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FINANÇAS MUNICIPAIS
Banco do Brasil está prestes a classificar dívida de R$ 250 milhões como crédito em liquidação
Prefeitura de São Paulo está "quebrada"
OSWALDO BUARIM JR.
FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília
A Prefeitura
de São Paulo está financeiramente inviabilizada e pode ter
uma dívida de
R$ 250 milhões
com o Banco do
Brasil inscrita, nos próximos dias,
como crédito em liquidação, o que
poderá "contaminar" os papéis da
dívida paulistana hoje em poder
do Banco do Brasil e do Banespa.
Crédito em liquidação é um dinheiro que o banco já não tem
mais certeza de que será recebido e
é lançado no balanço como perda.
Segundo o senador Gilberto Miranda (PFL-AM), a cidade tem débitos em atraso com o Banco do
Brasil há mais de 60 dias.
Dados obtidos pela Folha no Senado mostram que a situação financeira da prefeitura está próxima do colapso. Isso só seria evitado se o governo federal concordasse em rolar a dívida paulistana oferecendo condições semelhantes às
concedidas a vários Estados.
O prefeito de São Paulo, Celso
Pitta (PPB), está pedindo a rolagem há mais de seis meses, sem sucesso. Ocorre que a resolução 78
do Senado impede que cidades e
Estados tenham suas dívidas roladas pelo governo se registrarem
déficits primários (quando as receitas são inferiores às despesas,
sem contar gastos com juros).
São Paulo registrou déficits primários em 1996 (R$ 1,4 bilhão) e
em 1997 (R$ 403 milhões). Não há
números definitivos para 98.
A dificuldade financeira de São
Paulo vinha sendo comentada no
Senado e dentro do governo há algum tempo, segundo a Folha apurou. O tema não é abordado em
público para não contaminar o clima ruim que já existe por causa da
desvalorização do real.
Mas ontem o caso se tornou público com um discurso de Miranda, amigo do prefeito Celso Pitta e
do seu antecessor, Paulo Maluf.
O senador apresentou números e
disse que os R$ 250 milhões em
atraso com o Banco do Brasil se referem a parte de uma operação de
R$ 324 milhões de ARO (Antecipação de Receita Orçamentária), realizada por Pitta em dezembro de
97. "A Prefeitura está atrasada em
mais de 60 dias", disse.
Além dessa dívida em atraso, há
mais R$ 410 milhões vencendo em
março, R$ 780 milhões em junho,
R$ 1,5 bilhão em julho e R$ 800 milhões em dezembro. São Paulo não
tem como pagar essas dívidas.
Se a situação de São Paulo não for
resolvida, segundo o senador, haverá um contágio de toda a dívida
da prefeitura que está com o Banco
do Brasil e com o Banespa.
A Folha obteve dados referentes
a essa dívida mobiliária (em títulos) paulistana. São Paulo deve R$
5,592 bilhões ao Banco do Brasil e
R$ 2,556 bilhões ao Banespa. Esses
papéis podem perder o valor se a
prefeitura for classificada como
inadimplente. "O Banespa poderá
ficar com patrimônio negativo e o
Banco do Brasil terá seu patrimônio líquido reduzido em R$ 5 bilhões", disse Miranda.
O senador fez seu discurso na
frente do presidente do Banco
Central, Francisco Lopes. Cobrou
de Lopes uma solução para a dívida da prefeitura. Lopes disse, durante depoimento na Comissão de
Assuntos Econômicos do Senado,
que desconhecia o caso.
Segundo Miranda, "a situação é
muito mais crítica, muito mais dura que a de Minas Gerais", Estado
que suspendeu o pagamento de
sua dívida com a União e detonou
uma crise dos governadores de
oposição com o governo federal.
Segundo os últimos dados que
chegaram ao Senado, só a dívida
decorrente de antecipações de receita chegava a R$ 515 milhões em
março do ano passado, com um
aumento de 333% em 27 meses.
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