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Planalto blinda Dilma e base impede convocação em CPI
Por 14 a 7, aliados poupam ministra de explicar no Congresso suposto dossiê anti-FHC
Lula crê em interesses da oposição de minar chefe da Casa Civil por conta de 2010 e traça operação para negar ligação dela com o episódio
KENNEDY ALENCAR
ANDREZA MATAIS
FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Palácio do Planalto montou ontem uma operação para
blindar a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) no caso do suposto dossiê de gastos da família do ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso (1995-2002) com verbas oficiais.
Enquanto PT e aliados impediram de manhã a convocação
de Dilma para depor na CPI dos
Cartões, o ministro José Múcio
(Relações Institucionais) deu
entrevista à tarde para dizer
que a ministra "não tem absolutamente nada a ver com isso".
O cordão de isolamento em
torno de Dilma foi adotado porque as informações publicadas
pela revista "Veja" saíram de
dentro da Casa Civil e, segundo
a Folha apurou, de uma equipe
de seis pessoas com acesso a
dados sigilosos do governo.
Segundo a revista "Veja", o
dossiê anti-FHC teria sido produzido a partir de dados sigilosos disponíveis na Secretaria
de Controle Interno da Presidência da República, órgão subordinado à ministra.
Dilma determinou na terça-feira a abertura de sindicância
para apurar responsabilidades
pelo vazamento de informações sigilosas da Presidência.
Na avaliação do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, a
oposição tem interesse em minar a chefe da Casa Civil, o que
seria desastroso para o governo. Por ora, discurso e ação são
de que ela é inocente e segue
firme no cargo.
Lula está empenhado em
proteger Dilma, em quem tem
apostado como eventual candidata à sua sucessão em 2010.
Desde o episódio da violação do
sigilo do caseiro Francenildo
Costa, que resultou na queda
de Antonio Palocci Filho do
Ministério da Fazenda em
março de 2006, é a primeira
vez que uma pessoa tão próxima a Lula e tão poderosa no governo é ligada a um escândalo.
A Folha apurou que o Planalto espera que a temperatura
política aumente quando o governo enviar um caminhão à
CPI com dados desde 1998 sobre gastos com cartões corporativos e contas tipo B (despesa justificada por nota ou recibo depois de o servidor receber uma determinada verba).
Para a cúpula do governo,
imprensa e oposição já vasculharam a maior parte dos dados
referentes ao governo Lula
-estão no Portal da Transparência desde 2004, embora
parte dos gastos da Presidência
tenham sido divulgados, segundo o governo, por erro. Já
os dados a partir de 1998 pegam quatro anos de FHC e os
dois primeiros de Lula.
Ou seja, o governo se prepara
para tempos de embate com a
oposição numa CPI que estava
em banho-maria até aqui.
Ontem foram cinco horas de
bate-boca entre governo e oposição até a derrubada do requerimento para Dilma depor na
CPI por 14 a 7 votos. O governo
é maioria na comissão, o que
indica que o placar deve se repetir na votação de pedidos de
abertura dos gastos sigilosos da
Presidência nos anos Lula.
"Decorem o número do placar
daqui para frente", provocou a
deputada Perpétua Almeida
(PC do B-AC).
Disputa na CPI
Para não sofrer nova derrota,
a oposição adiou a votação dos
48 requerimentos de informação que pedem dados reservados de Lula, FHC e familiares,
além de relatórios do TCU (Tribunal de Contas da União), informações de contratos com
Visanet e Redecard, que administram o cartão, e sobre responsáveis pelos gastos, entre
outros. Até agora, a CPI não
aprovou nenhum requerimento de pedido de informação.
Os parlamentares da base
aliada com voto na CPI foram
orientados, por escrito, a vetar
32 dos 48 requerimentos que
pedem quebra de sigilo. O deputado Maurício Quintella
(PR-AL) disse que recebeu o
documento da liderança do governo. "Estou chocado com a
postura truculenta da base",
disse o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN).
"Fizemos um trabalho de grupo, não tem nada de anormal",
respondeu o deputado Carlos
Willian (PTC-PE).
A líder do PT no Senado, Ideli
Salvatti (SC), disse que a ministra não tinha nada a explicar e
acusou a oposição de tentar
constranger Dilma "pelo o que
ela representa hoje e pelo o que
pode representar em 2010" na
sucessão de Lula.
"A oposição quer desacelerar
o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e desqualificar a ministra", acusou o relator, deputado Luiz Sérgio
(PT-RJ). "O deputado deixou
claro que não tem isenção para
ser relator", criticou o deputado ACM Neto (DEM-BA). O
que motivou um contra-ataque: "Não estou aqui para receber aula de quem quer que seja
sobre como ser relator".
Diante do clima, a presidente
da CPI, Marisa Serrano (PSDB-MS), decidiu adiar os depoimentos dos ministros Orlando
Silva (Esporte) e Altemir Gregolin (Pesca) marcados para
hoje, e convocar o general Jorge Félix, do GSI (Gabinete de
Segurança Institucional), para
depor em 8 de abril, quando ele
retorna de férias. "A população
não tem obrigação de ver as coisas que viu aqui hoje [ontem]. A
reunião foi improdutiva, péssima, por isso suspendi a de amanhã [hoje]", disse Marisa.
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