São Paulo, quinta-feira, 27 de janeiro de 2005

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DAVOS/PORTO ALEGRE - DEBATE GLOBAL

Líderes francês e britânico divergem durante abertura do Fórum Econômico Mundial

Chirac prioriza combate à fome; Blair, ao terrorismo

LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

O presidente francês, Jacques Chirac, dedicou ontem seu discurso na abertura do Fórum Econômico Mundial à necessidade de maior engajamento dos países ricos na luta contra a miséria.
Disse que "o fosso entre ricos e pobres tem aumentado em proporções vertiginosas" e propôs a adoção de medidas similares às que têm sido defendidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como taxar certas transações financeiras para levantar recursos destinados aos países mais necessitados, sobretudo os africanos.
O discurso de Chirac, que falou em videoconferência com Davos, contrastou com a de seu colega Tony Blair. O premiê britânico encampou as declarações do presidente americano George W. Bush de que é preciso manter a guerra contra o terrorismo.
"O discurso de posse do presidente Bush marca uma evolução consistente da política americana. (...) Os EUA aceitam que o terrorismo não pode ser derrotado só pelo poder militar. Quanto mais pessoas houver sob a democracia, com a liberdade humana intacta, menos indulgentes seus Estados serão com o terrorismo ou com o engajamento no terrorismo."
Ele listou cinco temas que deveriam fazer parte de uma agenda comum dos líderes mundiais, a partir deste ano, em busca de um mundo menos desigual. A primeira, "obviamente, manter a vigilância e a cooperação contra o terrorismo global". Segundo, garantir "os direitos humanos e a liberdade, buscando aumentar o número de pessoas vivendo sob regime democrático". O quinto, dedicado à melhoria das condições dos povos africanos.
Blair defendeu ainda o fim dos subsídios agrícolas como mecanismo de redução da desigualdade social. Mencionou açúcar e algodão como exemplo, as duas maiores disputas do governo brasileiro com a Europa e os EUA.
O Brasil também foi citado no discurso do premiê. "O G8 precisa trabalhar em parceria com economias que têm tido rápido desenvolvimento, como China, Índia, Brasil e África do Sul (...) para que eles cresçam e se desenvolvam como economias que poluam menos." O clima é a quarta prioridade mundial na visão de Blair

Mais recursos
Chirac disse que a comunidade internacional precisa se empenhar para duplicar os esforços no sentido de cumprir as "Metas do Milênio" (conjunto de objetivos de redução da pobreza até 2015).
Segundo Chirac, os países ricos teriam de direcionar em 2006 US$ 50 bilhões em ajuda suplementar aos países mais necessitados e, a partir de então, 3% do aumento anual da riqueza mundial para que a pobreza seja vencida. "Esses montantes podem parecer consideráveis, mas são, na realidade, mínimos em relação às riquezas criadas pela globalização e aos US$ 40 trilhões do PNB [Produto Nacional Bruto] mundial", disse.
Uma das propostas do francês é a criação de uma taxa sobre determinadas transações financeiras internacionais para financiar o combate à Aids, principalmente na África. Difere da sugestão de Lula, que defende que esse dinheiro seja usado para combater a pobreza de um modo geral.
Chirac disse que a taxa seria "extremamente baixa" (US$ 1 para cada US$ 10 mil, por exemplo). Segundo ele, essa medida representaria US$ 10 bilhões por ano.
Outra possibilidade, segundo ele, seria que os paraísos fiscais "compensassem uma parte das conseqüências deste sistema de sonegação mundial" por meio de uma taxa sobre os fluxos de capitais estrangeiros.


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