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Doleiros que agem em SP operam do Uruguai, aponta PF
Manobra ilegal visa driblar controle mais rigoroso sobre operações financeiras no Brasil, que depende de vizinho para reprimir delitos
Nova geração de doleiros prefere atender a poucos clientes grandes só para reduzir o risco de exposição a interceptações, diz polícia
FLÁVIO FERREIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Investigações da Polícia Federal indicam que cerca de 90%
dos doleiros que agem atualmente no Estado de São Paulo
realizam suas operações a partir de pequenas salas ou casas
no Uruguai e mantêm escritórios e funcionários no Brasil
apenas para receber e entregar
valores a seus clientes.
Segundo a PF, os doleiros fixaram-se no Uruguai porque
naquele país o controle sobre
operações financeiras é menos
rigoroso que no Brasil.
Procuradores da República
também apontam que a "nova
geração" de doleiros está
atuando apenas para poucos
clientes que, porém, movimentam altas quantias de dinheiro.
Essas estratégias buscam diminuir o número de transações
e comunicações para reduzir a
exposição a interceptações da
PF, sem, no entanto, reduzir a
lucratividade dos negócios.
A maior parte da remuneração dos doleiros resulta de comissões de 0,5% a 1% e da variação das taxas de câmbio calculadas sobre suas transações.
O uso de empresas e esquemas ilegais no Uruguai por doleiros brasileiros não é novidade. O que mudou é que eles passaram a montar seus "escritórios centrais" naquele país.
O delegado Ricardo Saadi,
chefe da Delegacia de Combate
a Crimes Financeiros da Superintendência da PF em São
Paulo, diz que, "do Uruguai, os
doleiros mantêm contatos com
seus clientes e somente as liquidações dos negócios é que
estão sendo feitas no Brasil".
Segundo Saadi, tal situação
leva a PF a depender mais da
cooperação do Uruguai para reprimir os delitos. "A colaboração [das autoridades uruguaias] é similar à de países que
são paraísos fiscais. Para que
ela ocorra, é necessária a comprovação de que as remessas de
valores tiveram origem no tráfico de drogas ou em corrupção,
dentre outros crimes", afirma.
O delegado da PF Rodrigo
Carvalho diz que os criminosos
também criaram um novo elo
na cadeia de seus negócios. Empresas não financeiras, com atividade lícita e operação normal, como uma fábrica de chocolate ou uma confecção no
bairro Bom Retiro, por exemplo, estão servindo de ponte para os contatos entre as "sedes"
dos doleiros no Uruguai e suas
"filiais" no Brasil.
A comunicação por e-mail ou
telefone do doleiro com o Brasil
é feita somente com essas pequenas empresas. A partir daí,
as instruções de entrega ou recebimento de valores são gravadas em CDs ou DVDs e levadas aos escritórios dos doleiros
no Brasil por motoboys.
"Essa tática tem como objetivo evitar que a polícia descubra,
por meio de interceptações, a
localização do escritório onde
fica o dinheiro das operações
ilícitas", segundo Carvalho.
O procurador da República
Silvio de Oliveira cita o doleiro
Antonio Oliveira Claramunt, o
Toninho da Barcelona, preso
desde 2004, para dar um exemplo de uma conduta abandonada pelos principais doleiros.
Oliveira afirma que Toninho
operava com outros 20 doleiros, o que o deixava muito vulnerável aos grampos da PF.
"Antes, a partir da interceptação de um doleiro "pequeno",
era fácil chegar àqueles com
maior volume de operações.
Em razão da atuação das autoridades, os doleiros ficaram
mais cautelosos e acabaram
preferindo trabalhar de uma
maneira mais seletiva", afirma.
Segundo a procuradora da
República Anamara Silva, essa
nova característica tem um aspecto positivo. "Esse tipo de "fidelização" na atuação dos doleiros permite que os clientes
deles sejam identificados com
mais facilidade pelas autoridades", diz a procuradora.
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