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ELEIÇÕES 2006/PUBLICIDADE SUSPEITA
Banco fez pagamentos de R$ 28 mi em 8 meses quando Alckmin disputou reeleição
Nossa Caixa concentrou gastos em período eleitoral
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A Nossa Caixa gastou em apenas oito meses, entre março e novembro de 2002, os R$ 28 milhões
destinados a campanhas publicitárias que deveriam durar 18 meses, ou seja, até setembro de 2003.
A concentração desses desembolsos, constatada pelo relatório do
TCE (Tribunal de Contas do Estado), coincide com o período de
campanha de reeleição do então
governador Geraldo Alckmin.
O promotor de Justiça da Cidadania Sérgio Turra Sobrane, que
investiga a suspeita de uso político-eleitoral dos anúncios e patrocínios da Nossa Caixa, vai intimar
o presidente do banco, Carlos
Eduardo Monteiro, para explicar
as despesas de publicidade.
A assessoria do pré-candidato à
Presidência da República informou que as explicações sobre os
gastos de publicidade em 2002 deveriam ser dadas pelo banco.
A Nossa Caixa informou que "o
presidente mandará examinar as
ações de marketing de 2002, já
que, até o momento, vinha se concentrando no período abrangido
pela sindicância interna".
O TCE aponta Monteiro e o ex-diretor de infra-estrutura Odair
Ziolli como "autoridades que firmaram os instrumentos", ao julgar a execução dos contratos celebrados com a Full Jazz e a Colucci.
O conselheiro-relator, Eduardo
Bittencourt Carvalho, afirmou em
seu voto que não está "suficientemente esclarecido o motivo pelo
qual houve essa intensa concentração de serviços de publicidade
já nos primeiros oito meses de
execução". Tal procedimento é
"inadmissível", disse o relator.
Outros depoimentos
Sobrane vai intimar o atual diretor jurídico da Nossa Caixa, Daniel Rodrigues Alves, que substituiu Monteiro no cargo. Segundo
o TCE, houve graves irregularidades durante e depois de encerrados os prazos de vigência dos contratos, quando os serviços continuaram a ser prestados com base
em "ajustes verbais".
"Mesmo não tendo sido celebrados termos de prorrogação e
não tendo sido verificada a vantagem
da manutenção das relações contratuais", a Nossa Caixa fez pagamentos adicionais de R$ 45,4 milhões às duas agências.
Com base nos fatos revelados
pela Folha na edição do último
domingo, o promotor pretende
ouvir também o ex-presidente
Valdery Frota de Albuquerque e
seu chefe-de-gabinete, Waldin
Rosa de Lima, que trabalhou no
banco mesmo sem ter vinculação
formal com a Nossa Caixa.
Nos depoimentos que prestou
na sindicância do banco e confirmou no Ministério Público, o ex-gerente de marketing Jaime de
Castro Júnior fez menção a interferências de Lima nos contratos
de publicidade do banco estadual.
Castro Júnior disse que, em julho de 2003, alertou o então chefe-de-gabinete Lima "sobre a necessidade de definição para prorrogação dos contratos que venceriam em setembro de 2003".
A presidente da Full Jazz, Maria
Christina de Carvalho Pinto, confirmou em depoimento que Lima
participou de algumas reuniões
com a agência. "O sr. Waldin [Rosa de Lima], à época, respondia
pelo gabinete da presidência e todos os assuntos da área de marketing eram tratados diretamente
com ele", afirmou Castro Júnior.
"O volume de expedientes para
despachos com a presidência era
muito grande. Eram deixados
com o sr. Waldin. Ou retornavam
sem solução ou ficavam muito
tempo para despacho, retornando muitas vezes sem assinatura,
com bilhetes", disse o ex-gerente.
A Promotoria investiga os
anúncios e patrocínios da Nossa
Caixa em eventos e veículos mantidos ou indicados por deputados
da base aliada do ex-governador.
Para o TCE, os valores pagos não
eram adequados e houve "desvio
de finalidade" na veiculação de
anúncios sem relevância para os
objetivos comerciais do banco.
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