São Paulo, quinta-feira, 27 de abril de 2006

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ELEIÇÕES 2006/PUBLICIDADE SUSPEITA

Banco fez pagamentos de R$ 28 mi em 8 meses quando Alckmin disputou reeleição

Nossa Caixa concentrou gastos em período eleitoral

FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A Nossa Caixa gastou em apenas oito meses, entre março e novembro de 2002, os R$ 28 milhões destinados a campanhas publicitárias que deveriam durar 18 meses, ou seja, até setembro de 2003. A concentração desses desembolsos, constatada pelo relatório do TCE (Tribunal de Contas do Estado), coincide com o período de campanha de reeleição do então governador Geraldo Alckmin.
O promotor de Justiça da Cidadania Sérgio Turra Sobrane, que investiga a suspeita de uso político-eleitoral dos anúncios e patrocínios da Nossa Caixa, vai intimar o presidente do banco, Carlos Eduardo Monteiro, para explicar as despesas de publicidade.
A assessoria do pré-candidato à Presidência da República informou que as explicações sobre os gastos de publicidade em 2002 deveriam ser dadas pelo banco.
A Nossa Caixa informou que "o presidente mandará examinar as ações de marketing de 2002, já que, até o momento, vinha se concentrando no período abrangido pela sindicância interna".
O TCE aponta Monteiro e o ex-diretor de infra-estrutura Odair Ziolli como "autoridades que firmaram os instrumentos", ao julgar a execução dos contratos celebrados com a Full Jazz e a Colucci.
O conselheiro-relator, Eduardo Bittencourt Carvalho, afirmou em seu voto que não está "suficientemente esclarecido o motivo pelo qual houve essa intensa concentração de serviços de publicidade já nos primeiros oito meses de execução". Tal procedimento é "inadmissível", disse o relator.

Outros depoimentos
Sobrane vai intimar o atual diretor jurídico da Nossa Caixa, Daniel Rodrigues Alves, que substituiu Monteiro no cargo. Segundo o TCE, houve graves irregularidades durante e depois de encerrados os prazos de vigência dos contratos, quando os serviços continuaram a ser prestados com base em "ajustes verbais".
"Mesmo não tendo sido celebrados termos de prorrogação e não tendo sido verificada a vantagem da manutenção das relações contratuais", a Nossa Caixa fez pagamentos adicionais de R$ 45,4 milhões às duas agências.
Com base nos fatos revelados pela Folha na edição do último domingo, o promotor pretende ouvir também o ex-presidente Valdery Frota de Albuquerque e seu chefe-de-gabinete, Waldin Rosa de Lima, que trabalhou no banco mesmo sem ter vinculação formal com a Nossa Caixa.
Nos depoimentos que prestou na sindicância do banco e confirmou no Ministério Público, o ex-gerente de marketing Jaime de Castro Júnior fez menção a interferências de Lima nos contratos de publicidade do banco estadual.
Castro Júnior disse que, em julho de 2003, alertou o então chefe-de-gabinete Lima "sobre a necessidade de definição para prorrogação dos contratos que venceriam em setembro de 2003".
A presidente da Full Jazz, Maria Christina de Carvalho Pinto, confirmou em depoimento que Lima participou de algumas reuniões com a agência. "O sr. Waldin [Rosa de Lima], à época, respondia pelo gabinete da presidência e todos os assuntos da área de marketing eram tratados diretamente com ele", afirmou Castro Júnior.
"O volume de expedientes para despachos com a presidência era muito grande. Eram deixados com o sr. Waldin. Ou retornavam sem solução ou ficavam muito tempo para despacho, retornando muitas vezes sem assinatura, com bilhetes", disse o ex-gerente.
A Promotoria investiga os anúncios e patrocínios da Nossa Caixa em eventos e veículos mantidos ou indicados por deputados da base aliada do ex-governador. Para o TCE, os valores pagos não eram adequados e houve "desvio de finalidade" na veiculação de anúncios sem relevância para os objetivos comerciais do banco.


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