São Paulo, quarta-feira, 27 de junho de 2001

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REFORMA NO ESCURO

Sem festa, Planalto lança medidas tributárias e contra o apagão para salvar final de mandato de FHC

Pacote embala aniversário tímido do Real

MARTA SALOMON
SECRETÁRIA DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Plano Real completa sete anos no domingo sem festa de comemoração. A antevéspera do aniversário será marcada pelo anúncio de medidas destinadas a salvar o plano que deu ao presidente Fernando Henrique Cardoso dois mandatos presidenciais consecutivos. Garantir um final de mandato razoável é tido no Planalto como condição necessária para FHC tentar eleger o sucessor em 2002.
Na sexta-feira, FHC anuncia investimentos para evitar que haja racionamento de energia no ano que vem, em plena vigência da campanha eleitoral. No mesmo dia, mandará ao Congresso um pacote tributário que tem entre suas propostas a prorrogação por mais dois anos a cobrança da CPMF, que só está autorizada até junho de 2002.
Sem o dinheiro arrecadado com a contribuição, FHC terá dificuldades adicionais para manter o equilíbrio das contas públicas. Além disso, correrá o risco de terminar o mandato com uma dívida social constrangedora -ponto vulnerável de seu mandato.
Sem o chamado imposto do cheque, faltarão R$ 9 bilhões para financiar gastos sociais na reta final do mandato de FHC. A taxa, denominada até agora provisória, vem sendo renovada desde o início do governo FHC e rende R$ 18 bilhões por ano.

Interesse comum
Apesar da polêmica que os detalhes da proposta vem provocando, inclusive no governo, a prorrogação da CPMF deve ser aprovada com o apoio da oposição, que também vai precisar desses recursos para governar caso vença a eleição presidencial do próximo ano.
Se o programa de obras de geração de energia que o presidente vai anunciar na sexta não der certo, crescerão os riscos de novos racionamentos de energia. Neste ano, o racionamento será responsável pela queda no PIB (Produto Interno Bruto) e por uma das maiores quedas na popularidade presidencial.
Até agora, o governo prometeu aumentar a oferta de energia em 5.000 megawatts por ano até 2003, mas não disse como. Ontem, FHC insistiu em que não pretende deixar o problema como herança para o sucessor.
O anúncio pode não resolver o problema. O plano de obras para evitar apagões em 2002 e 2003 pode não sair do papel, segundo dados da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).
Quase 60% da energia que o governo espera gerar com termelétricas nos dois próximos anos depende de obras com atrasos em seus cronogramas e pendências a serem resolvidas.

Parabéns a você
Para não dizer que o aniversário do Real passará em branco, a secretaria de Comunicação prepara uma publicação com o balanço dos sete anos do plano lançado durante a primeira campanha de FHC ao Planalto.
O texto ainda está sendo escrito, mas já dedica um capítulo à explicação da crise energética. O governo não reconhece oficialmente que a crise se deve à falta de investimentos no setor.
O documento também chamará a atenção para os investimentos sociais do governo, apesar de dados oficiais contabilizarem a existência de 52,7 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza. Desse total, 22 milhões são considerados indigentes.
Diferentemente dos anos anteriores, quando as publicações referentes aos aniversários do Plano Real circularam com uma média de 15.000 exemplares, desta vez o documento deverá ser encartado em revistas de circulação nacional. A proposta estava sendo analisada ontem no governo.



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