São Paulo, quinta-feira, 27 de janeiro de 2005

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Fórum vê fome como maior problema

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva encontrará um terreno devidamente adubado para sua pregação em favor de um fundo global contra a fome e a pobreza, se voltar ao assunto no encontro do Fórum Econômico Mundial 2005, do qual participa na sexta-feira.
Uma pesquisa instantânea feita ontem com o público de Davos, para determinar quais devem ser as seis prioridades do planeta neste ano, apontou a "pobreza" (combate a ela, claro) como a principal, com 64,4% dos votos.
A segunda escolha tem parentesco: "globalização eqüitativa", com 54,9% dos votos (cada votante deveria escolher seis prioridades). O público de Davos é majoritariamente formado por homens de negócio. A pesquisa de ontem contabilizou exatamente 50% dos votantes como tais.
A votação se deu no marco de uma mudança no formato do encontro este ano. Em vez de mesas redondas, organizou-se o que foi batizado de "town hall meeting" ("encontro na prefeitura"), comum nos Estados Unidos e mundialmente difundido em 2004, em debates entre os candidatos George Walker Bush e John Kerry.
Os participantes receberam uma lista de 12 prioridades para, entre elas, escolher seis. As quatro mais votadas foram todas sociais: além de "pobreza" e "globalização eqüitativa", apareceram "mudança climática" (que não é propriamente social, mas ambiental), com 51,2%, e "educação", com 43,9%. "Educação" não havia sido listada pela organização. Foi incluída pelo público. Completam a lista "Oriente Médio" (43,7%) e "Governança Global" (43,2%).
É curioso que temas econômicos, que deveriam estar no topo da lista dos executivos, tiveram votação bastante baixa. "Economia mundial" recebeu 28,4% dos votos e terminou em nono lugar.
Nos quatro dias restantes do encontro anual, os participantes discutirão, no formato "town hall meeting", "quais iniciativas importam" para enfrentar os problemas prioritários, diz Ged Davis, diretor-gerente do Fórum.
A aparente inclinação para o social de uma reunião da elite global é, no entanto, desmentida por certas escolhas: para apresentar o tema "globalização eqüitativa", foi escalado John Thain, presidente e executivo-chefe da Bolsa de Nova York, espécie de epicentro da globalização em seu aspecto predominante -o financeiro.
Thain fez ardente defesa da globalização, citando que "muitos continuam a ser deixados para trás" (pela globalização). Foi preciso Daniel Vasella, presidente e executivo-chefe da Novartis, laboratório suíço, falar de pobreza para quantificar os "muitos": "Três bilhões de pessoas vivem com menos de US$ 2 por dia".


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