São Paulo, sexta, 27 de fevereiro de 1998

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Uso de verba de privatização é criticado
Economistas vêem risco para o Real

da Reportagem Local

Os resultados das contas públicas de 97 são "ruins", o "maior risco ao Plano Real" e "inquietantes", principalmente por terem ocorrido num ano de arrecadação fiscal recorde, introdução da CPMF e de congelamento de salários do funcionalismo.
A opinião é dos economistas Odair Abate, diretor de estudos econômicos do Lloyds Bank, Paulo Leme, do banco de investimentos Goldman Sachs, de Nova York, e Antônio Corrêa de Lacerda, membro do Conselho Federal de Economia e estrategista do grupo industrial Siemens.
"Os escorregões fiscais continuam sendo o maior risco à credibilidade do Real", disse Leme. Para ele, é preocupante o potencial dos governadores de usar parte da receita das privatizações em gastos correntes.
"A venda de ativos deveria ser usada estritamente para a redução da dívida pública."
Lacerda e Abate disseram que a situação das contas deve se agravar nesse ano eleitoral, porque a tendência dos governos é abrir os cofres.
Para Lacerda, os resultados mostram que "há um desajuste fiscal muito profundo no Estado brasileiro". Isso porque, afirmou, o governo nunca arrecadou tanto como em 97.
"A carga tributária superou 31% do PIB, o CPMF gerou recursos adicionais, houve elevação das tarifas das estatais e, apesar disso, o governo não equilibrar suas contas."
"O pacote fiscal tinha como objetivo uma economia de R$ 20 bilhões, que é, coincidentemente, a diferença entre o previsto e o realizado em 97."
Para o economista e ex-deputado (PT-SP) Aloizio Mercadante, os resultados mostram um quadro de descontrole fiscal que tende a se agravar em 98, já que a taxa de juros vinha decrescendo em 96 até o governo baixar o pacote fiscal como reação à crise asiática.
Segundo ele, não é justo atribuir o rombo aos Estados e municípios, já que o governo vem retendo receitas das prefeituras e governos por meio do Fundo de Estabilização Fiscal (FEF), além de ter imposto aos Estados perda na arrecadação de ICMS ao isentar as exportações de produtos básicos.



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