São Paulo, quinta-feira, 27 de janeiro de 2005

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Exército ostenta luxo no Haiti, diz ativista

DA ENVIADA ESPECIAL A PORTO ALEGRE

O economista e ativista haitiano Camille Chalmers defendeu ontem, no Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, uma presença brasileira "totalmente diferente" em seu país. Chalmers, secretário-executivo da Plataforma a Advogar pelo Desenvolvimento Alternativo do Haiti (PAPDA, em inglês), coalizão de organizações civis para a reconstrução do país, acredita que a força de paz da ONU liderada pelo Brasil é um obstáculo ao debate interno sobre o futuro da nação.
Chalmers diz que o balanço dos sete meses de presença militar é "totalmente negativo", sem melhora na segurança. "Não há comunicação entre estas forças e os grupos sociais. A missão funciona em círculos fechados e com um nível de vida bastante luxuoso se comparado à miséria do povo".
Ele diz que o gasto da ONU para manter militares poderiam pagar a construção de "três polícias nacionais". "É uma missão equivocada, que não parece buscar o restabelecimento do Haiti".
Para Chalmers, os brasileiros estão se "mantendo decentes", porque não usam violência para reprimir a população. Mesmo assim, diz que a falta de comunicação com a população faz os soldados serem vistos muitas vezes como "militares em férias", afirma.
Para ele, o Brasil "quer mostrar à ONU que é ativo e pode ganhar um lugar no Conselho de Segurança", mas estaria deixando de lado a chance de contribuir na resolução de "problemas de base".
"A experiência do Brasil nas transformações industriais e na área de tecnologia no campo seriam muito úteis na reconstrução do Haiti. É isso que precisamos."
Como exemplo, o ativista citou a ajuda de Cuba, que enviou 800 médicos ao país -que já teria resultado na queda nos índices de mortalidade infantil e na oferta de serviços de saúde básica.
No ano passado, Chalmers havia criticado o envolvimento dos Estados Unidos na queda do então presidente, Jean-Bertrand Aristide. Ontem, ele afirmou que a intervenção da ONU é "humilhante" e disse acreditar que há "uma clara manipulação dos governos da América Latina".
"No Haiti não há guerra. Os problemas de segurança não são globais e ocorrem em bairros de Porto Príncipe".


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