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DAVOS/PORTO ALEGRE - DEBATE GLOBAL
Líderes francês e britânico divergem durante abertura do Fórum Econômico Mundial
Chirac prioriza combate à fome; Blair, ao terrorismo
LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS
O presidente francês, Jacques
Chirac, dedicou ontem seu discurso na abertura do Fórum Econômico Mundial à necessidade de
maior engajamento dos países ricos na luta contra a miséria.
Disse que "o fosso entre ricos e
pobres tem aumentado em proporções vertiginosas" e propôs a
adoção de medidas similares às
que têm sido defendidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
como taxar certas transações financeiras para levantar recursos
destinados aos países mais necessitados, sobretudo os africanos.
O discurso de Chirac, que falou
em videoconferência com Davos,
contrastou com a de seu colega
Tony Blair. O premiê britânico
encampou as declarações do presidente americano George W.
Bush de que é preciso manter a
guerra contra o terrorismo.
"O discurso de posse do presidente Bush marca uma evolução
consistente da política americana.
(...) Os EUA aceitam que o terrorismo não pode ser derrotado só
pelo poder militar. Quanto mais
pessoas houver sob a democracia,
com a liberdade humana intacta,
menos indulgentes seus Estados
serão com o terrorismo ou com o
engajamento no terrorismo."
Ele listou cinco temas que deveriam fazer parte de uma agenda
comum dos líderes mundiais, a
partir deste ano, em busca de um
mundo menos desigual. A primeira, "obviamente, manter a vigilância e a cooperação contra o
terrorismo global". Segundo, garantir "os direitos humanos e a liberdade, buscando aumentar o
número de pessoas vivendo sob
regime democrático". O quinto,
dedicado à melhoria das condições dos povos africanos.
Blair defendeu ainda o fim dos
subsídios agrícolas como mecanismo de redução da desigualdade social. Mencionou açúcar e algodão como exemplo, as duas
maiores disputas do governo brasileiro com a Europa e os EUA.
O Brasil também foi citado no
discurso do premiê. "O G8 precisa
trabalhar em parceria com economias que têm tido rápido desenvolvimento, como China, Índia,
Brasil e África do Sul (...) para que
eles cresçam e se desenvolvam como economias que poluam menos." O clima é a quarta prioridade mundial na visão de Blair
Mais recursos
Chirac disse que a comunidade
internacional precisa se empenhar para duplicar os esforços no
sentido de cumprir as "Metas do
Milênio" (conjunto de objetivos
de redução da pobreza até 2015).
Segundo Chirac, os países ricos
teriam de direcionar em 2006 US$
50 bilhões em ajuda suplementar
aos países mais necessitados e, a
partir de então, 3% do aumento
anual da riqueza mundial para
que a pobreza seja vencida. "Esses
montantes podem parecer consideráveis, mas são, na realidade,
mínimos em relação às riquezas
criadas pela globalização e aos
US$ 40 trilhões do PNB [Produto
Nacional Bruto] mundial", disse.
Uma das propostas do francês é
a criação de uma taxa sobre determinadas transações financeiras
internacionais para financiar o
combate à Aids, principalmente
na África. Difere da sugestão de
Lula, que defende que esse dinheiro seja usado para combater a
pobreza de um modo geral.
Chirac disse que a taxa seria
"extremamente baixa" (US$ 1 para cada US$ 10 mil, por exemplo).
Segundo ele, essa medida representaria US$ 10 bilhões por ano.
Outra possibilidade, segundo
ele, seria que os paraísos fiscais
"compensassem uma parte das
conseqüências deste sistema de
sonegação mundial" por meio de
uma taxa sobre os fluxos de capitais estrangeiros.
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