São Paulo, Quinta-feira, 27 de Maio de 1999
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Partidos aliados de FHC se unem para evitar investigação do leilão da Telebrás
Governo barra tentativa da oposição de instalar CPI

LUCAS FIGUEIREDO
da Sucursal de Brasília

As tentativas da oposição de criar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar a privatização do Sistema Telebrás e de abrir processo de impeachment do presidente Fernando Henrique Cardoso estão sendo sufocadas pela base governista no Congresso.
Ao contrário de outras ocasiões, em que se desentenderam, os aliados estão coesos em defender FHC e abafar a repercussão das novas conversas grampeadas relativas à privatização da Telebrás.
Ao apoiar o presidente, porém, PFL e PMDB fizeram chegar a FHC que não aceitarão uma possível volta do ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros (Comunicações) ao governo.
A oposição tenta criar a CPI e abrir o processo de impeachment depois que a Folha publicou anteontem transcrição da conversa telefônica gravada entre FHC e o então presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), André Lara Resende. Na conversa, FHC autoriza Lara Resende a usar seu nome para pressionar o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil a entrar em um dos consórcios participantes do leilão.
Até ontem à noite, a oposição não havia conseguido o apoio de um terço dos senadores (27) e dos deputados (171), requisito para a instauração da CPI mista da Câmara e do Senado. Deputados governistas estão sendo incitados pelos líderes de seus partidos a não assinarem o pedido da oposição.
"Aqui somos minoria. Reconheço que está difícil. Estamos enfrentando a "operação abafa" do governo", afirmou o líder do PT na Câmara, José Genoino (SP).
Ontem, antes de receber a acusação por crime de responsabilidade contra FHC, primeiro passo para o processo de impeachment, Temer disse que considera a representação "prematura e exagerada".
O presidente da Câmara não tem prazo para se pronunciar sobre a representação feita pelo PT, PSB, PDT e PC do B, mas tende a rejeitá-la. Restará então à oposição recorrer ao plenário, onde o governo tem maioria folgada.
A oposição realizou ontem ato político na Câmara antes de entregar a Temer a representação contra FHC, mas só conseguiu reunir cerca de 50 parlamentares.
De acordo com Genoino, "sem a mobilização popular, não saem a CPI e o processo de impeachment". O deputado disse que, "se estão querendo abafar, é porque existe algo a esconder".
Com a perspectiva de derrota no Congresso, a oposição vai tentar apoio popular para a criação da CPI, colhendo assinaturas nas ruas. O primeiro ato será na próxima semana, em Brasília.
A oposição não está conseguindo sequer apoio para convocar autoridades para explicar as manobras em torno do leilão da Telebrás.
Ontem, foi rejeitado requerimento para convocar dois ex-presidentes do BNDES -Luiz Carlos Mendonça de Barros (que também foi ministro das Comunicações) e Lara Resende- e o atual ocupante do cargo, Pio Borges.


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