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ROMBO
Maior parte do resultado negativo ocorreu no último mês de 1997
Governo erra cálculo das contas públicas em R$ 20 bi
da Sucursal de Brasília
As contas públicas fugiram do
controle do governo e todas as
metas fixadas pela equipe econômica para 97 foram descumpridas.
União, Estados, municípios e estatais tiveram um déficit primário
(gastos acima das receitas, excluindo juros) de 0,67% do PIB
(Produto Interno Bruto, medida
da riqueza nacional), o maior da
década. As despesas superaram as
receitas em R$ 5,998 bilhões.
A maior parte do resultado, desastroso para o governo, ocorreu
em dezembro, quando Estados e
municípios gastaram acima de
suas receitas R$ 5,136 bilhões
-déficit superior ao ano de 96.
Um mês antes, havia sido lançado um pacote que incluiu aumento de impostos e cortes de gastos.
O governo anunciou que redobraria a atenção sobre as contas públicas e reafirmou a meta de obter
um superávit primário de 1,5% do
PIB em 97. Assim, a receita deveria
ter superado a despesa em R$ 13,4
bilhões. Logo, o erro de cálculo
chega a quase R$ 20 bilhões.
Embora o governo aponte Estados e municípios como os grandes
responsáveis pelo déficit (respondem por sua maior parte), a União
é responsável por boa parte do resultado (foi a que mais piorou).
Em 97, as contas federais registraram uma piora de quase 0,4%
do PIB, se comparadas a 96. A
União passou de um superávit de
0,38% do PIB, em 96, para um resultado de 0% do PIB em 97.
Nesse período, Estados e municípios registraram uma deterioração de 0,2% do PIB. O déficit passou de 0,55% para 0,75% do PIB.
Até novembro, Estados e municípios vinham mantendo um déficit de 0,11% do PIB. Em dezembro,
o déficit saltou para 0,75% do PIB.
Em um só mês, comprometeram o
esforço fiscal feito durante o ano.
O mau resultado de dezembro
surpreendeu a equipe econômica,
que apontou o uso do dinheiro das
privatizações como principal responsável pelo déficit. Em 97, Estados e municípios arrecadaram R$
10,981 bilhões com a venda de estatais. Parte da verba foi destinada
a despesas, custeio e investimentos, em vez de abater dívidas.
No caso da União, a explicação
disponível para a piora das contas
é o déficit da Previdência Social,
que foi maior do que o esperado.
Mas até agora faltam explicações
mais detalhadas para o déficit.
Além do descontrole de Estados
e municípios, a partir de novembro as contas públicas começaram
a sofrer pressão do aumento dos
juros. Para estancar a fuga de dólares após a crise asiática, o governo
dobrou a taxa de juros em 30 de
outubro. O objetivo foi dar maior
rendimento para investidores estrangeiros. Isso ajudou a trazer
dólares de volta, mas fez disparar
os gastos com encargos da dívida.
A conta dos juros saltou de R$
3,664 bilhões em outubro para R$
5,046 bilhões em novembro e R$
4,714 bilhões em dezembro -aumento de 37,7% e 28,6% sobre os
encargos com juros que o governo
tinha antes da crise. Com isso, o
déficit nominal (inclui gastos com
juros sem descontar a correção
monetária) saltou de 5,87% do
PIB em 96 para 5,89% do PIB em
97.
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