazer campanha para Marinho: "Ele é petista fanático", disse. Lena afirmou que o marido só se candidatou pelo PSC porque não havia vagas no PT. O TSE informou que a candidatura foi deferida, isto é, estava valendo.
Assim como Fabiana e Yudi,
seis candidatos da coligação
que receberam em média R$ 21
mil do PT tiveram menos de 50
votos. Além da dedicação exclusiva à campanha majoritária, o desempenho ruim também pode ser atribuído ao inchaço da coligação.
Promessas
Outros derrotados acusam a
coligação de descumprir promessas feitas em troca do empenho na campanha de Marinho. "Eu nem queria estar ao
lado do PT, mas a proposta era
boa e eu até discursei ao lado
dele [Luiz Marinho] e do Frank
Aguiar. Estou esperando meu
comitê e uma perua adesivada
até hoje", diz Pedro Cabeleireiro (PDT), que teve 256 votos.
Também é comum entre os
candidatos o relato de que eles
não pensavam em se candidatar, até receberem propostas
tentadoras. Popular no bairro
onde trabalha, o barbeiro José
Ferreira Cunha contou ter sido
procurado por um consultor
político da coligação, ainda em
2007. "Ele me convidou [para
ser candidato] e mandou escolher entre um monte de letrinhas. Gostei do PTN", disse.
Analfabeto, o barbeiro acabou tendo sua candidatura impugnada. Mas continuou a receber recursos de seu partido
(R$ 13 mil no total), oriundos
do PT, e a fazer campanha para
Marinho: "Eles usaram a gente,
hoje não tenho dúvida. Como
dez partidos não conseguem
eleger uma pessoa?"
Marinheira de primeira viagem (como a maioria dos candidatos da coligação), a dentista
Caren Cristina Oliveira, 36, disse que não tinha como bancar a
própria campanha. "Fui pelo
apoio [prometido]." Ela, que
recebeu o material impresso
prometido a um mês da eleição,
se sentiu usada. "A gente acabou sendo cabo eleitoral de primeira linha. Fui entender isso
no final da campanha", afirmou. Ela acredita que a coligação sabia que não tinha chance
de eleger ninguém.
Roberto Santana da Silva
suspeitou que o convite do
PRTB para ser candidato não
era sério quando dinheiro e
material de campanha começaram a atrasar. Ele diz guardar
uma caixa de santinhos que
chegou um dia após as eleições.
A gota d'água, porém, veio no
segundo turno, quando Santana recebeu a "proposta humilhante" de segurar bandeiras
para o candidato a prefeito por
R$ 20 reais ao dia. O convite,
diz ele, foi feito aos 32 candidatos da sigla, todos derrotados.
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